SBQ - BIÊNIO (2000/2002) BOLETIM ELETRÔNICO No. 204




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Veja nesta edição:
  1. Edital CNPq 01/2000 - Relatório do Comitê de Avaliação dos projetos da área de Química
  2. Brasil e EUA unem-se para identificar genes na busca de novas drogas contra o câncer
  3. Comunidade acadêmica debate criação de nova fonte de recursos para C&T
  4. Lúcia Melo fala ao informe abipti sobre a agência CNPq nordeste e a importância dos parceiros locais para o desenvolvimento regional e C&T


1. EDITAR CNPq 01/2000 - RELATÓRIO DO COMITÊ DE AVALIAÇÃO DOS PROJETOS DA ÁREA DE QUÍMICA

O Comitê Especial, formado pelo Comitê Assessor da Área de Química acrescido de outros membros da comunidade (química), para avaliar os 574 propostas de pesquisa da área de Química, referentes ao Edital CNPq 01/2000, reuniu-se nos dias 28/08 a 01/09, no CNPq. Os trabalhos foram coordenados pelo Prof. Jailson Bittencourt de Andrade.

Inicialmente, o Comitê Especial discutiu os critérios que deveriam ser observados, respeitando-se o Edital e que foram formulados, em planilha específica, pela Direção do CNPq. Embora o Comitê considerasse necessário adaptações e, inclusive, alterações nesses critérios, a planilha foi, no entanto, rigidamente seguida para evitar problemas no tratamento estatístico da demanda pós-julgamento de todas as áreas concorrentes.

Os ítens da avaliação foram:

  1. relevância (incluindo originalidade, criatividade, etc.) e benefícios para a sociedade e para o desenvolvimento científico e tecnológico, com peso 2;
  2. adequação teórico-metodológica, com peso 2;
  3. competência e experiência da equipe para a execução do projeto, com peso 2;
  4. envolvimento na formação de recursos humanos, com peso 2;
  5. adequação do cronograma e justificativa do orçamento, com peso 1;
  6. contribuição para a superação de desigualdades regionais, com peso 1.

A sistemática adotada pelo Comitê permitiu, em vários momentos, discussões aprofundadas sobre a aplicação dos critérios na seleção dos projetos com mérito acadêmico-científico, no sentido de atingir a melhor qualidade do processo de avaliação.

Os projetos foram classificados, inicialmente, em dois grupos: os favoráveis no mérito, 389, e os desfavoráveis ou não enquadrados, 185.

Em seguida, os projetos favoráveis no mérito receberam pareceres, com notas, que foram relatados e amplamente discutidos por todo o Comitê. Desta forma, foi construída a demanda qualificada, em ordem decrescente de mérito, independentemente da faixa de financiamento.

Os projetos de membros do Comitê foram avaliados em duas etapas: primeiramente por um grupo de três consultores que não apresentaram propostas nesta demanda e, posteriormente, relatados e discutidos na ausência dos interessados.

É oportuno relacionar algumas dificuldades encontradas na avaliação das propostas:

  1. um número significativo de consultores ad hoc, inclusive bolsistas de produtividade de pesquisa, sujeitos à penalidade, não atenderam à solicitação do CNPq, de modo que muitos projetos receberam somente um ou nenhum parecer;
  2. diversos pareceres ad hoc foram mal formulados e não conclusivos;
  3. alguns consultores ad hoc emitiram parecer, quando por motivo de conflito de interesses, deveriam se abster;
  4. nos currículos Lattes, diversos proponentes colocaram no item Artigos Completos Publicados em Periódicos, também trabalhos resumidos e trabalhos completos publicados em anais de evento, que deveriam ter sido incluídos em itens específicos do formulário.

Como forma de melhor aproveitar a presente avaliação, o Comitê decidiu instalar uma Comissão de seus membros que analisará, no CNPq, os resultados quantitativos do Edital 01/2000 da área da Química, elaborando um relatório analítico dos dados da demanda da Química, que servirá como subsídio às estratégias futuras de fomento da área. A decisão foi de pronto aceita pela Diretoria do CNPq.

