SBQ - BIÊNIO (2000/2002) BOLETIM ELETRÔNICO No. 277




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Veja nesta edição:
  1. Volume 12, número 5, 2001 J. Braz. Chem. Soc., especial BMOS já disponível on-line.
  2. I Semana de Quimica - Instituto de Química - Unicamp
  3. Curso de Agitação e Mistura Industrial promovido pelo IPT
  4. Ampliada bolsa de recém-doutor do CNPq
  5. Feira de C&T da Unicamp quer atrair estudantes
  6. Brasil: Avanço científico, atraso tecnológico
  7. Oportunismo genético, editorial da Folha de SP
  8. Biodiversidade é de todos nós, artigo de Marcio Ayres


1. VOLUME 12, NÚMERO 5, 2001 J. BRAZ. CHEM. SOC., ESPECIAL BMOS JÁ DISPONÍVEL ON-LINE.

Temos a satisfação de anunciar que o número 5, Volume 12, do J. Braz. Chem. Soc., ano 2001, especial BMOS, já está disponível no sítio da revista : www.sbq.org.br/jbcs.

Os assinantes devem receber seus exemplares em breve. Os participantes do BMOS receberão um exemplar da revista.

Neste número especial temos três artigos de revisão, uma comunicação, seis artigos e dois "short reports", totalizando 116 páginas.

Submeta seus trabalhos para publicação no JBCS ! Aproveite também a oportunidade para tornar-se assinante do JBCS se você ainda não o é, ou de garantir uma assinatura para a biblioteca de sua Instituição.

Mais informações sobre a revista podem ser encontradas no website acima.

Vamos continuar trabalhando juntos para aprimorar nossa revista cada vez mais!

Editores do J. Braz. Chem. Soc.




2. I SEMANA DE QUÍMICA - INSTITUTO DE QUÍMICA - UNICAMP

Durante o período do dia 7 ao dia 11 de outubro, estará ocorrendo no Instituto de Química da UNICAMP, a I Semana de Química com o seguinte tema: "Universidade e Indústria: os desafios do novo profissional de Química".

Este evento estará sendo realizado pelos professores do Instituto de Química, Centro Acadêmico de Estudos de Química (CAEQ) e a All Química Consultoria Jr e, juntamente com o apoio da Coodenadoria de Graduação do Instituto de Química e da Sociedade Brasileira de Química (SBQ).

Nesta semana serão oferecido aos alunos palestras, mini-cursos, discussões, mesas redondas, apresentação de trabalhos de iniciação científica, workshop de empresas juniores de química e visitas às indústrias e centros tecnológicos de ciência.

Liliane Girotto Cabrini
Responsável do Marketing da I Semana de Química
e-mail para contato: lcabrini@iqm.unicamp.br

I SEMANA DE QUÍMICA
Instituto de Química - Unicamp
Caixa Postal: 6154 CEP: 13083-970 - Campinas -SP
Fone: (19) 3788-3026 ou (19) 3788-3051 Fax: (19) 3788-3051
Home-page: www.semanadequimica.cjb.net




3. CURSO DE AGITAÇÃO E MISTURA INDUSTRIAL PROMOVIDO PELO IPT

Curso de Agitação e Mistura

Data: 25 e 26 de setembro

Objetivo: Oferecer fundamentos para a prática de agitação e mistura em tanques agitados na indústria.

Público alvo: Profissionais de nível técnico e superior que atuam na área de processos e projetos na indústria.

Programa do curso

  • Introdução: geometrias de tanques e impelidores, parâmetros fundamentais.
  • Suspensão de sóldos: suspensão completa e homogênea.
  • Dispersão de gases: transporte de massa, dispersão de bolhas, biorreatores.
  • Aspectos mecânicos: configurações de projeto e dimensionamento de agitadores.
  • Considerações econômicas: fatores econômicos importantes na seleção de um sistema de agitação.
  • Modelagem e simulação: por meio de fluido dinâmica computacional (CFD) e programas comerciais específicos.

Metodologia: Aulas teóricas, com recursos visuais. Haverá espaço para a discussão de casos específicos, de acordo com o interesse do participante.

Docentes: Dr. Efraim Cekinski: Doutor em Engenharia Química (Universidade de Poitiers, França), pesquisador do IPT, professor do Depto. de Engenharia Química e de Alimentos da E. E. Mauá. M.Sc. Luiz Carlos Urenha: Mestre em Engenharia Química, pesquisador do IPT.

Prof. Dr. José Roberto Nunhez: Doutor em Engenharia Química (University of Leeds, Inglaterra), professor da Faculdade de Engenharia Química da Unicamp.

