Membros do Conselho e de Divisões da SBQ, juntamente com
representantes da SBF no Paraná, em visita a Fundação Araucária,
foram recebidos pelo Diretor Presidente, Gonçalo Signorelli de
Farias, pela Diretora de Administração e Finanças Arlete Dias de
Moraes e pelo futuro Diretor Científico Nilceu R. X. Nazareno.
"A Fundação Araucária é uma entidade voltada ao amparo à pesquisa e à
formação de recursos humanos necessários à mudança do perfil
econômico do Paraná e que proporcionem um maior dinamismo à política
de criação de oportunidades e qualidade de vida para todos. Os
recursos financeiros da Fundação têm origem no Fundo Paraná, que
destina 2% da receita tributária do Estado ao desenvolvimento
científico e tecnológico. Desse percentual, até 30% são destinados à
Fundação. A Fundação Araucária financia projetos, via instituições
públicas ou privadas, em pesquisas básicas e aplicadas, assim como
eventos de caráter técnico-científico e publicações".
Aos primeiros editais, abertos em maio deste ano correspondeu uma
resposta da comunidade científica de 692 projetos de pesquisa
relativos ao Edital Programa de Apoio à Pesquisa e à Capacitação em
Ciência e Tecnologia. Para estes projetos, que totalizaram
solicitações de cerca de R$ 32.500.000,00, estão a disposição apenas
R$ 4 milhões. A comunidade química do Estado participou com cerca de
10% dos valores da demanda.
Os representantes da SBQ expressaram suas preocupações com relação a
composição dos CA (13 ao todo) que avaliarão os projetos, e opinaram
sobre critérios para a qualificação dos membros destes CA. Os membros
da diretoria da Fundação Araucária, presentes a reunião garantiram que
tratariam com o maior cuidado também este aspecto da composição dos
CA. O Diretor Presidente, Gonçalo Signorelli de Farias informou que
as autoridades do Governo do Estado, sensíveis a demanda da comunidade
científica na solicitação de recursos, prometeram valores bem maiores
para o ano de 2001.
A. S. Mangrich, membro do Conselho.
Estão abertas as inscrições para a VII ESCOLA DE VERÃO EM QUÍMICA
FARMACÊUTICA E QUÍMICA MEDICINAL, evento organizado pelo LASSBio,
com o apoio da Sociedade Brasileira de Química - Regional Rio de
Janeiro, que será realizado na Faculdade de Farmácia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, de 22 à 26 de Janeiro de 2001.
A sétima edição do evento contará com a participação de 2 professores
estrangeiros, i.e. Prof. Jean-Jacques Bourguignon (Univ. Strasbourg -
França) e Profa Madalena M. M. Pinto (Univ. do Porto - Portugal) e
professores brasileiros, ministrando 4 cursos e 5 conferências
plenárias.
As informações e inscrições podem ser obtidas no site
http://www.farmacia.ufrj.br/lassbio/curso2001.htm ou por e-mail para
a comissão organizadora, Prof. Carlos Alberto Manssour Fraga
(cmfraga@pharma.ufrj.br) ou Prof. Carlos Rangel Rodrigues
(rangel@pharma.ufrj.br).
A Sociedade Brasileira de Catálise (SBCat) foi criada em 1999 como
uma evolução da Comissão de catálise do IBP e visando ocupar novos
espaços no nível nacional e internacional. Neste espírito a diretoria
da SBCat efetuou, com ampla participação de seus associados, um longo
trabalho de preparação de candidatura para ingresso como país membro
da Associação Internacional de Sociedades de Catálise (IACS).
O Conselho da IACS é constituído por 53 membros delegados,
pesquisadores de grande expressão no contexto internacional na área
da catálise (2 representantes de cada um dos 23 países membros, 2
representantes da Federação Iberoamericana de Sociedades de Catálise
- Fisocat e 1 representante da IUPAC). Este é o órgão máximo da IACS
e tem, dentre suas atribuições, a organização do Congresso
Internacional de Catálise (a cada 4 anos) e a previsão das atividades
internacionais na área da catálise, sendo de sua responsabilidade a
decisão sobre a incorporação de países membros na Associação.
Durante o 12o. Congresso Internacional de Catálise realizado de 9 a
14 de julho de 2000 em Granada na Espanha ocorreu a Assembléia da IACS
na qual a SBCat apresentou a sua candidatura a membro permanente do
Conselho, asim como o fizeram a África do Sul e a Venezuela.