Brasília, 01 de setembro de 2000.

Comitê Especial:
Adilson José Curtius José Caetano Machado
Célio Pasquini Marco Antonio Chaer Nascimento
César Zucco Milan Trsic
Eliezer J.L.Barreiro Oswaldo Luiz Alves
Fernanda Margarida Barbosa Paulo Sérgio Santos
Jailson Bittencourt de Andrade



2. BRASIL E EUA UNEM-SE PARA IDENTIFICAR GENES NA BUSCA DE NOVAS DROGAS CONTRA O CÂNCER

O Instituto Ludwig de SP e o Instituto Nacional do Câncer (INC) dos EUA estão firmando uma parceria para identificarem a maior parte dos genes humanos até o fim de 2001.

Os parceiros acreditam que, até dezembro deste ano, sequenciarão praticamente todos os fragmentos de genes existentes, ou seja, terão descoberto a ordem das "letras químicas" da maior parte das páginas da receita genética humana. Restará ordenar as páginas descobrindo onde começa e onde termina cada gene.

Os institutos avançarão também no processo de transcriptoma, ou seja, no conhecimento da maneira pela qual um gene pode sintetizar proteínas distintas. Esses estudos abrem perspectivas mais concretas de desenvolvimento de drogas a partir das informações genéticas.

O melhor é que toda a informação resultante será de domínio público, não podendo ser patenteada. "A idéia é fornecer informações que facilitem o desenvolvimento de novas drogas contra o câncer e outras doenças", disse Andrew Simpson, coordenador do Projeto Genoma Câncer Brasileiro. "Só essas drogas seriam patenteadas e os genes, não."

Os dois parceiros, que terão na Fapesp o terceiro aliado, já são hoje as duas instituições de pesquisa do mundo que mais produzem sequências de genes humanos.

A união dos esforços deverá acelerar os trabalhos, por garantir que as metodologias usadas pelos dois grupos se complementem. Tanto o INC como o Instituto Ludwig desenvolvem projetos de sequenciamento dos genes expressos nos tipos de tumores mais comuns nos dois paises.

Essa metodologia permite sequenciar apenas os genes, desprezando 97% do DNA, que é considerado apenas lixo evolutivo.

"Partindo dos genes expressos, poderemos identificar praticamente todos os genes humanos porque tanto o nosso projeto como o Projeto Genoma Cancer brasileiro ampliaram seus horizontes, passando a sequenciar também uma ampla diversidade de tecidos saudáveis", explicou Robert Strausberg, coordenador do Projeto Genoma Cancer do INC.

No quinto encontro das três instituições, decidiu-se que o INC concentrará os esforços nos genes menores. Com as tecnologias desenvolvidas pelo INC, que privilegiam a clonagem da parte inicial, eles esperam clonar esses genes inteiros ou obter os fragmentos que faltam para completá-los.

As metodologias tradicionais de clonagem concentram-se na porção final do gene. A metodologia Orestes, desenvolvida no Instituto Ludwig de SP, obtém mais informação sobre a parte central do gene.

Ao instituto caberá concentrar os esforços nos genes maiores e mais complexos, muito difíceis de serem clonados inteiros.

A idéia é descobrir a sequência completa desses genes, processando em computadores as informações fragmentárias disponíveis no GenBank, o banco de dados internacional do Projeto Genoma Humano.

Nele, são depositados os resultados das pesquisas dos projetos genoma cancer brasileiro e norte-americano.

Fonte: O Estado de SP, 30agosto2000.


