SBQ - BIÊNIO (2000/2002) BOLETIM ELETRÔNICO No. 202




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Veja nesta edição:
  1. Apoio à pesquisa e à capacitação em ciência e tecnologia no Paraná
  2. VII Escola de Verão em Química Farmacêutica e Química Medicinal
  3. Filiação da SBCat à Associação Internacional de Sociedades de Catálise (IACS)
  4. MCT e MEC criam o comitê gestor do "Fundo dos Fundos"
  5. Ciência e Tecnologia: novos rumos, artigo de Jorge Bittar
  6. Universidade virtual pública entra em atividade em outubro
  7. Universidade virtual, editorial da "Folha de SP": a educação à distância, ferramenta do ensino, pode se transformar em um fim em si mesmo
  8. Fogo destrói laboratório que estudaria genoma da cana
  9. O Butantan, as serpentes e a indústria, artigo de Antonio Carlos de Camargo


1. APOIO À PESQUISA E À CAPACITAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA NO PARANÁ

Membros do Conselho e de Divisões da SBQ, juntamente com representantes da SBF no Paraná, em visita a Fundação Araucária, foram recebidos pelo Diretor Presidente, Gonçalo Signorelli de Farias, pela Diretora de Administração e Finanças Arlete Dias de Moraes e pelo futuro Diretor Científico Nilceu R. X. Nazareno.

"A Fundação Araucária é uma entidade voltada ao amparo à pesquisa e à formação de recursos humanos necessários à mudança do perfil econômico do Paraná e que proporcionem um maior dinamismo à política de criação de oportunidades e qualidade de vida para todos. Os recursos financeiros da Fundação têm origem no Fundo Paraná, que destina 2% da receita tributária do Estado ao desenvolvimento científico e tecnológico. Desse percentual, até 30% são destinados à Fundação. A Fundação Araucária financia projetos, via instituições públicas ou privadas, em pesquisas básicas e aplicadas, assim como eventos de caráter técnico-científico e publicações".

Aos primeiros editais, abertos em maio deste ano correspondeu uma resposta da comunidade científica de 692 projetos de pesquisa relativos ao Edital Programa de Apoio à Pesquisa e à Capacitação em Ciência e Tecnologia. Para estes projetos, que totalizaram solicitações de cerca de R$ 32.500.000,00, estão a disposição apenas R$ 4 milhões. A comunidade química do Estado participou com cerca de 10% dos valores da demanda.

Os representantes da SBQ expressaram suas preocupações com relação a composição dos CA (13 ao todo) que avaliarão os projetos, e opinaram sobre critérios para a qualificação dos membros destes CA. Os membros da diretoria da Fundação Araucária, presentes a reunião garantiram que tratariam com o maior cuidado também este aspecto da composição dos CA. O Diretor Presidente, Gonçalo Signorelli de Farias informou que as autoridades do Governo do Estado, sensíveis a demanda da comunidade científica na solicitação de recursos, prometeram valores bem maiores para o ano de 2001.

A. S. Mangrich, membro do Conselho.


2. VII ESCOLA DE VERÃO EM QUÍMICA FARMACÊUTICA E QUÍMICA MEDICINAL

Estão abertas as inscrições para a VII ESCOLA DE VERÃO EM QUÍMICA FARMACÊUTICA E QUÍMICA MEDICINAL, evento organizado pelo LASSBio, com o apoio da Sociedade Brasileira de Química - Regional Rio de Janeiro, que será realizado na Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, de 22 à 26 de Janeiro de 2001.

A sétima edição do evento contará com a participação de 2 professores estrangeiros, i.e. Prof. Jean-Jacques Bourguignon (Univ. Strasbourg - França) e Profa Madalena M. M. Pinto (Univ. do Porto - Portugal) e professores brasileiros, ministrando 4 cursos e 5 conferências plenárias.

As informações e inscrições podem ser obtidas no site http://www.farmacia.ufrj.br/lassbio/curso2001.htm ou por e-mail para a comissão organizadora, Prof. Carlos Alberto Manssour Fraga (cmfraga@pharma.ufrj.br) ou Prof. Carlos Rangel Rodrigues (rangel@pharma.ufrj.br).


3. FILIAÇÃO DA SBCat À ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE SOCIEDADES DE CATÁLISE (IACS)

A Sociedade Brasileira de Catálise (SBCat) foi criada em 1999 como uma evolução da Comissão de catálise do IBP e visando ocupar novos espaços no nível nacional e internacional. Neste espírito a diretoria da SBCat efetuou, com ampla participação de seus associados, um longo trabalho de preparação de candidatura para ingresso como país membro da Associação Internacional de Sociedades de Catálise (IACS).

