ESTUDO DAS INTERAÇÕES ENTRE ENZIMAS E POLÍMEROS
Sabrina Montero Pancera (IC)1 e Denise Freitas Siqueira Petri (PQ)1
1.Instituto de Química da Universidade de São Paulo
Introdução: Há um grande interesse em imobilizar enzimas seletivamente para o desenvolvimento de biosensores1, fases estacionárias cromatográficas e tensoativos. As poucas referências bibliográficas1-2 encontradas mostram a utilização da enzima creatina fosfoquinase(CPK) imobilizada em eletrodos de amônia2.
Por esta razão estudou-se neste trabalho a adsorção de CPK a partir de soluções diluídas sobre superfícies sólidas através de elipsometria e medidas de molhabilidade.
Objetivos: Investigar a imobilização da CPK sobre superfícies sólidas hidrofílicas e hidrofóbicas.
Métodos:
Através de reações de silanização e de revestimento rotacional prepararam-se os substratos. Ensaios de adsorção: Após recobertas ou silanizadas as lâminas foram caracterizadas por elipsometria e ângulo de contato e deixadas em contato com uma solução de CPK em tris-HCl (C=1,0 mg/mL) por 16 horas a 25ºC. Nesse trabalho os ângulos de contato foram medidos diretamente através da fotografia da gota de água depositada sobre a lâmina em estudo. O ângulo de avanço (qa) corresponde ao ângulo formado por uma gota de 4mL com a superfície em estudo e para o ângulo de recesso (qr) retira-se cuidadosamente 2mL desta gota, fotografando-se novamente o sistema. A histerese do ângulo de contato Dq é dado pela diferença entre qa e qr e informa sobre a rugosidade e a heterogeneidade química da superfície em estudo. As medidas elipsométricas foram feitas com ângulo de incidência a 70,0o e radiação de 632,8 nm.
Resultados: As espessuras(d) e índices de refração(n) obtidos por elipsometria, ângulos de avanço (qa) e recesso (qr) e variação dos ângulos de contato(Dq) antes e após a adsorção da enzima seguem abaixo nas tabelas 1 e 2 respectivamente.
Pode-se notar que a enzima CPK adsorve mais na superfície revestida por PVC (maior d), o que pode significar uma afinidade da enzima pelos hidrogênios ácidos presentes no PVC. A interação da enzima com a superfície de PMMA e de APS também foi acentuada, percebe-se então uma interação preferencial da enzima em questão com superfícies polares. Estas interações provavelmente superam as interações hidrofóbicas3 uma vez que a afinidade pela superfície de PS não foi a maior.
Comparando-se os valores de Dq das superfícies antes e depois do contato com a enzima nota-se um aumento muito grande que pode ser devido à adsorção da enzima em agregados, deixando a superfície mais rugosa. O fenômeno de cooperativismo é conhecido para sistemas envolvendo enzimas, o qual leva à formação de agregados sobre a superfície4. Estudos de cinética de adsorção estão sendo feitos para o presente sistema.
Amostra |
d (nm) |
n |
qa (º) |
qr (º) |
Dq = qa -qr |
APS* |
(1,9 ± 0,1) |
1,424 |
(53 ±3) |
(33 ±3) |
20 |
Poliestireno |
(61 ± 4) |
(1,57±0,02) |
(88±1) |
(83±4) |
5 |
Polimetacrilato de metila |
(46,5 ± 4,9) |
(1,41±0,08) |
(69±3) |
(64±3) |
5 |
Policloreto de vinila |
(28,6 ± 1,75) |
(2,24±0,07) |
(64±7) |
(48±6) |
16 |
PS+PMMA(50%) |
(69 ± 2) |
(1,54±0,02) |
(78,5 ± 0,5) |
(73,0±0,5) |
5,5 |
PVC+PMMA(50%) |
(82 ± 5) |
(1,49±0,02) |
(68 ± 8) |
(59 ± 5) |
9 |
Tabela1: Espessuras (d), índices de refração (n), ângulos de avanço (qa) e recesso (qr) e variação dos ângulos de contato (Dq) antes da adsorção da enzima.* Superfície funcionalizada com grupos amina primária.
Amostra |
d (nm) |
n |
qa (º) |
qr (º) |
Dq = qa -qr |
APS/CPK |
(42 ± 3) |
1,5 |
(78±6) |
(46±2) |
32 |
PS/CPK |
(30 ± 3) |
(1,61±0,05) |
(68 ± 2) |
(36,2±0,9) |
31,8 |
PMMA/CPK |
(42 ± 6) |
1,5 |
(60±1) |
(29±1) |
31 |
PVC/CPK |
(52±1) |
1,5 |
(68±1) |
(32 ± 2) |
36 |
PS+PMMA(50%)/CPK |
(29±6) |
1,5 |
(60,9 ± 0,8) |
(40±2) |
20,9 |
PVC+PMMA(50%)/CPK |
(36±2) |
1,5 |
(75,75±0,07) |
(62 ± 1) |
13,75 |
Tabela 2: Espessuras (d), índices de refração (n), ângulos de avanço (qa) e recesso (qr) e variação dos ângulos de contato (Dq) após adsorção da enzima.
A enzima CPK mostrou uma maior afinidade por superfícies polares. Verificou-se a possível formação de agregados de enzima nas superfícies estudadas, as quais serão estudadas por técnicas de microscopia.
Eggins, B.; Biosensors: An Introduction, John Wiley & Sons, (1996) pág.169.
Khan, G. F.; Wernet, Wolfgang, A highly sensitive amperometric creatinine sensor. Anal. Chim. Acta 351(1-3) (1997), pág.151-158.
Sigal, G. B.; Mrksich, M.; Whitesides, G. M.; Effect of surface wettability on the adsorption of proteins and detergents, J. Am. Chem. Soc. 120 (1998), pág.3464-3473.
Petri, D.F.S.; Choi, S.W.; Beyer, H.; Schimmel, T.; Bruns, M.; Wenz, G. Synthesis of a cellulose thiosulfate and its immobilization on gold surfaces. Polymer 40 (1999), pág. 1593-1601.
FAPESP e CNPq