Realizou-se em Brasília, nos dias 18-21/09/2001, a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, desafio para a sociedade brasileira.
A SBQ, indicada pela SBPC, foi representada pelo presidente e vice, Profs. Eliezer Barreiro e Paulo C. Vieira.
Nesta sexta-feira (21-09) a conferência iniciou-se com a plenária intitulada "Desafios institucionais", tendo como coordenador o senador Roberto Freire, o representante do MCT Carlos Américo Pacheco, o diretor científico da FAPESP José Fernando Perez, o representante da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN) Fernando Sandore, e o Prof. Luiz Hidelbrando (MG).
O senador Roberto Freire destacou que o que está no livro verde passa pelo desafio do comprometimento de todos os setores da sociedade público e privado.
O representante do MCT ressaltou a importância dos centros de gestão, que ao criar a lei de inovação, propiciarão o estímulo da inovação na C&T, ao inventor independente e nas empresas, com a flexibilização do gerenciamento das pesquisas.
O Prof. Perez deu ênfase à existência de recursos para a pesquisa e que a aplicação dos mesmos seja dinâmica e eficiente. Em seguida fez uma descrição dos principais programas de apoio existentes na FAPESP, p.ex. PIPE e CEPID, além dos programas de políticas públicas.
O prof. Hedelbrando se referiu especialmente à Amazônia e à necessidade de se ter massa crítica regional para promoção de uma real colaboração com outros centros mais desenvolvidos.
O representante FIRJAN ressaltou que é praticamente impossível para indústria fazer investimento de risco em pesquisa, com os juros tão altos que são aplicados no país.
Na seqüência das atividades tivemos outra plenária sobre "Desafios Estratégicos" com os seguintes participantes: Coordenador Ésper Cavaleiro, o presidente da FAPESP Carlos Henrique de Brito Cruz, o Secretário de Ciência e Tecnologia de Olinda Sergio Resende, o representante da OPP (Diretor de Tecnologia) Arnaldo Bragança, o presidente da Gradiente e do Instituto de Estudos de Desenvolvimento Industrial Eugênio Staube e a representante do alunos de pós-graduação Catarina Gadelha da UFRJ.
O presidente da FAPESP iniciou sua apresentação destacando a importância da eleição das prioridades e temáticas para superação dos desafios estratégicos. Destacou como forma de identificá-las as tendências da Empresa por atuar no mercado e detectar as demandas do mesmo. Propôs o estabelecimento da "Aliança do Conhecimento" envolvendo os três segmentos: empresa, academia e governo. Segundo Brito, a empresa é o lugar da inovação e tem como desafio estratégico fundamental envidar mais esforços próprios para tanto. Como papel da academia na aliança do conhecimento salientou a Educação e a atuação nas fronteiras. Cabendo ao estado mobilizar, viabilizar e assegurar o impacto social positivo destas iniciativas.
O secretário de Olinda discorreu sobre alguns projetos desenvolvidos junto à comunidade que contribuem para o aprimoramento de sua qualidade de vida e ainda ressaltou as desigualdades regionais. Sua intervenção coincidiu com a de Brito no que tange à proposta da necessidade de um projeto nacional de desenvolvimento envolvendo educação, ciência, tecnologia e SOBERANIA.
O representante de OPP, empresa do grupo Odebrecht, discorreu sobre a qualidade da tecnologia brasileira, sua capacidade atual de absorção e melhoramento, contrastando com a sua capacidade de inovação. Salientou que a maior parte do investimento público em C&T&I se faz no próprio setor público, reclamando a ausência de política de incentivos à Inovação tecnológica na iniciativa privada. Comparou o estado atual do setor industrial brasileiro com o coreano, destacando a supremacia do último, tanto em recursos investidos como em perspectivas de inovação. Concluiu destacando que a inovação só se concretiza e se realiza na empresa.
O presidente da Gradiente ressaltou a gravidade da situação brasileira quanto às desigualdades sociais evidenciando que nossa renda "per capta" vem diminuindo significativamente a partir de 1980, afastando-nos dos paises centrais. Afirmou que a balança comercial brasileira não gera superávit por não estar em sintonia com as necessidades do mercado mundial. O Brasil precisa criar sua própria agenda inovadora sem a qual o "salto" não ocorrerá e que o setor empresarial nunca esteve tão distante do governo.
A aluna de pós-graduação convidada para relatar o encontro da categoria com o MCT informou o conteúdo do documento entregue ao ministro sobre a apreciação do livro verde.