M.Sc. Celso Fernandes Joaquim Júnior: Mestre em Engenharia Industrial (Unesp), diretor-técnico da empresa Kroma Equipamentos Especiais Ltda.

Carga horária: 16 horas-aula

Data: 25 e 26 de setembro de 2001

Horário: das 9h às 12h e das 14h às 17h

Local: IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas, prédio 36, Auditório Cid Vínio.

Vagas: Mínimo de 15 e máximo de 40.

Inscrição: A taxa de inscrição é de R$ 800 por aluno, incluindo almoço. Desconto de 10% para dois ou mais inscritos da mesma empresa e 50% para universidades.

O prazo para as inscrições vence em 18 de setembro de 2001.

Certificado: Receberão certificado os participantes com freqüência superior a 80%.

Pagamento: O valor da taxa de inscrição deverá ser remetido por meio de Ordem de Pagamento à Nossa Caixa, Agência 1178-9 c/c 13000003-4, mencionando: Inscrição no Curso de Agitação e Mistura. Favor reter 1,5% do valor, referente ao Imposto de Renda, exceto para universidades.

Favor confirmar pagamento por fax.

Informações

Marisa, Lilian ou Adilson
T +55 (11) 3767 4624/4058/4068
F +55 (11) 2449
mareol@ipt.br
www.ipt.br/ensino/cursos/?ID=17




4. AMPLIADA BOLSA DE RECÉM-DOUTOR DO CNPQ

O CNPq dobrou o prazo de concessão de bolsas de recém-doutor (RD) de 18 para até 36 meses. Além disso, ampliou para dois anos o prazo máximo de titulação permitido para os candidatos ao auxílio.

A medida passa a vigorar a partir de agora e junto ao Programa de Fixação de Doutores (Profix), lançado recentemente, pretende viabilizar a inserção de pesquisadores de alta qualificação no mercado de trabalho.

O valor da bolsa é de R$ 1.838,23. A vigência inicial é de 12 meses, podendo ser renovada por 2 vezes consecutivas, pelo mesmo período. Os pesquisadores que já tem a bolsa de RD, e estão próximos de completar os 18 meses, podem solicitar renovação do auxílio até completar os 36 meses.

Os pedidos serão analisados segundo as normas em vigor para a renovação das bolsas dessa modalidade. Aqueles que tiveram bolsas RD pelo período de 18 meses, e ainda não tenham adquirido vínculo empregatício, também poderão solicitar uma nova concessão por mais 18 meses.

Informações pelo site: www.cnpq.br
Fonte: Assessoria de Imprensa do MCT




5. FEIRA DE C&T DA UNICAMP QUER ATRAIR ESTUDANTES

Entender como se produz ciência e tecnologia. Esse é o objetivo da Cientec 2001, feira que pretende atrair de 80 mil a 100 mil pessoas, na maioria estudantes.

"Nao é banalizar a ciência, mas fazer com que as pessoas percebam que ela está por trás de uma série de coisas que utilizam no cotidiano, como o cartão telefônico e a internet", afirmou o coordenador-geral da Cientec 2001, José Tadeu Jorge.

A Mostra de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento abre as portas para o público no próximo dia 24, às 18h, no campus da Unicamp.

De acordo com o coordenador, o capital investido no evento gira em torno de R$ 1 milhão.

Onze instituições do parque tecnológico da região apresentarão cerca de cem projetos voltados a três temas -Vida e Saúde, Tecnologia e Meio Ambiente- que poderão ser visitados gratuitamente até 2 de setembro.

As 11 instituições estão reunidas em torno de uma entidade criada em 1999, o Forum dos Dirigentes das Instituições de Pesquisa e Desenvolvimento de Campinas e Região, dirigida pelo reitor da Unicamp, Hermano Tavares.

"Vamos mostrar a ciência em uma linguagem acessível a todos, mostrar a ciência no nível do cidadão comum", afirmou ontem Tadeu Jorge.

A mostra visa, ainda, demonstrar o potencial de produção tecnológica da região de Campinas, criar oportunidades de cooperação com a indústria e abrir caminho para novas abordagens para o desenvolvimento regional.

A Cientec, a ser realizada no ginásio multidisciplinar da Unicamp, está organizada em torno de quatro eventos paralelos: as mostras das instituições, a Exposição de Produtos e Tecnologia, a Bolsa de Negócios e Convênios, e o Forum de Debates para o Desenvolvimento Científico, Tecnológico e Cultural, em que serão realizadas 63 sessões.