O presidente da SBCat apresentou a candidatura brasileira mostrando ao
Conselho a constituição da SBCat (universidades, centros de pesquisa,
empresas), a produção técnica e científica brasileira na área
(trabalhos publicados, patentes solicitadas) assim como as atividades
de organização e participação em congressos. O Conselho da IACS
aprovou as três candidaturas apresentadas, tendo a candidatura
brasileira sido aprovada por unanimidade, passando a SBCat a fazer
Conselho da IACS.
A obtenção deste reconhecimento era um dos objetivos estabelecidos
desde a criação da SBCat e constitui um marco na evolução de nossa
Sociedade, consolidando o reconhecimento internacional tão importante
para a concretização dos projetos em desenvolvimento.
A Direção da SBCat
Martin Schmal
Dilson Cardoso
Alan Kardec do Nascimento
Roberto Fernando de Souza
Os ministros da C&T, Ronaldo Sardenberg, e da Educação, Paulo Renato
Souza, assinaram, nesta quinta-feira, a portaria interministerial
instituindo o Comitê Gestor do Fundo de Infra-estrutura, conhecido
como Fundos dos Fundos.
O comitê, criado através da Medida Provisória nº 2.021-4, é integrado
por representantes do MCT e MEC.
O Fundo consiste na transferência de 20% dos recursos destinados a
cada um dos oito "Fundos Setoriais para Desenvolvimento Científico e
Tecnológico", para ampliação da infra-estrutura das Universidades e
instituições públicas de pesquisa do país.
Este ano, o Fundo dos Fundos contará com um total de R$ 30 milhões,
oriundos do CTPetro, em operação desde 99.
Estima-se que em 2001 recursos da ordem de R$ 140 milhões sejam
dedicados ao Fundo de Infra-estrutura.
Ao todo, espera-se que os fundos setoriais gerem recursos extras
superiores a R$ 1 bilhão por ano.
"O governo tem pressa em implementar a política de C&T no Brasil, por
isso, creio que o Fundo dos Fundos, estará regulamentado nos próximos
meses", comentou Sardenberg.
A pressa, segundo declarou o ministro em seu discurso, deve-se à
decisão do governo de "responder às necessidades no campo do
desenvolvimento da ciência e da inovação tecnológica, em especial no
contexto de um quadro mundial de revolução dos padrões de
desenvolvimento".
Do total destinado ao novo fundo, 30% serão aplicados nas instituições
das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil.
"Teremos, assim, uma distribuição regional mais equitativa de
recursos, pois permitirá a melhoria da infra-estrutura de pesquisa nas
regiões menos favorecidas do país, condição indispensável para que
estas possam candidatar-se aos recursos de fomento de C&T no futuro",
conclui o ministro.
Representam o MCT no Comitê Gestor o secretário executivo Carlos
Américo Pacheco, coordenador do comitê; Evando Mirra, como
representante do CNPq, e André Amaral, representando a Finep.
Fonte : Assessoria de Imprensa do MCT
Nem tudo é desesperança no país do juiz Nicolau, Luiz Estevão e
Eduardo Jorge. No Brasil, onde o governo de FHC se gaba de gerar
megassuperávits primários superiores a 30 bilhões de reais por ano,
engolidos pelos juros da dívida interna que não para de crescer, há
algo de novo acontecendo em uma área fundamental para o crescimento
do país: a de C&T.
O Congresso Nacional aprovou, em junho passado, mensagens do
presidente propondo a criação de uma série de fundos setoriais
destinados a prover recursos para financiar o desenvolvimento da
pesquisa científica e tecnológica brasileira.
Ao todo, prevê-se a injeção de 1 bilhão de reais a mais por ano para
a ciência e tecnologia em projetos setoriais de energia,
telecomunicações, recursos hídricos, espacial, entre outros.
Além disto, 20% (ou seja, 200 milhões de reais por ano) destinam-se à
renovação da infra-estrutura dos centros de pesquisas, beneficiando,
sobretudo, as Universidades federais, duramente atingidas pela
escassez de recursos orçamentários na última década.
Na contramão de seu discurso modernizante e globalizante, o governo
FHC permitiu o esvaziamento do já debilitado setor de C&T brasileiro.
Vários fatores contribuiram para isto.
Além do já conhecido sucateamento das Universidades públicas, os
diversos centros de pesquisa públicos foram também vítimas da obsessão
do ajuste fiscal que restringiu salários de pesquisadores e recursos
para custeio e investimentos, comprometendo a continuidade de muitos
projetos de grande importância.
Já os centros de pesquisas das empresas estatais envolvidas no
Programa Nacional de Desestatização, como o CEPEL (Energia Elétrica)
e o CPqD (Telecomunicações), perderam não só os recursos financeiros
mas também o rumo, uma vez que por razões óbvias as operadoras
privadas, na ausência de obrigações contratuais acerca da tecnologia e
política industrial, se contentam em adquirir produtos de tecnologia
desenvolvida no exterior.