3. COMUNIDADE ACADÊMICA DEBATE CRIAÇÃO DE NOVA FONTE DE RECURSOS PARA C&T

Aprofundam-se os debates na comunidade acadêmica sobre a criação dos Fundos Setoriais de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, que prometem revolucionar o setor a partir de 2001, com uma injeção, somente neste primeiro ano, de mais de R$ 1 bilhão para financiamento de pesquisas e projetos em petróleo, energia, recursos hídricos, recursos minerais, transportes terrestres, parcerias entre Universidades e empresas, setor aeroespacial, telecomunicações, informática e infra-estrutura. Ainda estão sendo modelados os fundos de saúde, aeronáutico e de agronegócios.

Esta injeção vai praticamente dobrar os recursos destinados à ciência e tecnologia no país. Em palestra para explicar a concepção dos Fundos Setoriais, Rui Albuquerque, chefe de Gabinete da Reitoria, foi questionado pela platéia quanto ao fato de vários segmentos de pesquisa, vítimas das medidas desestimuladoras dos últimos anos, estarem atualmente desestruturados para receber tal aporte de recursos.

"É um fato inusitado. Mas, a partir do momento em que encontramos a fórmula para obter esse dinheiro de imediato, essas instituições terão que se mobilizar para reunir projetos que garantam a utilização eficaz de sua dotação", afirmou.

Albuquerque, antes de vir para a Unicamp, exercia o cargo de secretário-executivo adjunto do MCT. Ele ressaltou que os Fundos Setoriais surgem como resposta ao processo de privatização e desregulamentação das atividades de infra-estrutura no Brasil, processo que colocava em risco os investimentos para o desenvolvimento de novas tecnologias, uma vez que as empresas privadas pouco aplicam em pesquisas, em detrimento do sucesso alcançado por empresas públicas que inclusive assumiram a liderança mundial em termos de inovações, como na área de petróleo.

Os fundos serão formados por percentuais do faturamento de empresas privatizadas ou por contribuições pela exploração de recursos naturais. Em grande parte, as receitas que alimentarão os fundos já são previstas e cobradas, apenas não estao sendo aplicadas em ciência e tecnologia. A cobrança, portanto, não representa qualquer ônus adicional que justifique seu repasse para tarifas ou preços.

Os fundos setoriais são fontes estáveis, independentes da arrecadação do Tesouro. O financiamento será contínuo e, ao final de cada exercício fiscal, o saldo continuará disponível para o período seguinte. Isso impedirá o abandono de pesquisas e a desestruturação das equipes.

A gestão dos programas será compartilhada entre ministérios, agências reguladoras e representantes da comunidade científica e do setor privado.

Fundos Setoriais: www.mct.gov.br/temas/fundos/default.htm

Fonte: Jornal da Unicamp, edição de setembro 2000.


4. LÚCIA MELO FALA AO INFORME ABIPTI SOBRE A AGÊNCIA CNPQ NORDESTE E A IMPORTÂNCIA DOS PARCEIROS LOCAIS PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E C&T

Eis a entrevista:

ABIPTI - Qual a sua avaliação em relação ao desemprego da agência CNPq Nordeste no período de 1980 a 1990?

Lúcia Melo - A Principal característica da Agência CNPq foi seu perfil técnico e inovador. Durante sua breve existência (uma década) criou programas regionais, orientou e difundiu mecanismos de fomento principalmente junto a segmentos da comunidade como grupos emergentes de pesquisa atuantes em Universidades e outras instituições não universitárias (institutos tecnológicos por exemplo), recém-doutores e outros para os quais informações e oportunidades eram restritas.

Iniciativas inovadoras envolvendo de forma articulada Universidades, institutos, empresas e governos locais deram origem a programas pioneiros de integração entre tais setores.

Como por exemplo o Programa Regional de apoio à Sucroalcoolquímica (na época a energia e o álcool eram considerados estratégicos para o país) envolveu de forma sistemática governo, Universidades e empresas, na definição de uma estratégia de capacitação tecnológica para o setor iniciando um programa de iniciação científica e tecnológica realizado dentro das empresas, com o acompanhamento das Universidades.