"O evento não tem caráter de protesto nem de reclamação, mas a disponibilidade de verbas para a pesquisa poderá estar entre os temas debatidos", afirmou o coordenador da Cientec 2001.

Campinas, a sede da mostra, concentra 10% do PIB (Produto Interno Bruto) do Estado -ou 3,2% do PIB nacional.

Segundo dados da Secretaria de Estado da Cieência e Tecnologia, a região tem atraido anualmente cerca de US$ 2,5 bilhões em investimentos privados, o que representa 16% do investimento global no Estado.

Fonte: Folha Campinas, 14/8




6. BRASIL: AVANÇO CIENTÍFICO, ATRASO TECNOLÓGICO

Na Coréia do Sul, mais da metade dos cientistas e engenheiros de pesquisa trabalha em empresas. No Brasil, a proporção é de apenas 1 em cada 10. Talvez mais do que os outros números reveladores que constam da reportagem

Faltam investimentos privados em pesquisa, publicada domingo no Estado, essa comparação focaliza o ponto nevrálgico da grande inferioridade brasileira no campo do desenvolvimento científico-tecnológico.

De um lado, é inegável o avanço ocorrido. O Brasil forma hoje 5 mil doutores por ano, tanto quanto o Canadá, a Itália, a China e a própria Coréia do Sul, por exemplo, e tem o oitavo maior contingente de doutores em ciências e engenharia do mundo; entre 1981 e 2000, quase quintuplicou, ultrapassando 9.500, o número de artigos de autores brasileiros em publicações especializadas; os investimentos no setor aumentaram de 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB) para 1,4% no atual governo e o País passou a ter presença relativamente destacada nas novas áreas de fronteira do conhecimento, como a biotecnologia.

De outro lado, no plano da inovação tecnológica, que converte o saber científico em produtos, serviços e processos mais aperfeiçoados, o desempenho brasileiro está muito aquém do mínimo necessário para dotar o País da competitividade requerida pela globalização.

O baixo grau de incorporação de tecnologias novas à produção industrial pode ser avaliado pelo número de patentes registradas anualmente. No ano passado, enquanto a Coréia do Sul registrou 3.500 patentes nos EUA, o Brasil limitou-se a uma centena.

"Quem produz patentes são as empresas", assinala o físico Carlos Henrique de Brito Cruz, presidente da Fapesp, chamando a atenção para a raiz do descompasso entre o progresso da ciência e a virtual estagnação da tecnologia no Brasil: a crônica escassez de investimentos privados em pesquisa e desenvolvimento (p&d), uma atividade própria do setor produtivo.

Compare-se novamente o Brasil à Coréia do Sul: nos primeiros anos 80, o nível de recursos empresariais aplicados em p&d era praticamente o mesmo - e modesto - nos dois paises; mas, na segunda metade dos anos 90, esse dispendio, no país asiático, tinha se tornado cerca de quatro vezes maior do que aqui.

Na Coréia, em decorrência, a parcela da população economicamente ativa empregada em p&d se aproxima de 0,4%. No Brasil, é da ordem de 0,1%. (Nos EUA e no Japão, está perto de 0,8%.)

Outra prova de que a empresa particular brasileira não representa mercado digno de nota para a elite tecnológica está no fato de que, em cada 100 cientistas e engenheiros envolvidos com pesquisa e desenvolvimento, 80 estão na Universidade e em instituições afins - portanto, fora do lugar mais adequado para esse tipo de trabalho.

Esse número é o quadruplo, aproximadamente, da média do G-7, que reune os paises mais prósperos do mundo.

Comenta Brito Cruz, da Fapesp: "Ao contrário do que imagina o senso comum predominante, a inovação tecnológica e' criada muito mais na empresa do que na Universidade." Nos EUA, por exemplo, 9 em cada 10 inovações tem origem na empresa.

A distorção brasileira, além de prejudicar o setor privado, prejudica também a Universidade, ao desviá-la da tarefa "que é só dela, de formar os profissionais que farão tecnologia nas empresas, se estas lhes derem uma chance para isso", argumenta o físico.

A origem do problema é razoavelmente conhecida: o processo de substituição de importações, acoplado a décadas de economia fechada. Em geral, passou-se a produzir no País os mesmos bens antes comprados no exterior, sem a preocupação de acrescentar conteúdo tecnológico ao produto original.

E não havia, de fato, por que se preocupar, porque o parque produtivo nacional estava protegido da concorrência estrangeira. O modelo premiava a acomodação e desestimulava a criatividade.

Quanto tempo levará até se dissipar essa herança é uma questão em aberto. Os indícios são contraditórios. Uma pesquisa feita no ano passado revelou que 64% das empresas consultadas pretendiam aumentar os seus gastos em p&d, ante 58%, em 1996.