A garantia de recursos regulares para o setor de C&T deve ser saudada
com entusiasmo. É condição necessária para a revitalização da área.
Porém, não é suficiente, pois não adianta ter dinheiro sem
participação efetiva.
É preciso um planejamento estratégico para o setor, elaborado com a
participação dos atores sociais envolvidos. O MCT deve praticar o
compromisso assumido quando da tramitação dos projetos de criação dos
fundos no Congresso Nacional de rever o regulamento do FNDCT (Fundo
Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico), constituindo
conselho de gestão dos fundos com participação dos órgãos federais, da
comunidade científica, do setor produtivo e das secretarias estaduais
de C&T.
Outro aspecto fundamental é a política industrial, praticamente
abandonada desde os idos do governo Collor, que deve ter absoluta
sintonia com a política de C&T, sobretudo neste periodo de revolução
tecnológica.
O resultado da década perdida em termos de C&T e política industrial
está espelhado em nossa balança comercial, desequilibrada pela
importação de produtos que incorporam tecnologia de ponta e, portanto,
de grande valor agregado, e, por outro lado, pela pauta de exportações
que é dominada por produtos primários.
É o próprio governo quem diz que a balança comercial é hoje um dos
principais gargalos para a retomada do crescimento econômico
sustentável do país.
A honrosa exceção neste quadro é a Embraer, que se viabilizou fruto
da visão estratégica setorial do antigo Ministério da Aeronáutica, que
durante décadas, apesar das dificuldades, manteve o CTA e o ITA como
âncoras para o desenvolvimento sustentável para o setor.
Hoje, com a privatização e em mãos do capital brasileiro, a empresa
continua a se beneficiar do ambiente científico e tecnológico que o
CTA e o ITA lhe propiciam.
Outro forte exemplo vem do governo de SP que, através da Fapesp, com
recursos financeiros contínuos está gerando um resultado
extraordinário na pesquisa genética, seja na área de saúde, seja na
agroindústria.
O que se espera é que a iniciativa de formar os fundos setoriais
torne-se referência para mudanças profundas na política de C&T, que
assegure uma concepção estratégica para o setor, recursos financeiros
contínuos e um processo de gestão democrático para o desenvolvimento
da área.
Fonte:O Globo, 22agosto2000.
Nota do Editor: O autor é dep. federal (PT-RJ) e membro da Comissão
de C&T, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados.
Reitores e professores de 62 instituições públicas de ensino superior
lançaram ontem a Rede Universidade Virtual Pública do Brasil
(UniRede), que vai oferecer a partir de outubro três cursos de
extensão e especialização à distância. A meta, em um ou dois anos, é
criar turmas de licenciatura para formar professores em nível
universitário.
O consórcio calcula em R$ 10 milhões o valor necessário para dar
início às atividades. A maior parte desse valor está sendo negociada
com os Ministérios da Educação (R$ 2,3 milhões) e da C&T (R$ 4,4
milhões), além de prefeituras (R$ 1,8 milhão). O restante deverá sair
de contribuições da sociedade civil.
O início dos cursos será em 15 de outubro. Um deles vai atender cerca
de 700 professores das 62 instituições da UniRede (www.unirede.br),
treinando-os para que, mais tarde, sejam responsáveis pelos cursos de
licenciatura da Universidade virtual.
O objetivo maior é formar em nível superior os cerca de 600 mil
professores de ensino médio e fundamental que não tem diploma
universitário no país.
Outro curso previsto para começar em outubro, com 30 mil vagas, é o
de capacitação de professores para o programa TV Escola. O terceiro
será um apanhado histórico das Constituições brasileiras, dirigido a
assessores parlamentares.
As instituições paulistas que participam do projeto são a Estadual de
Campinas (Unicamp), Federal de SP (Unifesp) e Federal de São Carlos
(UFSCar). Outras 25, entre elas a USP, estão em processo de adesão.
"O mais difícil hoje, no Brasil e no mundo, é desenvolver metodologias
de ensino usando as novas tecnologias", disse o ministro da Educação,
Paulo Renato Souza. "Não se trata simplesmente de botar dentro do
computador o que o professor ensina."
Fonte: O Estado de SP, 24agosto2000.
Muitos autores já comparam a Internet à revolução da imprensa, no
século 15, possibilitada pelos tipos móveis de Johannes Gutenberg.
É sempre difícil, estando no meio de um processo, avaliar com
propriedade o seu impacto futuro, mas a analogia parece proceder.
