SBQ - BIÊNIO (2000/2002) BOLETIM ELETRÔNICO No. 278




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Veja nesta edição:
  1. SBPC e Sociedades Científicas se reúnem para discutir o Livro Verde
  2. 1o. Simpósio Brasileiro em Química Medicinal - Novas Estratégias em Planejamento de Fármacos
  3. Esta é "uma oportunidade estratégica de vislumbrar um futuro por meio do debate aberto, flexível, transparente", diz Sardenberg aos participantes das Reuniões Regionais iniciadas nesta quinta-feira
  4. C&T no centro da sociedade, artigo de Luiz Felipe Coelho/a>
  5. "O Secretário, os doutores e o ensino superior no Paraná", artigo de Angelo Priori/a>


1. SBPC E SOCIEDADES CIENTÍFICAS SE REÚNEM PARA DISCUTIR O LIVRO VERDE

A secretária executiva adjunta do MCT, Lucia Mello, e o presidente do CNPq, Evando Mirra, estiveram nesta quarta-feira pela manha na sede da SBPC para apresentar o Livro Verde e os objetivos do Programa de Diretrizes Estratégicas de C&T&I (PDECTI) à SBPC e às sociedades científicas.

Além da Diretoria da SBPC, estiveram presentes à reuniao 27 representantes das sociedades científicas.

O Livro Verde é um documento inicial, elaborado a partir da consulta à sociedade, produzido para gerar debates e um documento definitivo, o Livro Branco, que indique orientações estratégicas para C&T&I no pais para os próximos 10 anos.

A próxima etapa do PDECTI são as Reuniões Regionais de C&T&I que acontecem até sexta-feira (16/08) em SP, RJ, Goiânia, Maceió, Belém e Florianópolis.

Essas reuniões debaterão os cinco temas apontados pela consulta à sociedade, tratados pelo Livro Verde: avanço do conhecimento, qualidade de vida, desenvolvimento econômico, desafios estratégicos e desafios institucionais. O Projeto de Desenvolvimento Estratégico de C&T&I será seguido pela Conferencia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, de 18 a 21 de setembro, em Brasília e pela elaboraço do Livro Branco.

Nota do editor: O vice-presidente da SBQ, Prof. Paulo Cezar Vieira, esteve presente nessa reunião, representado a nossa sociedade. Para a Conferência Nacional em Brasília, a SBPC poderá indicar 120 delegados entre seus diretores, conselheiros e representantes das sociedades científicas afiliadas.

Cópia do Livro Verde pode ser obtida na home page do MCT, no seguinte endereço: www.mct.gov.br




2. 1o. SIMPÓSIO BRASILEIRO EM QUÍMICA MEDICINAL - NOVAS ESTRATÉGIAS EM PLANEJAMENTO DE FÁRMACOS

Caros(as) colegas, é um prazer, em nome do comitê organizador do 1o. BRAZMEDCHEM, convidar a todos para submeter trabalhos para o simpósio.

Todas as informações podem ser encontradas na homepage do evento (agora.grude.ufmg.br/brazmedchem). Qualquer dúvida, por favor escrevam para brazmedchem@agora.grude.ufmg.br. Em caso de problemas, por favor telefone para 31-3499-5728/5765.

Contamos com a colaboração e participação de todos(as).

Muito obrigado.
Carlos Montanari.




3. ESTA É "UMA OPORTUNIDADE ESTRATÉGICA DE VISLUMBRAR UM FUTURO POR MEIO DO DEBATE ABERTO, FLEXÍVEL, TRANSPARENTE", DIZ SARDENBERG AOS PARTICIPANTES DAS REUNIÕES REGIONAIS INICIADAS NESTA QUINTA-FEIRA

Leia a seguir a mensagem do ministro da C&T, Ronaldo Sardenberg, apresentada em vídeo, aos participantes das Reuniões Regionais iniciadas nesta quinta e sexta-feira em seis capitais brasileiras (Belém, Goiânia, Maceió, RJ, SP e Florianópolis), como preparação à Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação:

"O Brasil está reunido com a finalidade de construir diretrizes e estratégias com vistas a assegurar que a ciência, a tecnologia e a inovação em nosso país progredirão nos próximos dez anos.

