SBQ - BIÊNIO (2000/2002) BOLETIM ELETRÔNICO No. 312




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Colegas da SBQ,
Desejamos um excelente feriado a todos!

Veja nesta edição:

  1. CNPq torna currículo Lattes compulsório para bolsistas
  2. Concurso Público para Professor Adjunto na Área de Físico-Química do Departamento de Química da UFRuralRJ
  3. Concursos para docentes na UFPR
  4. SBPC/SC e Fórum Catarinense de C&T pedem ao governador que retire da Assembléia Legislativa o projeto sobre reforma do sistema de C&T no estado, para permitir maior discussão pela comunidade /a>
  5. Elio Gaspari: O único banco que não dá certo é o de teses: Um desastre ecológico com as teses de doutorado e dissertações de mestrado/a>
  6. Ciência e cientistas, artigo de Ulysses P. Albuquerque: O importante é repensar nossos paradigmas, a maneira de ver, sentir e usar a ciência


1. CNPq TORNA CURRÍCULO LATTES COMPULSÓRIO PARA BOLSISTAS

O CNPq anunciou que, a partir de 2002, todos os bolsistas de pesquisa, mestrado, doutorado e iniciação científica, orientadores credenciados e outros clientes do CNPq deverão ter um currículo cadastrado. A inexistência do currículo impedirá pagamentos e renovações.

Com o lançamento da versão 5.0 do Diretório dos Grupos de Pesquisa, todos os pesquisadores e estudantes que participarem dos grupos terão que ter, compulsoriamente, um currículo Lattes no CNPq. Atualmente a base de currículos Lattes já possui mais de 110.000 currículos cadastrados.

O CNPq espera que os novos estudantes que forem se engajando no trabalho de pesquisa desde logo preencham seu currículo e o enviem ao CNPq. A coleta de dados da versão 5.0 terá início em 04 de março de 2002. As orientações necessárias serão amplamente divulgadas.

Desde já, o CNPq recomenda aos pesquisadores e estudantes que mantenham seus currículos Lattes atualizados.

Maiores informações podem ser obtidas no sítio eletrônico do Diretório Lattes: http://lattes.cnpq.br:8888/plataformalattes/index.jsp




2. CONCURSO PÚBLICO PARA PROFESSOR ADJUNTO NA ÁREA DE FÍSICO-QUÍMICA DO DEPARTAMENTO DE QUÍMICA DA UFRURALRJ

As inscrições encontram-se abertas até 01/03/02.

Para maiores informações entrar em contato com a Divisão de Seleção e Aperfeiçoamento do DP, sala 14 do Prédio Principal, tel. (0xx21) 2682-1220 ramal 328 ou (0xx21) 2682-1059; ou ainda no site www.ufrrj.br/concur.




3. CONCURSOS PARA DOCENTES NA UFPR

Estão abertas até 22/02/2002 as inscrições aos concursos públicos para a contratação de professores da carreira de magistério superior na Universidade Federal do Paraná (UFPR), nas áreas de conhecimento abaixo mencionadas e outras.

Os editais e outras informações estão disponíveis na internet em http://www.prhae.ufpr.br/doc/tabela.htm

  • Bioquímica:Bioquímica
  • Titulação: Doutorado em Bioquímica ou em Biologia Molecular ou em Biofísica
  • Vagas: 04
  • Processos Bioquímicos: Processos Fermentativos, Enzimáticos e de Cultura de Tecidos
  • Titulação: Graduação em Engenharia Química ou Engenharia Bioquímica ou Engenharia de Bioprocessos, com Doutorado em Processos Bioquímicos ou Processos Biotecnológicos ou Biotecnologia Industrial ou Engenharia Enzimática ou Engenharia Bioquímica
  • Vagas: 02
  • Química: Oceanografia Química, com ênfase em Poluição de Ambientes Marinhos
  • Titulação: Título de Doutor, ou equivalente, em Oceanografia ou Química ou Ciências ou áreas afins
  • Vagas: 01

Fonte: Prof. Claudio A. Tonegutti
Departamento de Química - UFPR




4. SBPC/SC E FÓRUM CATARINENSE DE C&T PEDEM AO GOVERNADOR QUE RETIRE DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA O PROJETO SOBRE REFORMA DO SISTEMA DE C&T NO ESTADO, PARA PERMITIR MAIOR DISCUSSÃO PELA COMUNIDADE

A carta enviada em 31/1 ao governador Espiridião Amin, é assinada por Silvio Coelho dos Santos, secretário regional da SBPC [fone: (48) 3319588], bem como por Faruk José Nome (e-mail: forumcct@forumcct.rct-sc.br; fone: 3319219 R. 229) e Jean-Marie Farines (e-mail: forumcct@forumcct.rct-sc.br; fone: 3317690), em nome do Fórum Catarinense de C&T.

