Prof. Antonio Celso Spínola Costa - IQ - UFBA

A Química Analítica na próxima década: Perspectivas
 
     Até o final da primeira metade deste século a Análise Química se baseava, principalmente, na observação visual e nas medidas de massa e volume relacionados com os sistemas químicos em estudo. Com a grande revolução tecnológica que vem marcando as últimas décadas deste século, a Química Analítica foi profundamente abalada, e já em 1962 Liebhafsky (1) alertava que “like it or not, chemistry is going out of Analytical Chemistry”. Este distanciamento aparente entre o Químico Analítico e o Problema Analítico, levou-nos a um período difícil em que a Química Analítica foi esvasiada nas universidades do primeiro mundo. Hoje se reconhece que há uma forte interdependência da Química Analítica não apenas com a Química como um todo, mas também com a Física. Assim é que a Química Analítica é considerada como “a disciplina científica que desenvolve e aplica Métodos, Instrumentos e Estratégias para obter informações sobre a composição e a natureza da matéria no espaço e no tempo” (2). Com esta definição estabelece-se um forte vínculo entre a Análise Química e o sujeito desta Análise ou seja o Problema. Na próxima década, os quatro grandes pilares da Química Analítica: Espectroscopia, Cromatografia, Sensores e Quimiometria deverão continuar a sua evolução e novas soluções deverão surgir para atender os grandes desafios, dentre os quais destacamos: a obtenção de informações analíticas em tempo real; a determinação de quantidades cada vez menores de analitos (ultra-traços); maiores informações sobre a estrutura de materiais e a detecção e determinação de espécies transientes ou instáveis. Para isto é necessário o desenvolvimento de métodos que permitam determinar um número crescente de componentes, em menor tempo e custo, com melhores limites de determinação e maior confiabilidade dos resultados.
     Para que estes problemas venham a ser realmente atendidos é indispensável que, além do progresso dos instrumentos e metodologias, os recursos humanos estejam disponíveis com a competência que lhes permitam participar efetivamente da definição dos Problemas e estabelecer estratégias e objetivos, com flexibilidade e criatividade, para resolvê-los. Para que isto aconteça é necessário uma grande reformulação dos currículos e laboratórios de ensino, destacando-se o Problema e sua solução e procurando desenvolver uma sólida formação baseada nos princípios científicos da Química Analítica e promovendo uma competência para o planejamento, execução e interpretação dos resultados analíticos, dentro de uma realidade interdisciplinar e multidisciplinar.

(1)  - H. A. Liebhafsky. “Modern Analytical Chemistry. A Subjective view”. Anal. Chem. 34(07) 23A (1962).
(2)  - R. Kellner. “Education of Analytical Chemists in Europe”. Anal. Chem. 66(2) 99A(1994).

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