O Conselho da IACS é constituído por 53 membros delegados, pesquisadores de grande expressão no contexto internacional na área da catálise (2 representantes de cada um dos 23 países membros, 2 representantes da Federação Iberoamericana de Sociedades de Catálise - Fisocat e 1 representante da IUPAC). Este é o órgão máximo da IACS e tem, dentre suas atribuições, a organização do Congresso Internacional de Catálise (a cada 4 anos) e a previsão das atividades internacionais na área da catálise, sendo de sua responsabilidade a decisão sobre a incorporação de países membros na Associação.

Durante o 12o. Congresso Internacional de Catálise realizado de 9 a 14 de julho de 2000 em Granada na Espanha ocorreu a Assembléia da IACS na qual a SBCat apresentou a sua candidatura a membro permanente do Conselho, asim como o fizeram a África do Sul e a Venezuela.

O presidente da SBCat apresentou a candidatura brasileira mostrando ao Conselho a constituição da SBCat (universidades, centros de pesquisa, empresas), a produção técnica e científica brasileira na área (trabalhos publicados, patentes solicitadas) assim como as atividades de organização e participação em congressos. O Conselho da IACS aprovou as três candidaturas apresentadas, tendo a candidatura brasileira sido aprovada por unanimidade, passando a SBCat a fazer Conselho da IACS.

A obtenção deste reconhecimento era um dos objetivos estabelecidos desde a criação da SBCat e constitui um marco na evolução de nossa Sociedade, consolidando o reconhecimento internacional tão importante para a concretização dos projetos em desenvolvimento.

A Direção da SBCat

Martin Schmal
Dilson Cardoso
Alan Kardec do Nascimento
Roberto Fernando de Souza


4. MCT E MEC CRIAM O COMITÊ GESTOR DO "FUNDO DOS FUNDOS"

Os ministros da C&T, Ronaldo Sardenberg, e da Educação, Paulo Renato Souza, assinaram, nesta quinta-feira, a portaria interministerial instituindo o Comitê Gestor do Fundo de Infra-estrutura, conhecido como Fundos dos Fundos.

O comitê, criado através da Medida Provisória nº 2.021-4, é integrado por representantes do MCT e MEC.

O Fundo consiste na transferência de 20% dos recursos destinados a cada um dos oito "Fundos Setoriais para Desenvolvimento Científico e Tecnológico", para ampliação da infra-estrutura das Universidades e instituições públicas de pesquisa do país.

Este ano, o Fundo dos Fundos contará com um total de R$ 30 milhões, oriundos do CTPetro, em operação desde 99.

Estima-se que em 2001 recursos da ordem de R$ 140 milhões sejam dedicados ao Fundo de Infra-estrutura.

Ao todo, espera-se que os fundos setoriais gerem recursos extras superiores a R$ 1 bilhão por ano.

"O governo tem pressa em implementar a política de C&T no Brasil, por isso, creio que o Fundo dos Fundos, estará regulamentado nos próximos meses", comentou Sardenberg.

A pressa, segundo declarou o ministro em seu discurso, deve-se à decisão do governo de "responder às necessidades no campo do desenvolvimento da ciência e da inovação tecnológica, em especial no contexto de um quadro mundial de revolução dos padrões de desenvolvimento".

Do total destinado ao novo fundo, 30% serão aplicados nas instituições das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil.

"Teremos, assim, uma distribuição regional mais equitativa de recursos, pois permitirá a melhoria da infra-estrutura de pesquisa nas regiões menos favorecidas do país, condição indispensável para que estas possam candidatar-se aos recursos de fomento de C&T no futuro", conclui o ministro.

Representam o MCT no Comitê Gestor o secretário executivo Carlos Américo Pacheco, coordenador do comitê; Evando Mirra, como representante do CNPq, e André Amaral, representando a Finep.

Fonte : Assessoria de Imprensa do MCT


5. CIÊNCIA E TECNOLOGIA: NOVOS RUMOS, ARTIGO DE JORGE BITTAR

Nem tudo é desesperança no país do juiz Nicolau, Luiz Estevão e Eduardo Jorge. No Brasil, onde o governo de FHC se gaba de gerar megassuperávits primários superiores a 30 bilhões de reais por ano, engolidos pelos juros da dívida interna que não para de crescer, há algo de novo acontecendo em uma área fundamental para o crescimento do país: a de C&T.

O Congresso Nacional aprovou, em junho passado, mensagens do presidente propondo a criação de uma série de fundos setoriais destinados a prover recursos para financiar o desenvolvimento da pesquisa científica e tecnológica brasileira.

Ao todo, prevê-se a injeção de 1 bilhão de reais a mais por ano para a ciência e tecnologia em projetos setoriais de energia, telecomunicações, recursos hídricos, espacial, entre outros.

Além disto, 20% (ou seja, 200 milhões de reais por ano) destinam-se à renovação da infra-estrutura dos centros de pesquisas, beneficiando, sobretudo, as Universidades federais, duramente atingidas pela escassez de recursos orçamentários na última década.

Na contramão de seu discurso modernizante e globalizante, o governo FHC permitiu o esvaziamento do já debilitado setor de C&T brasileiro. Vários fatores contribuiram para isto.