Embora a máquina desenvolvida pelo inventor alemão não tenha alterado
a escrita propriamente dita, permitiu-lhe uma difusão antes nem mesmo
imaginada. Julgando a posteriori, é fácil afirmar que os tipos mudaram
o curso da história.
Da mesma forma que a imprensa dispensava o trabalho do copista, a
Internet, aliada a outros avanços tecnológicos, elimina barreiras
físicas e geográficas à divulgação do conhecimento. Uma das
repercussões evidentes é sobre a educação.
Assim, é correta a aposta do governo federal na educação à distância.
O efeito multiplicador da rede não pode ser desprezado. É portanto
boa notícia a criação da Universidade virtual, visando a atingir 600
mil professores do ensino básico sem formação acadêmica.
Parece exagerada a meta de matricular 100 mil nos próximos dois anos,
mas o princípio é mais importante do que os números.
Vale ressaltar que as novas tecnologias de comunicação não substituem
as formas mais tradicionais de ensino. Da mesma forma que o livro
pós-gutenberguiano não aposentou o mestre, a possibilidade de
transmitir aulas e informações à distância não torna de modo nenhum a
presença local do professor dispensável.
A iniciativa da Universidade virtual é boa, mas, da mesma forma que um
mau livro pode ter consequências desastrosas, erros na implantação
desse projeto podem multiplicar problemas. Um dos riscos é acabar
transformando a educação à distância, uma ferramenta do ensino, em um
fim em si mesmo.
O resultado seria a construção de uma Universidade, virtual sim, mas
em outro sentido: que eleva os índices de titulação do brasileiro,
mantendo mais ou menos inalterada a sua formação.
Fonte:Folha de SP, 25agosto2000.
O diretor do Centro de Biociências, Rank dos Santos Silva, disse que
vai solicitar verbas do governo federal para a reconstrução. "A UFRN
está em estado de penúria", disse.
Um incêndio destruiu na quinta-feira os laboratórios de Bioquímica e
o de Biologia Celular e Genética do Centro de Biociências da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Um laboratório
específico que a instituição iria utilizar para o acompanhamento do
sequenciamento genético da cana-de-açúcar também foi destruído.
A universidade pretendia integrar a unidade ao projeto Genoma.
A Polícia Federal está investigando o incêndio. Hoje o Corpo de
Bombeiros vistoriou o local para a produção do laudo, que deve ser
divulgado na terça-feira.
Foram queimadas pelo fogo teses de mestrado e doutorado e documentos
de pesquisas sobre os efeitos da substância anticoagulante heparina,
produzida por moluscos e crustáceos - um estudo exclusivo da UFRN.
O diretor do Centro de Biociências, Rank dos Santos Silva, disse que
vai solicitar verbas do governo federal para reconstruir os
laboratórios. Segundo ele, "a UFRN está em estado de penúria".
Fonte: Agência Estado, 25agosto2000.
Como entender por que as serpentes, uma das espécies animais mais
temidas pelo homem desde a pré-história, exercem em nós tão
irresistível atração? Essa atração é uma das principais razões que
tem feito do Butantan uma instituição conhecida mundialmente e
visitada diariamente por centenas de pessoas de todo o mundo.
A fascinação pela serpente é milenar. Para os sumérios, há 4.000 anos,
a imortalidade ou a cura das doenças era uma atribuição do deus
Ningishzida, representado pelas cobras gêmeas. Essas são até hoje o
emblema da medicina.
Os romanos herdaram dos etruscos o culto às serpentes antes de
cederem à influência da medicina grega. Já entre os hebreus, as
serpentes simbolizavam maldição.
No Instituto Butantan, as serpentes são tratadas com respeito e
admiração, pois seu veneno tem ajudado o homem a entender e a curar
doenças.
Como o poder mortal do veneno das serpentes pode ser convertido em
remédio? Na Antiguidade, muitos curandeiros, feiticeiros, médicos e
cientistas buscavam (e ainda buscam) nos venenos o remédio para as
doenças por acreditar que "o mal com o mal se cura" (equivalente ao
aforismo médico "similia similibus curantur").
Foi buscando no veneno da serpente o remédio para a cura dos males
por ele causado que o médico Vital Brazil, fundador do Instituto
Butantan, fez companhia a dezenas de personagens famosos da história
da medicina.
Sua admiração por esses animais não ajudou apenas a desenvolver no
país o soro antiofídico, que tem salvado milhares de vidas, mas
despertou em nossos cientistas o interesse pelas suas toxinas, quer
como instrumentos para entendermos patologias humanas, quer como
remédios.