Na tarde desta sexta-feira prosseguiram os debates sobre os vários temas da conferência nacional, em reuniões paralelas, a saber: avanço do conhecimento, desenvolvimento econômico, qualidade de vida, desafios institucionais e desafios estratégicos.
Na reunião sobre avanço do conhecimento "Perspectivas para a ciência brasileira na próxima década" tivemos a participação do conselheiro da SBQ Prof. Jaílson Bittencourt de Andrade que discorreu sobre a importância da química no desenvolvimento científico nacional, reconhecendo o papel relevante da SBQ. Enfatizou a importância da química na formação de recursos humanos qualificados e traçou algumas perspectivas para a próxima década.
Professores Eliezer Barreiro e Paulo C. Vieira
Nota do editor: Maiores informações sobre a conferência podem ser encontradas no seguinte site: www.mct.gov.br Os professores Eliezer Barreiro e Paulo C. Vieira deverão elaborar, nos próximos dias, um documento sobre a conferência nacional de Ciência Tecnologia e Inovação, que será divulgado no boletim eletrônico da SBQ.
A Conferencia Nacional de Ciencia, Tecnologia e Inovação funcionou como um divã para os institutos de pesquisa. São 22 unidades no Brasil, mais de 10 mil profissionais envolvidos, R$ 600 milhões de investimentos por ano e poucas diretrizes.
'Vivemos uma crise de identidade desde a década de 90, com alguns institutos se reencaminhando, mas a grande parte sem saber para onde ir', resume o diretor-superintendente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de SP (IPT), Guilherme Ary Plonski.
Um dos palestrantes do simpósio 'Desafios para os Institutos de Pesquisa', Plonski afirma que o sucesso e o futuro das pesquisas brasileiras vão depender da capacidade de articulação dos institutos.
'Sozinho ninguém mais faz nada. É preciso unir os que produzem as tecnologias, consumidores, órgãos que assinam o cheque e até instituições que tradicionalmente estão fora do processo, como as do terceiro setor', defende o diretor do instituto paulista.
Para ele, somente atraves dessa união será possível estabelecer prioridades de pesquisa para o Brasil.
Waldimir Pirró e Longo, diretor do Observatório Nacional, instituto ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, também reforça o coro dos especialistas que estão descontentes com os rumos que as pesquisas vem tomando.
'O Brasil possui muitas instituições, mas desarticuladas, sem estratégia e com pouca ousadia', diz.
Segundo ele, a saída desse labirinto começa com o cumprimento dos objetivos dos institutos públicos, que são atender as funções próprias do estado, gerar competência estratégica e fortalecer o setor produtivo.
'É preciso também que o Estado defina estratégias governamentais, decida se quer ser lider tecnológico ou prestador de serviço e acabe de vez com a política de balcão', completa.
Mas tudo isso só vai funcionar se houver uma dose de inovação, defende o superintendente-geral da Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (Fundação Certi), Carlos Alberto Schneider. Para ele, as exportações terão um papel-chave nesse processo de reencaminhamento das pesquisas.
Com base em dados do Instituto de Estudos para Desenvolvimento Industrial (Iedi), Schneider mostra a inversão que vem ocorrendo no comércio mundial no que tange às exportações.
Ele divide os conteúdos em Alta Intensidade Tecnológica (ADT), a exemplo de aeronaves e computadores; Media/Alta Densidade Tecnologica (MA), como veículos e químicos, entre outros; e o restante, onde entram produtos intermediários, sem inovação e commodities.
Em 1991, os paises mais desenvolvidos exportavam cerca de 13% de produtos de alta tecnologia contra 23% de MA e 64% do restante. Em 1998 esta equação pulou para 18% na primeira categoria, 24% na segunda e 57% na última, e a tendência é que a distância entre elas diminua cada vez mais, comenta.
O Brasil está bem abaixo. Exportou em 1998 apenas 5% em produtos de maior valor agregado e concentrou nas commodities (76%) seus principais negócios com o exterior, segundo as informações do diretor da Fundação Certi.
A mudança nesses índices poderá ser viabilizada com a participação dos institutos de pesquisa. 'É uma grande oportunidade e responsabilidade para o setor', diz Schneider. Segundo ele, o que interessa para as empresas daqui para frente é desenvolver produtos que sejam inovadores no mercado e alavanquem a pauta de exportações.
'E nós é que vamos subsidiá-las com informação competente, laboratórios e práticas de pesquisa', ressalta o superintendente da Certi.
Afinal de contas, conforme o pesquisador, a cadeia que vai gerar, rapidamente, novos produtos, com custo mínimo e alta qualidade precisa de um assessoramento que vai desde o design até as informações gerenciais. 'Precisamos estar preparados para os novos desafios', completa.