Eis a íntegra da carta:

“A comunidade científica de Santa Catarina, através de suas associações devidamente representadas pela Secretaria Regional da SBPC e pelo recém criado Fórum Catarinense de C&T, manifesta a V. Exa. sua preocupação quanto ao futuro imediato do Sistema Estadual de C&T, considerando:

que a exposição de motivos sobre o Programa de Desenvolvimento Sustentável em C&T para Santa Catarina, encaminhada a V. Exa. pelo diretor geral da Funcitec, prof. Honorato Tomelin, não foi previamente discutida pelo Conselho Superior daquela Fundação.

Como sabe V. Exa., essa exposição de motivos originou o Projeto de Lei 0566/01 que foi encaminhado à Assembléia Legislativa, com o objetivo de proceder uma reorientação profunda no Sistema Estadual de C&T, e, em decorrência, na Funcitec;

que na Assembléia Legislativa, foi apresentado um substitutivo global ao projeto em causa, que, felizmente, não teve sua tramitação e aprovação finalizadas, em dezembro passado;

que tanto o texto do projeto de Lei, como seu substitutivo, reservam à Funcitec um papel voltado essencialmente para atender a área tecnológica, em franca incompatibilidade com a atual política de Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo Federal, dificultando em conseqüência, a captação de recursos neste setor;

que os trabalhos iniciados no âmbito da Assembléia Legislativa, através de Comissão Especial, abriram possibilidades interessantes para a consolidação do Sistema Estadual de C&T, sugerindo ao Poder Executivo a criação de uma Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação, e a organização de um Órgão Estadual de Fomento dinâmico e autônomo.

Contudo, devido a complexidade das temáticas envolvidas, era de se esperar que houvesse tempo suficiente para uma discussão ampla e profunda, tanto com os integrantes da comunidade científica, como com as Universidades, institutos de pesquisa, empresas e lideranças da sociedade;

que, em vários momentos, a comunidade científica externou a V. Exa. seu interesse na consolidação do Sistema Estadual de C&T, através da regularização dos repasses financeiros à Funcitec, da tomada de iniciativas que permitissem a recuperação da sua credibilidade e da reorganização deste Sistema como um todo.

Assim sendo, senhor Governador, solicitamos que V.Exa. determine a retirada do projeto encaminhado à Assembléia Legislativa e promova gestões no sentido de que a reorientação do Sistema Estadual de C&T seja, preliminarmente, objeto de ampla discussão com os diferentes segmentos interessados.

Neste sentido, a SBPC e o Fórum Catarinense de C&T se dispõem a colaborar com o Governo do Estado na organização e promoção das discussões que se fazem necessárias.

Acreditamos ainda, senhor Governador, que a área de C&T é altamente estratégica para o desenvolvimento do Estado de Santa Catarina, razão pela qual necessita de definições que sejam resultado de convergências e de consensos, fundamentais para a credibilidade e afirmação do Sistema Estadual de C&T, que a comunidade científica e a sociedade catarinense merecem.

Certos da atenção de V. Exa., ficamos a disposição para esclarecimentos complementares.

Fonte: JC-E-mail




5. ELIO GASPARI: O ÚNICO BANCO QUE NÃO DÁ CERTO É O DE TESES: UM DESASTRE ECOLÓGICO COM AS TESES DE DOUTORADO E DISSERTAÇÕES DE MESTRADO

Nos últimos sete anos, o Brasil foi governado por um professor da USP. Ele tem como ministro da Educação um ex-reitor da Unicamp e como ministro da Cultura um ex-colega da USP.

Pois, apesar dessa abundância cerebral nos jantares do Alvorada, armou-se um desastre ecológico com as teses de doutorado e dissertações de mestrado produzidas em Pindorama.

Desde 95 deixou de existir um arquivo central desses trabalhos. Hoje a comunidade acadêmica brasileira produz 18.500 dissertações de mestrado e 5.350 teses de doutorado a cada ano. São arquivadas nas instituições onde foram produzidas e ponto final.