Estamos empenhados na produção do conhecimento e na geração de tecnologias. Estamos, portanto, ligados à idéia de resolver problemas, de avançar, de fazer com que o nosso esforço nacional seja sustentado e que a base nacional de C&T se consolide numa época de internacionalização e de globalização.

Por meio das reuniões regionais preparatórias à Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, estamos consultando a sociedade, consultando as diferentes regiões do país, de maneira que nos possamos ter um matiz regional naquilo que estamos pensando em termos de políticas nacionais.

A ação regional do MCT não é de hoje. Há dois anos começamos, e com abrangência em todo país, a encontrar formas novas de cooperação com os Estados.

Esta é uma oportunidade importante não só para atender as vocações nacionais, mas também para aproximar todos os Estados da federação das fronteiras do conhecimento mundial.

Neste momento, discutimos as tecnologias da informação, biotecnologia, materiais especiais, tecnologias nucleares, tecnologias espaciais e muitos outros aspectos do desenvolvimento tecnológico do país.

Sobretudo, discutimos o papel do conhecimento, sem o qual nenhum país se realiza na órbita internacional.

A publicação do 'Livro Verde', a realização das reuniões regionais e a própria Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia e Inovação, nos oferecem uma oportunidade estratégica de vislumbrar um futuro por meio do debate aberto, flexível, transparente, bem de acordo com a política do presidente Fernando Henrique.

É desta discussão que deverão nascer as diretrizes para uma nova política e novos instrumentos para a ciência e tecnologia brasileiras." (Na realidade, ao gravar o video, o ministro mudou um pouco o texto, mas as ideias essenciais da mensagem foram preservadas - nota do JC E-Mail)




4. C&T NO CENTRO DA SOCIEDADE, ARTIGO DE LUIZ FELIPE COELHO

Um aspecto do sistema de C&T do Brasil vem sendo bastante discutido nas últimas semanas: nosso baixo número de patentes e o seu contraste com a nossa alegada alta produção de artigos originais científicos e tecnológicos.

Frequentemente são feitas comparações com um país da Asia Oriental, a Coréia do Sul, que teve excelente crescimento econômico nas últimas décadas, grande apoio financeiro governamental à P&D nas empresas e expressivo número de patentes. Essa discussão, levantada em diversos artigos recentes da "Gazeta Mercantil", coloca pontos muito importantes.

Na chamada 'década perdida' dos anos 80 e durante os anos 90, a produção científica brasileira progrediu com taxas respectivas de 200% e 150% e construiu-se um sistema de instituições de pesquisa com alcance nacional. Numa comparação dos anos 90 sobre os 70, nossa produção de conhecimento é 6,67 vezes maior, para fatores de 3,72 no México, 3,35 na Argentina, 1,82 na India e 1,84 no mundo.

Apenas alguns paises da Asia Oriental e alguns recém-industrializados da Europa tiveram crescimento superior (Portugal cresceu por um fator de 14,7 e a Espanha de 9,8, enquanto a Grécia, com 7,4, nos é comparável e a Irlanda, com 3,1, nos é bastante inferior).

A média da Asia Oriental foi bastante superior a esses números, atingindo espantosos 3.920% nessas duas décadas, com a China tendo 9.600% e a Coréia do Sul, 18.600%! (É bom lembrar que antes da Revolução Industrial do Século XVIII a China era a superpotência mundial e que a maior figura de sua cultura, Confucio, era um professor.)

Outro aspecto importante na 'Asia confuciana' e' a diversidade de políticas macroeconômicas que vão da ultraliberal de Hong Cong às dirigistas da Coréia do Sul e da China.

Atribuir o crescimento econômico ao intervencionismo estatal (ou à sua negação) não é correto, assim como também não é certo atribuí-lo à priorização da produção de patentes sobre a publicação de artigos, pois esta última na Coréia cresceu cem vezes mais que a média mundial!

Deixando de lado a discussão específica da C&T no Brasil e a sua comparação com a Coréia do Sul, o aspecto talvez mais importante e doloroso dessa comparação é a baixa importância que a nossa sociedade dá ao aprendizado.

Os alunos em geral estudam poucas horas, os professores de primeiro e segundo grau sao mal pagos, há pouquíssimas bibliotecas públicas e livrarias e as famílias em geral incentivam seus filhos pouco a estudar. Até nas novelas, a ascensão social nunca ocorre porque alguém estudou!