Mas, quando o MCT enviou 43 mil cartas convidando os destinatários a participar do projeto Prospectar - uma pesquisa para ajudar o governo a definir as prioridades do setor nos próximos dez anos -, recebeu 11 mil respostas. Destas, só 275 eram de empresários.

Fonte: Editorial de "O Estado de S. Paulo"




7. OPORTUNISMO GENÉTICO, EDITORIAL DA FOLHA DE SP

Podia ter sido pior. É assim que se deve qualificar a decisão do presidente George W. Bush que permite a utilização de fundos federais em pesquisas com células-tronco.

Bush não vetou as verbas para a investigação científica com células originárias de embriões humanos, mas impôs tantas restrições ao seu uso que alguns pesquisadores já falam em quase-proibição.

Tergiversando entre o apoio dos conservadores, que são contrários a todo e qualquer procedimento que lembre vagamente um aborto, e as pesquisas de opinião pública, que mostram que a população é favorável a esse ramo promissor da investigação médica, Bush tentou contentar ambas as partes.

O resultado é uma diretiva que não faz muito sentido científico ou ético, mas que permite ao presidente norte-americano manter suas promessas de campanha para os conservadores sem passar, para a população em geral, por inimigo do avanço da medicina.

Ficou autorizada a concessão de verba federal para pesquisas desde que realizadas com as linhagens de células-tronco já existentes, mantidas vivas em cultura. Com isso, crê o presidente, o dinheiro federal não é vinculado à destruição de fetos humanos.

Os embriões que deram origem a essas linhagens já foram destruídos antes da decisão de Bush. O raciocínio é algo oportunista: não tivemos nada a ver com isso, mas, como o mal já está feito, vamos pelo menos aproveitar a situação.

Células-tronco embrionárias podem em princípio converter-se em qualquer tipo de tecido. Cientistas acreditam que, no futuro, esse tipo de pesquisa poderá resultar em tratamentos para várias doenças, como Alzheimer, Parkinson e diabetes.

Também se fala em desenvolver, fora do corpo, órgãos para reposição, uma perspectiva ainda mais remota.

O problema é que as linhagens existentes, que devem ser algo em torno de 60, provavelmente são insuficientes para o bom seguimento das pesquisas. Antes de mais nada, as linhagens podem não ser eternas. Mesmo em cultura elas podem morrer, hipótese em que precisariam ser substituídas por outras.

Um maior número de cepas também seria importante para entender melhor os mecanismos de funcionamento das células-tronco e para tentar conseguir maior compatibilidade entre elas e os indivíduos que as recebam.

A decisão de Bush, entre envergonhada e mercadologicamente orientada, pelo menos não significou um terrível golpe nas pesquisas com células embrionárias, como alguns analistas temiam. Mas não dá para dizer que a ciência tenha experimentado uma semana gloriosa.

Fonte: Folha de SP, 12/8




8. BIODIVERSIDADE É DE TODOS NÓS, ARTIGO DE MARCIO AYRES

Ninguém sabe ao certo quantas espécies de organismos existem no planeta. As estimativas variam entre 2 milhões e 100 milhões. Acredita-se que 10 milhões seja uma aproximação correta. Dessas, apenas 1,4 milhão foram descritas pela ciência.

A maioria das espécies por ser descritas é de invertebrados como os artropodes (insetos, aracnídeos e crustáceos) e microorganismos como bactérias, fungos entre outros. Apesar disso, descrevem-se as novas espécies a todo momento.

Acredita-se que águas doces da América do Sul ainda possuem cerca de 40% das suas espécies por descrever. Hoje mesmo o público leigo sabe da importância dos genes que existem em cada célula das plantas, animais e outros organismos que vivem nas florestas.

O genoma desses seres pode conter a chave para grandes desenvolvimentos na nossa vida científica, econômica, social e política. O número de genes varia entre cerca de mil numa bactéria, 10 mil em alguns fungos, até 700 mil ou mais em plantas e animais.

As florestas tropicais contém a maior parte da biodiversidade do planeta, em número de espécies e de genes. A Amazônia tem uma biodiversidade inigualável no planeta. Acredita-se que algo entre 15% e 25% de todas as espécies estão nessa imensa floresta tropical.

O valor desconhecido dessa biodiversidade e a cobiça internacional que incide sobre ela são exagerados e chegam a valores míticos. Parte disso é devido a traumas passados, como o caso da seringa brasileira.

