As discussões envolvendo
o ensino e aprendizagem em Química, principalmente a utilidade (inutilidade)
do conhecimento químico para o cidadão não-químico,
datam dos anos 60. Nessas discussões, é persistente a idéia
da formação do pensamento químico junto aos indivíduos,
ora com base na experimentação, ora com base na ênfase
em princípios químicos, como práticas capazes de superar
a ênfase anterior na química descritiva dos fatos. O papel
do professor e sua participação nesse contexto de mudança
do enfoque da educação química é mais recente
aqui no Brasil, aparecendo os primeiros trabalhos na década de 80,
nos quais é questionado, principalmente, o baixo nível da
aprendizagem manifestada pelos alunos da escola secundária.
Esses primeiros trabalho coincidem
com a criação da SBQ e os espaços abertos para os
debates em Educação Química, através dos Encontros
Regionais e Nacionais de professores de química. As preocupações
com a formação dos professores de química, ainda restrita
à formação dos professores do ensino médio,
são mais recentes e, até agora, houve pouca preocupação
com a formação dos professores universitários de química,
como se nesse âmbito não houvessem mais problemas sérios
de ensino e aprendizagem em química.
Nos últimos 30-40
anos, houve grandes avanços, tanto na ciência química
como no conhecimento pedagógico para constituí-la junto aos
sujeitos, e isto não se refletiu, de maneira contundente, nos programas
de ensino de química. Permanecem no senso comum não refletido
o que seja um programa de ensino introdutório de química
na educação básica, o ensino de química para
profissionais não-químicos, a educação química
para professores do ensino médio, a função do ensino
experimental na formação do pensamento químico, etc.
O senso comum consolida-se junto à comunidade dos químicos
e impõe-se como verdade à medida em que não há
suficiente reflexão e pesquisa educacional que mostrem os graves
problemas de aprendizagem e de concepção químicas
junto aos alunos de todos os níveis e em como superá-los.
A superação dessa situação tornar-se-á
possível quando se criarem as condições de ruptura
com aquilo que se aceita tacitamente ser um programa de ensino de química,
tanto introdutório quando de formação dos químicos
e dos professores de química para todos os níveis escolares.
A pesquisa, buscada e apoiada dentro da própria comunidade, através
do fazer diário da educação química, poderá
criar as condições de ruptura. Para isso defendemos a necessária
conjugação do ensino e da pesquisa, como um programa de auto-formação
individual de cada professor, apoiado por uma comunidade crescente e consolidada
de educadores químicos.