Fracionamento químico de fósforo em sedimentos de fundo do sistema Tietê-Pinheiros, SP

Ivone Silveira da Silva (PG) e Jorge Cesar Masini (PQ)

Instituto de Química – Universidade de São Paulo

‘palavras-chave’: fósforo, sedimentos, reservatórios

INTRODUÇÃO

O fósforo tem sido intensamente estudado nos ambientes aquáticos, como reflexo dos problemas surgidos nas últimas décadas devido às cargas excessivas de esgotos domésticos e industriais produzidos em áreas urbanas. Estes esgotos são lançados diretamente em rios, lagos ou reservatórios, causando a aceleração da fertilização de águas naturais com o aumento da produtividade primária (1).

As condições ambientais predominantes no corpo d’água regulam a retenção ou a liberação de fósforo dos sedimentos de fundo para a coluna d’água. Assim sendo, a determinação da relação entre composição do sedimento e fosfato ligado é necessária para que se possa avaliar o potencial dos sedimentos em liberar fósforo para a fase aquosa (2).

Os esquemas de extração seqüencial ou fracionamento químico supõem a remoção seletiva de fósforo de diferentes componentes dos sedimentos, na qual a separação das frações de fósforo pode ser induzida por tratamentos com água, ácidos, bases, sais, substâncias redutoras, oxidantes ou complexantes (2, 3).

OBJETIVO

Avaliar o comportamento geoquímico do P em sedimentos de fundo do sistema Tietê-Pinheiros através de métodos de extração simples e seqüencial.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram selecionados para o presente estudo quatro estações de amostragem no trecho que compreende o sistema Tietê-Pinheiros, sendo duas no reservatório Billings (ambas no corpo central; B1, a cerca de 1 km da Usina Elevatória de Pedreira (UEP) e B2, a aproximadamente 3 km da UEP), uma no reservatório de Pirapora (P1, a montante da barragem de Pirapora) e uma no reservatório de Rasgão (P2, na saída do município de Pirapora do Bom Jesus).

Os sedimentos de fundo foram amostrados no período entre fevereiro e março de 1998, utilizando-se um amostrador tipo gravidade. As amostras foram isoladas em tubos de acrílico para evitar contato com o ar. Para isto, a água de contato à camada superficial de sedimento foi também amostrada. Em laboratório, processou-se o tratamento das amostras em um “glove-box” sob atmosfera de nitrogênio.

Foi utilizado o procedimento de extração seqüencial proposto por Ure et al., que consistiu de três etapas, sendo as duas primeiras realizadas em condições de anoxia (4). Os sedimentos foram tratados com ácido acético 0,11 mol L-1 (1a etapa), hidroxilamina 0,1 mol L-1 (2a etapa), peróxido de hidrogênio 8,8 mol L-1 e acetato de amônio 1 mol L-1 (3a etapa). Uma 4a etapa foi introduzida para obtenção da fração residual, através do tratamento das amostras com ácido nítrico concentrado (5). Os extratos foram obtidos por agitação e posterior centrifugação e os resultados expressos em peso seco de sedimento.

As mesmas amostras foram também submetidas a um tratamento com ácido clorídrico 0,1 mol L-1 sob agitação por duas horas em duas condições diferentes: (i) mantendo a amostra úmida e anóxica no “glove-box” com atmosfera de N2 e (ii) depois da secagem da amostra ao ar e à temperatura ambiente. Para a determinação da concentração de fósforo total em cada amostra foi aplicado o método proposto por Andersen (6).

As determinações de fósforo (P-PO43-) foram realizadas conforme a metodologia descrita pela APHA, utilizando-se o método espectrofotométrico do azul de molibdênio, que apresenta intensa absortividade a 880nm (7).

RESULTADOS

Os resultados obtidos são apresentados na tabela 1 a seguir.

Tabela 1: Valores de concentração de fósforo (P-PO43-) expressos em mg/kg. Resultados de determinações em duplicata para os extratos obtidos.

Amostra

P-ácido acético (1a etapa)

P- hidro-xilamina (2a etapa)

P- H2O2/ NH4Ac (3a etapa)

P- HNO3 (4a etapa)

P-

å etapa 1 a 4

P- abertura total

P- HCl amostra seca

P- HCl amostra bruta

B1

8±1

417±15

471±39

1604±35

2499±10

3300±426

637

1220±120

B2

16±4

1246±49

820±120

2402±291

4483±118

4214±506

1344±93

1624±398

P1

15±2

104±3

220

1068

1407

5320±849

262±78

458±33

P2

6±0

544±17

448±47

1214±65

2212±35

4016±1250

1437±402

1660±60

CONCLUSÕES

· A somatória das frações em relação a abertura total, indicou que o método de extração seqüencial utilizado não foi eficiente para a remoção de todo o P presente nos sedimentos, em especial, nas amostras P1 e P2 (este pode ter sido retido na fração residual), que provavelmente parecem representar sedimentos menos reativos em comparação aqueles do reservatório Billings (B1 e B2);

· O fósforo foi determinado, em sua maior parte, na fração residual, onde também foram verificadas concentrações elevadas de ferro e alumínio (8). Estes resultados corroboram com os estudos de Silva (9) que constatou que uma significativa parte do P presente em sedimentos de Pirapora e Rasgão associavam-se ao Fe e ao Al;

· Fica indicado, a princípio, que o P presente nos ambientes estudados, tem um potencial de mobilidade considerável, pois as amostras tratadas com HCl sob condições de anoxia liberaram mais P em relação àquelas oxidadas, uma vez que, também, nestes ambientes, o oxigênio dissolvido é escasso (8).

BIBLIOGRAFIA

1. Lee, G.F.; Rast, W.; Jones, R.A., Environmental Science & Technology, 12 (8): 900-908 (1978).

2. Danen-Louwerse, H.; Lijklema, L.; Coenraats, M., Hydrobiologia, 253: 311-317 (1993).

3. Pettersson, K.; Boström, B.; Jacobsen, O.S., Hydrobiologia, 170: 91-101 (1988).

4. Ure, A.; Quevauviller, Ph.; Muntau, H.; Griepink, B., Int. J. Environ. Anal. Chem.,51:135-151 (1993).

5. Kersten & Förstner, Water Sci. Technol., 18: 121-130 (1986).

6. ANDERSEN, J.M., Water Research, 10, 329-331 (1976).

7. American Public Health Association – APHA, Standard Methods, 19th ed. (1995).

8. Silva, I.S.; Masini, J.C.; Abate, G. 3rd International Symposium on Environmental Geochemistry in Tropical Countries, Nova Friburgo – RJ (1999).

9. Silva, I.S., Dissertação de Mestrado apresentada no Inst. Geociências, USP, SP (1996).

FAPESP