Não há acervo unificado, muito menos catálogo. Tem gente pesquisando na Biblioteca do Congresso, em Washington, para descobrir o que se produz em Maceió.

Os professores Cardoso, Paulo Renato Souza e Francisco Weffort poderiam dizer que isso é produto da herança escravocrata. Infelizmente, é produção do tucanato.

Uma velha lei determinava que toda tese defendida em Universidade brasileira deveria ter uma cópia remetida à Biblioteca Nacional. No início do século 20, esse foi um trabalho fácil, porque tratou-se de guardar menos de 3.000 trabalhos.

Entre 79 e 85, a guarda e catalogação da produção acadêmica dançou na feira de grandiloquências da burocracia pedagógica. Teve-se a idéia de criar um Banco de Teses. Fazê-lo ficou a cargo de um pomposo Centro de Informática da Secretaria Geral do MEC.

Um ano depois, a tarefa passou para a Capes. Os trabalhos (ainda em papel) iam para a Universidade de Brasília. Quando faltou espaço, ela capitulou e passou-se a renegociar a guarda com a Biblioteca Nacional, para onde foram 8.000 títulos.

Faltou espaço para guardar a papelada e mão-de-obra para catalogá-la, e voltou-se ao ponto de partida. Entre 87 e 90, assinaram-se três convênios, com o Ministério da Cultura, com a Fundação Ford e com três empresas privadas.

Processaram-se cerca de 10 mil obras, mas continuavam chegando 600 por mês. Em 95, a Biblioteca Nacional tirou o time. Informou às instituições de ensino superior que a guarda das dissertações e teses ficaria a cargo de cada uma delas, coisa que sempre aconteceu.

A biblioteca jogou n'água a idéia da centralização. Isso aconteceu e continua acontecendo numa época em que as teses não são mais calhamaços. Toda a produção acadêmica nacional ao longo de um ano cabe num disco de 250 gigabytes.

Para se ter uma idéia grosseira do custo desse armazenamento, os computadores que se compram em lojas vêm com discos onde cabem 40 gigabytes. Eles valem em torno de R$ 400. Custam menos que as estantes onde ficava o papelório. Deu-se uma revolução na informação, mas a turma de Brasília não notou.

A idéia do Banco de Teses reapareceu, agora na Capes. Por enquanto é apenas uma idéia que leva a uma pergunta: o que é que a Capes, entidade avaliadora de escolas e financiadora de bolsas, tem a ver com um serviço de biblioteca?

É verdade que a Biblioteca Nacional acaba de editar um livro de três quilos sobre sua coleção de assuntos brasileiros e nele não há uma só palavra sobre as teses que guarda.

Noutro, de 96, pelo menos havia uma. Se ela não quiser fazer o serviço, a Biblioteca do Senado poderá fazê-lo. Ou o Arquivo Nacional. Montar um Banco de Teses à Capes seria coisa parecida com entregá-lo ao Banco Central. O BC, comprovadamente, tem carinho por bancos.

Evita-se discutir em público a resistência de alunos e professores à colocação de seus trabalhos à disposição da patuléia. Nos casos em que fizeram as pesquisas com o dinheiro dos contribuintes, essa atitude é desonesta.

Quem quiser dinheiro da Viúva e não quiser colocar seu trabalho à disposição do público deve ser obrigado a enunciar essa prevenção ao pedir a bolsa. Além disso, pode-se admitir que se faça um banco apenas para as teses de doutorado, deixando para as dissertações de mestrado um necessário catálogo.

Segundo a Capes, antes do fim do governo esse assunto estará resolvido, como resolvido esteve ao fim do primeiro mandato de FFHH e de todos os seus antecessores.

Até agora, só gogó.

(O Globo e Folha de SP, 3/2)




6. CIÊNCIA E CIENTISTAS, ARTIGO DE ULYSSES P. ALBUQUERQUE: O IMPORTANTE É REPENSAR NOSSOS PARADIGMAS, A MANEIRA DE VER, SENTIR E USAR A CIÊNCIA

Quando falamos sobre a forma como a ciência aborda seus problemas é preciso deixar claro que as soluções que os cientistas encontram são baseadas na visão de mundo e nos conceitos que dominam a ciência em um dado momento.

Isso quer dizer que o conhecimento científico é produzido em um determinado contexto cultural. Sendo assim, quando um cientista aborda um problema, todas as construções que resultarem dessa análise serão baseadas nas lentes disciplinares que ele coloca sobre os seus olhos.