Os ingleses levaram um navio cheio de sementes de seringueira para a Malásia, no início do século, e com isso desmoronaram a frágil economia amazônica da época. Devemos nos lembrar, no entanto, de que o café foi trazido da Guiana ao Brasil por método semelhante, e até hoje é parte significante de nossa economia.

Outros cultivos importantes, como juta, arroz e cana-de-acucar, foram trazidos de outros paises. O transporte de material genético sempre foi assunto estratégico entre os paises, e apenas 30% das plantas usadas por nos tem origem em nosso continente.

Acredito que as multinacionais farmacêuticas, embora interessadas na possibilidade de novos medicamentos provenientes da biodiversidade das matas brasileiras, estão mais interessadas em nosso mercado. E isso elas já conquistaram há tempos.

A idéia da militarização da Amazonia como forma de proteger a biodiversidade e outros recursos naturais é uma questão delicada. Não acredito que esse papel de ''polícia da biodiversidade'' sugerido por Drauzio Varela seja o ideal das Forças Armadas.

Os militares não estão interessados nesse papel, que cabe à Polícia Federal e ao Ibama. Precisamos, sim, melhorar a capacidade de pessoal e infra-estrutura desses órgaãos para aumentar sua eficiência.

Hoje, com o desenvolvimento da Engenharia Genética e com as inúmeras possibilidades de sequenciamento e replicação do DNA, controlar o contrabando de material genético tornou-se uma tarefa quase impossível.

É muito fácil para qualquer turista levar um pedaço de ''folha na caneta'', como menciona Drauzio, uma semente no sapato ou no cabelo.

Há pouco mais de uma década foi apreendido, na Flórida, um carregamento de cocaína de quase três toneladas, dentro de troncos de madeira nativas da Colombia, que atravessaram o Solimões e provavelmente parte do Rio Negro, Rio Branco, e chegaram ao Caribe.

Se as drogas conseguem passar nessa escala, com toda a vigilância que existe, imagine pequenos pedaços de material genético. Estes devem trafegar com muito maior facilidade. Não acredito que policiamento aéreo, de fronteiras e de estradas na Amazonia possa ser eficiente para evitar a evasão de material genético.

Tenha ou não o valor que se credita à biodiversidade, ela precisa ser mais conhecida por nós brasileiros. Se não sabemos nem quantas espécies de animais ou plantas existem na Amazonia, muito menos sabemos sobre os genes e os produtos químicos por elas gerados.

A ciência terá um papel fundamental na própria valorização desses recursos, indicando melhores usos para fauna, flora e seus produtos químicos derivados. Das 10 milhões de espécies que acreditamos existir no planeta, apenas 5 mil foram usadas como alimento pelo homem.

Destas, somente 150 entraram no mundo comercial. Apenas quatro (arroz, milho, trigo e mandioca) são responsáveis por quase 70% das calorias de origem vegetal ingeridas pelo homem.

Das 3 mil espécies de peixes da região da Amazonia Brasileira, apenas 20 espécies atraem 99% do interesse comercial. Não adianta ficar falando do incrível valor dessa biodiversidade sem conhecer o que temos e que usos podemos dar a ela.

Na Amazonia existem hoje cerca de 800 pesquisadores com doutorado, enquanto o Brasil forma, a cada ano, 6.000 novos doutores. Assim, toda a Amazonia Brasileira - ou tres quintos do território nacional - tem menos de dois meses da produção de doutores do país.

Investir em conhecimento vai aumentar o papel da ciência na melhoria da qualidade de vida da população do país. Mas é preciso melhorar a distribuição da capacidade científica no Brasil, aumentar conhecimentos sobre essas regiões desconhecidas e fazer melhor uso dessa riqueza por ser descoberta.

Biólogos acreditam que as taxas de extinção de espécies no mundo sejam entre 100 e 1000 vezes maiores do que os valores esperados. Só poderemos evitar que esses recursos naturais desaparecam antes de ser conhecidos, se conseguirmos melhor estruturar a nossa sociedade.

Além do papel da ciência para indicar formas sustentadas de uso dos recursos naturais, precisamos dar justiça social e melhores condições às populações que habitam a região onde ocorrem esses recursos.

Empossar a população como guardia e beneficiária dos recursos naturais tem produzido resultados animadores no Médio Rio Solimões, onde trabalhamos há cerca de uma década, implantando a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Contamos inclusive com apoio das Forças Armadas e outros setores da sociedade.

A melhor forma de construir um Brasil mais justo é através da valorização por sua própria gente.

Nota do Editor: O autor é biólogo e diretor do Instituto Mamirauá/MCT. Artigo publicado no "Jornal do Brasil": 12/8.



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