Também de significativa importância o Programa Nordeste de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, nos seus componentes de Pesquisa e de Difusão Tecnológica envolvia Universidades e pequenas unidades agrícolas em processo de transferência de tecnologia.

Não menos importante foi o Programa de Manutenção de Equipamentos para as Universidades PATENE, precursor do Sub-Programa de Manutenção do PADCT, lançado em nível nacional.

A capacidade de mobilizar atores locais e de contribuir na seleção de oportunidades permitia que os programas nacionais pudessem ter rebatimentos regionais adequados, como no caso do Programa Nordeste de Química e de matemática.

Finalmente a presença do CNPq na região permitiu o envolvimento direto do órgão na estruturação e organização do segmento de Ciência e Tecnologia em alguns estados, especialmente em Pernambuco, tendo uma contribuição importante na criação da primeira secretaria de Ciência e Tecnologia e da primeira Fundação de amparo à Ciência e Tecnologia da região, a FACEPE.

ABIPTI - Como voce vê a questão da revitalização da Agência do CNPq no Nordeste?

Lúcia Melo - O momento atual é bastante distinto, com novos e importantes atores e mecanismos de acesso à informação, exigindo uma nova apreciação da questão.

Nos últimos anos foram estruturadas diversas Fundações de Amparo à Ciência e Tecnologia, as chamadas FAP's, ou mesmo outras entidades com finalidades semelhantes em diversos estados da região e sua consolidação vem aos poucos se estabelecendo.

Os parceiros locais vem sendo cada vez mais reconhecidos como importantes na formulação de políticas, a identificação de oportunidades e, ainda embora de forma tímida, no aporte ou mobilização de recursos para o setor.

Além disso, as possibilidades atuais de acesso e democratização da informação, através das novas tecnologias propiciam um novo tipo de relação entre usuários e agentes de fomento, expandindo as oportunidades e seus benefícios consideravelmente.

ABIPTI - Tem-se discutido muito a questão da descentralização e correção das disparidades regionais na área de C&T. Na sua opinião, quais ações devem ser desenvolvidas para atingir esse propósito?

Lucia Melo - Qualquer pessoa que se disponha a examinar indicadores de C&T verifica, sem muito esforço, as enormes disparidades regionais apresentadas pelo setor.

A correção de tais disparidades exige antes de mais nada uma decisão política quanto a orientação de investimentos e o reconhecimento da importância estratégica para o País de um desenvolvimento mais homogêneo e integrado, baseado na exploração das oportunidades existentes associadas à rica diversidade brasileira.

Embora muito se tenha a fazer, a questão da regionalização é hoje parte da agenda do MCT sendo a regulamentação dos novos fundos setoriais, ao incorporar a questão regional, um importante passo.

Essa nova forma de financiamento à C&T que começa a ser estruturada, ao incluir mecanismos explícitos de regionalização na sua fase inicial de implantação poderá, se convenientemente interpretada, contribuir de forma significativa para tais desequilíbrios.

É importante no entanto que sejam propiciadas condições para utilização adequada de tais recursos com iniciativas complementares de formação, treinamento e fixação de recursos humanos a partir das bases institucionais locais e das necessidades econômicas e sociais dos diversos espaços.

ABIPTI - Como as FAP's podem atuar nesse processo?

Lúcia Melo - O novo ambiente de promoção e fomento à ciência e tecnologia tem nos agentes locais os mais valorosos parceiros. A inserção local, o conhecimento do ambiente e de suas necessidades, permite que tais agentes atuem como catalisadores e formadores de redes de cooperação a um menor custo.

As FAP's podem bem representar este papel, especialmente se vencidos os desafios de examinar as oportunidades associadas à capacitação científica e tecnologica numa ótica bem dosada de elementos de curto e de longo prazo.

Fonte: JCE-mail, 30stembro2000

Nota do Editor: Lúcia Melo, ex-presidente da Facepe, é atualmente secretária executiva adjunta do MCT


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