Os venenos são também uma fonte de cobiça pelo potencial de gerar
riquezas que tem por servirem de modelo para novos remédios e
pesticidas.
É notório que nós, brasileiros, não sabemos valorizar nossas riquezas
naturais. Exemplos existem também no uso farmacêutico dos venenos.
Poucos sabem que foi a partir das pesquisas feitas em laboratórios
brasileiros, com o veneno da jararaca, que a industria farmacêutica
multinacional desenvolveu o captopril, o remédio mais usado para
tratar a hipertensão arterial.
As pesquisas que levaram ao desenvolvimento desse remédio por
multinacionais farmacêuticas geram um faturamento de cerca de US$ 10
bilhões por ano.
Essa quantia é de três a quatro vezes superior à que nosso presidente
quer investir no combate à pobreza no Brasil, ou cem vezes superior
àquela que gastamos na fabricação de vacinas para todo o país.
O veneno da jararaca e o talento de nossos cientistas,
lamentavelmente, não nos deram o direito a usufruir de parcelas do
faturamento dessas indústrias.
Que obstáculos nos impedem de utilizar nosso imenso potencial de
recursos naturais e humanos na geração de produtos e evitar que fatos
semelhantes se repitam?
Entre outros, citamos aquele que é uma das mais visíveis
características do subdesenvolvimento, traduzida pelo fosso que separa
o laboratório de pesquisa (mantido com recursos públicos) da
iniciativa privada. Não que esse fato tenha passado despercebido por
nossos governantes.
Surpreendentemente, no fim do século passado e início deste, foram
criados com essa finalidade os institutos de pesquisa como o
Agronômico, o Butantan, o Adolfo Lutz, o Oswaldo Cruz e tantos outros.
Hoje, entretanto, com raras exceções no Estado de SP, os institutos de
pesquisa, que seriam a interface natural entre as mais desenvolvidas
Universidades brasileiras e a sociedade, não estão preparados para
exercer esse papel fundamental.
O pouco que rendem é obtido segundo o modelo cubano, ineficiente para
os padrões dos paises capitalistas. É fundamental que nosso governo
gere programas que incentivem a aproximação da bancada dos
laboratórios da iniciativa privada.
É igualmente importante entender que não é em nossa capacidade
científica nem na qualidade das nossas indústrias que reside nosso
subdesenvolvimento, mas no abismo que separa esses pólos.
Na área farmacêutica temos, numa ponta, recursos humanos qualificados
provenientes do meio científico e, na outra, uma indústria brasileira
desenvolvida em muitos aspectos, mas com pouquíssima capacidade de
aproveitamento das pesquisas biomédicas.
Passos importantes para a necessária aproximação entre a bancada dos
laboratórios e a iniciativa privada tem sido dados pela Fapesp,
criando iniciativas que ajudam a contornar a falta de coragem do
governo para enfrentar as engrenagens emperradas dessas instituições.
É necessário coragem para superar as poderosas forças políticas que
mantém privilégios, sacrificando nossa capacidade produtiva.
Uma, dentre muitas outras iniciativas pioneiras da Fapesp, é o
programa de criação, em SP, de centros que integram pesquisa,
inovação, educação e transferência de conhecimento e/ou tecnologia à
sociedade ou à iniciativa privada.
Um desses centros selecionados pela Fapesp é o CAT (Centro de
Toxinologia Aplicada), com sede no Instituto Butantan.
Entre outros atributos, esse centro procurará aproximar o Instituto
Butantan e instituições universitárias paulistas das indústrias
farmacêuticas.
Sua aprovação foi fundamentada numa minuciosa avaliação
técnico-científica realizada nos últimos dois anos por especialistas
nacionais e estrangeiros.
Pesquisadores do Instituto Butantan, Unifesp, USP e Unesp estarão
trabalhando em equipes multidisciplinares e os resultados dessas
pesquisas poderão ser repassados à iniciativa privada nacional para o
desenvolvimento de produtos de interesse social. Para isso, o CAT
receberá da Fapesp um apoio financeiro considerável.
É fundamental que o governo do Estado se junte a esse esforço,
tornando os institutos de pesquisa em fontes geradoras de riqueza, e
não em fontes de despesas que, durante muitas décadas, serviram
apenas aos interesses políticos.
Por outro lado, é fundamental que tais instituições se associem à
iniciativa privada para ganhar competitividade e eficiência,
"descubanizando" o Estado e beneficiando a sociedade
Fonte: Folha de SP, 24agosto2000.
Nota do Editor: O autor é médico, professor titular da USP, membro
titular da Academia Brasileira de Ciência e diretor do Centro de
Toxinologia Aplicada
Secretaria Geral SBQ