Na Asia Oriental de hoje ou na Europa protestante do Século XVIII, o analfabetismo é (era) uma vergonha.

No caso extremo do Japão, centenas de estudantes se suicidam por ano por terem sido reprovados. Aqui uma família de classe média se envergonharia de não ter TV a cabo ou vídeo, mas não de não ter livros!

A Escócia, com suas duras escolas calvinistas, foi a origem da Revolução Industrial, com o inventor da máquina a vapor, Watt, só tendo o nível técnico. A alfabetização universal na Dinamarca foi decidida no momento mais negro de sua história, quando a Inglaterra incendiou toda a frota dinamarquesa num ataque relâmpago durante as guerras napoleônicas.

A fundação da Universidade de Berlim, em 1805, foi similarmente decidida sob ocupação militar francesa.

O apoio decidido da população coreana do sul a um projeto de desenvolvimento tecnológico autônomo só é compreensível se lembrarmos que durante 60 anos a Coréia foi colonizada pelo vizinho Japão, que menos de uma década após readquirir a independência sofreu uma guerra com mais de um milhão de mortos, milhões de refugiados, destruição generalizada e a ocupação militar americana desde então.

A disseminação por toda a população do conhecimento e da vontade de adquirir mais conhecimento é fundamental, mesmo nas horas mais negras.

No Brasil, os obstáculos para essa disseminação são múltiplos, particularmente no ensino de primeiro e de segundo grau, em parte uma questão de dinheiro mas mais uma questão de ganhar nossos 'corações e mentes'.

Como na campanha contra a fome, que envolveu e envolve milhões de brasileiros, as pessoas apenas são plenamente humanas quando tem acesso à cultura: bibliotecas, internet, escolas, música, teatro, esporte, etc. Isso não é um problema do 'governo', mas de todos nós! No caso da internet, por exemplo, somos de longe o maior país de língua portuguesa, mas temos pouco material na rede.

Poderiamos ter livros didáticos, documentos históricos, obras literárias, etc. O conhecimento técnico é parte do que deve ser disseminado. Sem um número significativo de bons alunos terminando o segundo grau, nao temos pesquisadores, não temos patentes ou artigos, não temos cidadãos e não temos pessoas plenas.

Finalmente, é notória a ineficiência de diversos órgãos públicos relevantes para a proteção da propriedade tecnológica, assim como para sua divulgação. A lentidão do patenteamento no INPI tem de ser corrigida.

Como a proteção jurídica que a patente fornece no Brasil é insuficiente, devido à lentidão de nossa Justiça, a estratégia de empresas com produtos inovadores é começar então o mais cedo possível a sua produção, antes que eles sejam plagiados.

Um terceiro serviço que poderia facilmente ser melhorado é o Instituto Brasileiro de Informação em C&T (Ibict).

Embora o IBICT diga em sua página da internet que dá acesso ao texto integral de 100 mil teses, isto é feito através do caro e lento Comut.

Permitir o acesso pela rede a uma biblioteca especializada de 100 mil textos técnicos, científicos e artísticos atuais seria inestimável; pode ser o pontapé inicial para colocarmos a C&T no centro da sociedade brasileira. (Todos os dados estatísticos foram obtidos da base Web-of-Science.)

Nota do Editor: O autor é professor do Instituto de Física da UFRJ. Artigo publicado na "Gazeta Mercantil", 15,8.




5. "O SECRETÁRIO, OS DOUTORES E O ENSINO SUPERIOR NO PARANÁ", ARTIGO DE ANGELO PRIORI

Os professores das cinco Universidades mantidas pelo erário público paranaense receberam, no final de julho, carta assinada pelo secretário da C&T e Ensino Superior do Paraná, Ramiro Wharhafting, onde o mesmo faz longa apologia às políticas de ensino superior do governo Lerner.

Segundo o secretário, depois que o grupo lernerista assumiu a direção do Paraná, em 95, os investimentos nas Universidades estaduais quintuplicaram, o que permitiu, entre outras coisas, aumentar em três vezes nesse período a quantidade de professores com títulos de doutor.

Os dados apresentados pelo secretário naquela carta são todos passíveis de discussão porque não condizem com a realidade do ensino superior paranaense.