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/9
# Aumento de vagas na Universidade pública
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O DESAFIO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL
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lqes.iqm.unicamp.br/canal_cientifico/em_pauta/em_pauta_novidades_29.h
tml
*Pontos de Vista
# Conflito de interesses: um desafio inevitável
Luiz Henrique dos Santos e José Fernando Perez, analisam em artigo
publicado na revista FAPESP PESQUISA,
número 62, alguns aspectos éticos da atividade científica
lqes.iqm.unicamp.br/canal_cientifico/pontos_vista/pontos_vista_artigo
s_opiniao8-1.html
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Na semana em que governo, cientistas e indústria se reunem para discutir os rumos da pesquisa e da inovação, uma classe de pesquisadores qualificados toma a palavra para protestar, pela dificuldade de encontrar colocação: os recém-doutores. Um grupo de quatro jovens pesquisadores brasileiros conseguiu lançar o seu manifesto na revista cientifica "Nature" (www.nature.com).
A carta, publicada na edicao do último dia 6, procura chamar a atenção da comunidade científica internacional para a condição "eternamente temporária", nas palavras de Edésio Barbosa, um dos autores do manifesto, do jovem pesquisador brasileiro.
Segundo Barbosa, atualmente fazendo doutorado em geociências no INPL (Institut National Polytechnique de Lorraine), França, a falta de postos efetivos para doutores no Brasil acarreta várias dificuldades para o avanço da ciência e da tecnologia no país.
"As condições de trabalho dos recém-doutores são desestimulantes. A estrutura de pesquisa na maioria dos Depto.s nas Universidades é precária e, para mudarmos tal situação, seria vital que tivéssemos algum vínculo mais definitivo com tais instituições. Um recém-doutor não é um estudante profissional, mas um profissional que estuda. A postura do nosso governo só estimula a fuga de cérebros", diz Barbosa.
Na carta publicada na "Nature", os pesquisadores afirmam que, de 1998 a 1999, somente 1.481 novos doutores conseguiram colocação nas 52 Universidades federais, embora 8.790 estudantes tenham concluido o doutorado nesse mesmo período.
"Essa é a primeira vez que tantos cientistas tão bem formados estão disponíveis no Brasil, com o potencial de suprir as necessidades de nosso país em várias áreas científicas", escrevem os autores.
O que diz o CNPq
"Sem dúvida, essa afirmação é verdadeira: nunca tantos doutores foram formados no Brasil por ano, e as instituições tradicionais não estão conseguindo absorver essa demanda", diz Lelio Fellows Filho, chefe de gabinete da presidência do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Ele ressalva, contudo, que existem iniciativas do governo para permitir que os 5.000 novos doutores formados a cada ano trabalhem no país. Fellows cita as bolsas de desenvolvimento científico regional, no valor de R$ 3.000 mensais, e também o Profix (Programa Especial de Estimulo à Fixação de Doutores), com bolsas no mesmo valor, como formas de mitigar o problema.
Os dois programas tem capacidade para atender entre 500 e 600 pesquisadores por ano e, de acordo com Fellows, devem ser ampliados.
"Estamos em contato com as agências estaduais de fomento e esperamos ampliar os projetos para 2.000 vagas anuais até a metade do ano que vem."
Segundo Fellows, a expectativa é que a parceria com empresas no Profix, além da participação de instituições públicas de pesquisa, ajude a diminuir o problema.
Novas vagas
No entanto, bolsas não são a solução para o problema, uma vez que são temporárias, não estabelecem nenhum vínculo empregatício e não garantem nenhum benefício social. "Trata-se de um paliativo que não resolverá o problema do deficit de vagas e muito menos evitará a fuga de cérebros", diz Barbosa.
Em julho, o Ministério da Educação propôs a abertura de concurso para preencher 2.000 vagas nas Universidades federais. Calcula-se que o deficit de professores seja de cerca de 7.000.
"No entanto, nada até o momento aconteceu", afirmam os autores no artigo da "Nature". Segundo Barbosa, a proposta do manifesto é chamar a atenção para a condição temporária do jovem pesquisador no Brasil. "Queremos uma política governamental que tenha uma previsão de que o investimento em doutorados implique postos para os doutores formados. Pesquisa não se faz de um dia para o outro, é preciso prever o fluxo de várias gerações de pesquisadores para se construir algo."
O grupo mantém o site www.geocities.com/jadauto.geo/manifesto.html, na qual estão listados 252 pesquisadores que apoiam o manifesto.
Fonte: Folha de SP, 20/9
Secretaria Geral SBQ