Todavia, além dessas lentes disciplinares, existe todo um referencial que norteia o cientista ao construir a sua forma de ver o mundo e encarar um problema. Aprendemos na escola que a ciência se constrói com fatos que são interpretados, e se sucedem, e que o novo conhecimento é construído com base no anterior.

Essa é a chamada visão linear de ciência. Mas outros filósofos da ciência, como Tomas Kuhn, consideram que o progresso científico nem sempre se dá por esse meio, às vezes podem ocorrer verdadeiros saltos que rompem com as idéias e conceitos dominantes. Isto é, simplificadamente, o que ele chama de paradigma.

Como vemos, descremos e sentimos o mundo ao nosso redor, é simplesmente uma das muitas maneiras de explicar o universo e a relação entre as coisas. Enfatiza Leonardo Boff que o diálogo experimental vem definindo as nossas relações com o universo.

E foi assim ao tentar apreender as coisas que nasceu a ciência moderna que pretende ser a única forma legítima de compreender o universo, isso através de um método que orienta essas perquirições e sem o qual nenhum conhecimento tem valor.

Sem dúvida o método científico é responsável pelos grandes avanços que pudemos presenciar e, obviamente, se não fora o reducionismo da nossa ciência, talvez, como ressaltam muitos, certas descobertas no campo da biologia e medicina ainda estariam por se realizar.

Além disso, nova consciência já vem emergindo no seio da própria ciência: o reconhecimento das ilusões e mitos científicos, dos quais somos legítimos divulgadores, vêm sendo postos por terra. Não queremos dizer aqui que devemos romper definitivamente com o método científico.

O importante é repensar os nossos paradigmas, a maneira de ver, sentir e usar a ciência. Mas algum questionamento nos cabe fazer nesse momento como, por exemplo, a ausência de disciplinas de filosofia em muitos cursos universitários.

Nossos estudantes e jovens pesquisadores são treinados em técnicas, métodos ultramodernos, são capazes de reproduzir experimentos e viver toda uma vida trabalhando para uma ciência, da qual muitos desconhecem os valores e significados.

Cada vez menos se produz pensadores, formadores de opinião, e sem dúvida a filosofia é uma poderosa ferramenta que habilita e introduz a essa arte do pensar, do questionamento.

Mas que imagem de ciência é essa que foi construída ao longo do tempo e que norteia atitudes, dita normas de conduta e padrão e faz com que as pessoas comuns vejam os cientistas como visionários e suas opiniões como inquestionáveis?

Na verdade, estamos vivendo numa época em que esses questionamentos são cada vez mais recorrentes.

Clotilde Tavares no seu delicioso Iniciação à Visão Holística, fala de uma ideologia quase mística que retrata a ciência como tendo as respostas para todos os questionamentos, todas as dúvidas e inquietações do homem, um passaporte para o progresso dos seres humanos, um meio, uma forma de fornecer um quadro perfeito e exato da realidade.

Nesse ponto, é preciso discutir o porquê e para que estamos produzindo determinados conhecimentos? Qual a formação ideal para os cientistas que estão se apurando no caldeirão da experiência acadêmica?

Será que eles ainda devem crer que nosso método é o único que pode levar ao conhecimento do mundo que nos cerca e de nós mesmos?

Uma coisa é certa, estamos em um momento propício para debates, numa época onde o questionar inteligente é extremamente desejável para definir os rumos e destino que queremos dar as nossas vidas.

As descobertas científicas e tecnológicas avançam numa velocidade superior a da compreensão ética do que fazer com elas. Hoje, mais do que nunca, independente das querelas e dos conflitos ideológicos de quem quer que seja, é preciso flexibilidade e bom senso.

Nos vem à mente uma estória de Khalil Gibran que iremos resumir: Três rãs sentadas sobre um tronco discutiam acaloradamente sobre o fato de estarem navegando. Cada uma aventou uma hipótese para explicar o ocorrido sem entrarem em um acordo sobre a melhor explicação.

Ao fim, muito zangadas, solicitam a opinião de uma quarta rã que sem pestanejar retrucou: Cada uma de vocês tem razão, e nenhuma está errada. Sucedeu, então, um fato inesperado: as três rãs se juntaram e acabaram por jogar no rio a quarta rã.

Nota do Editor: O autor é doutor em Ciências e professor da UFRPE e da FFPG. Artigo publicado no Jornal do Commercio, Recife, 2/2.



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