Mas um dado é correto: realmente, nos últimos anos, os professores paranaenses tem se especializado cada vez mais, e parcela considerável do corpo docente possui título de doutorado. Muitos professores, inclusive, participaram de estágio de pós-doutoramento no Brasil e no exterior.

Se o dado é correto o argumento não é. Por dois motivos, inerentes a esse fato: a distribuição dos doutores não é equitativa pelas IES e a política de capacitação docente pouco tem a ver com o governo do PR.

No Paraná, o sistema público de ensino superior é formado por 5 Universidades e 11 faculdades isoladas. As Universidades de Maringá (UEM), de Londrina (UEL) e de Ponta Grossa (UEPG) foram criadas no início dos anos 70; a Unioeste, com sede em Cascavel, e a Unicentro, com sede em Guarapuava, foram criadas quase 20 anos depois.

A história das faculdades é tão diversa quanto as cidades que as localizam. No entanto, dessa rede de ensino superior, duas Universidades concentra quase 80% dos professores com título de doutor: a UEL e a UEM.

Exatamente as duas que investiram em uma política de capacitação docente rigorosa e continuada, desde os anos 80. As demais instituições só agora se despertam para essa necessidade.

Nas faculdades, a capacitação ainda está engatinhando e os poucos mestres e doutores existentes naquelas instituições isoladas não recebem o incentivo à titulação, num claro desrespeito do governo ao Plano de Carreira instituido em 97.

Porém, a capacitação docente tem sido feita através de um esforço coletivo dos próprios professores.

Enquanto um professor está afastado para fazer curso de mestrado, doutorado ou estágio de pós-doutoramento, outro professor do mesmo Depto., assume os seus encargos de ensino, de pesquisa e de orientação de alunos, numa troca de esforços e solidariedade que tem proporcionado um espetacular aprimoramento coletivo do corpo docente.

Portanto, somente em raras exceções, é contratado alguém para substituir algum professor afastado para pós-graduação.

Outro fator importante, que tem proporcionado essa capacitação tem sido as ações das agências de fomento, sobretudo o CNPq e a Capes.

Essas duas instituições, que recentemente completaram 50 anos de atividades, tem sido o fio condutor da produção científica, tecnológica e das políticas de formação de pesquisadores do país.

O CNPq tem direcionado seus esforços no fomento da pesquisa básica e aplicada e em bolsas para alunos de iniciação científica, de mestrado e de doutorado.

E a Capes, através dos seus Programas Institucionais de Capacitação Docente (infelizmente, nesse ano extinto), de Demanda Social e de Fomento à Pós-graduação, tem dado uma valiosa e significativa contribuição para a formação de recursos humanos altamente qualificados.

Para se ter uma idéia, nesse ano o número total de bolsas implementadas pela Capes é de 20.734, sendo 11.818 nos cursos de mestrados e 8.916 nos cursos de doutorados, conforme dados da edição de julho da revista Ciência Hoje. A Capes tem contribuído com 53% das bolsas de pós-graduação.

Já as bolsas do CNPq e da Fapesp perfazem um todal de 40%. Devemos dizer que a Fundação Araucária - a Fundação de Amparo à Pesquisa do Paraná - não concedeu, até agora, nenhuma bolsa para mestrado ou doutorado (a menos que isso esteja sendo feito às escondidas, o que não acredito).

É evidente que nós, os pesquisadores paranaenses, esperamos que a Fundação Araucária, implantada há apenas dois anos, venha no futuro poder, de fato, contribuir com a capacitação docente do estado, principalmente nas instituições de ensino superior mais carentes, sem perder, obviamente o objetivo de fomentar a pesquisa.

Essa tem sido a tônica da capacitação docente no Paraná. E o governo Lerner tem feito muito pouco para melhorá-la.

Aliás, as Universidades paranaenses estão vivendo o mesmo mal das federais: falta de investimento para infraestrutura, descaso com laboratórios e as bibliotecas, falta de salas de aulas adequadas, pouco investimento nos hospitais universitários e um longo arrocho salarial, que já se perpetua, por essas bandas das araucarias, por cinco anos.

Nota do Editor: O autor é doutor em História pela Unesp e presidente da Associação dos Docentes da Universidade Estadual de Maringá. (priori@wnet.com.br ). Artigo publicado no site: www.espacoacademico.com.br, na edição de agosto/2001.



Secretaria Geral SBQ


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