Além do já conhecido sucateamento das Universidades públicas, os diversos centros de pesquisa públicos foram também vítimas da obsessão do ajuste fiscal que restringiu salários de pesquisadores e recursos para custeio e investimentos, comprometendo a continuidade de muitos projetos de grande importância.

Já os centros de pesquisas das empresas estatais envolvidas no Programa Nacional de Desestatização, como o CEPEL (Energia Elétrica) e o CPqD (Telecomunicações), perderam não só os recursos financeiros mas também o rumo, uma vez que por razões óbvias as operadoras privadas, na ausência de obrigações contratuais acerca da tecnologia e política industrial, se contentam em adquirir produtos de tecnologia desenvolvida no exterior.

A garantia de recursos regulares para o setor de C&T deve ser saudada com entusiasmo. É condição necessária para a revitalização da área. Porém, não é suficiente, pois não adianta ter dinheiro sem participação efetiva.

É preciso um planejamento estratégico para o setor, elaborado com a participação dos atores sociais envolvidos. O MCT deve praticar o compromisso assumido quando da tramitação dos projetos de criação dos fundos no Congresso Nacional de rever o regulamento do FNDCT (Fundo Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico), constituindo conselho de gestão dos fundos com participação dos órgãos federais, da comunidade científica, do setor produtivo e das secretarias estaduais de C&T.

Outro aspecto fundamental é a política industrial, praticamente abandonada desde os idos do governo Collor, que deve ter absoluta sintonia com a política de C&T, sobretudo neste periodo de revolução tecnológica.

O resultado da década perdida em termos de C&T e política industrial está espelhado em nossa balança comercial, desequilibrada pela importação de produtos que incorporam tecnologia de ponta e, portanto, de grande valor agregado, e, por outro lado, pela pauta de exportações que é dominada por produtos primários.

É o próprio governo quem diz que a balança comercial é hoje um dos principais gargalos para a retomada do crescimento econômico sustentável do país.

A honrosa exceção neste quadro é a Embraer, que se viabilizou fruto da visão estratégica setorial do antigo Ministério da Aeronáutica, que durante décadas, apesar das dificuldades, manteve o CTA e o ITA como âncoras para o desenvolvimento sustentável para o setor.

Hoje, com a privatização e em mãos do capital brasileiro, a empresa continua a se beneficiar do ambiente científico e tecnológico que o CTA e o ITA lhe propiciam.

Outro forte exemplo vem do governo de SP que, através da Fapesp, com recursos financeiros contínuos está gerando um resultado extraordinário na pesquisa genética, seja na área de saúde, seja na agroindústria.

O que se espera é que a iniciativa de formar os fundos setoriais torne-se referência para mudanças profundas na política de C&T, que assegure uma concepção estratégica para o setor, recursos financeiros contínuos e um processo de gestão democrático para o desenvolvimento da área.

Fonte:O Globo, 22agosto2000.

Nota do Editor: O autor é dep. federal (PT-RJ) e membro da Comissão de C&T, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados.


6. UNIVERSIDADE VIRTUAL PÚBLICA ENTRA EM ATIVIDADE EM OUTUBRO

Reitores e professores de 62 instituições públicas de ensino superior lançaram ontem a Rede Universidade Virtual Pública do Brasil (UniRede), que vai oferecer a partir de outubro três cursos de extensão e especialização à distância. A meta, em um ou dois anos, é criar turmas de licenciatura para formar professores em nível universitário.

O consórcio calcula em R$ 10 milhões o valor necessário para dar início às atividades. A maior parte desse valor está sendo negociada com os Ministérios da Educação (R$ 2,3 milhões) e da C&T (R$ 4,4 milhões), além de prefeituras (R$ 1,8 milhão). O restante deverá sair de contribuições da sociedade civil.

O início dos cursos será em 15 de outubro. Um deles vai atender cerca de 700 professores das 62 instituições da UniRede (www.unirede.br), treinando-os para que, mais tarde, sejam responsáveis pelos cursos de licenciatura da Universidade virtual.

O objetivo maior é formar em nível superior os cerca de 600 mil professores de ensino médio e fundamental que não tem diploma universitário no país.

Outro curso previsto para começar em outubro, com 30 mil vagas, é o de capacitação de professores para o programa TV Escola. O terceiro será um apanhado histórico das Constituições brasileiras, dirigido a assessores parlamentares.

As instituições paulistas que participam do projeto são a Estadual de Campinas (Unicamp), Federal de SP (Unifesp) e Federal de São Carlos (UFSCar). Outras 25, entre elas a USP, estão em processo de adesão.

"O mais difícil hoje, no Brasil e no mundo, é desenvolver metodologias de ensino usando as novas tecnologias", disse o ministro da Educação, Paulo Renato Souza. "Não se trata simplesmente de botar dentro do computador o que o professor ensina."

Fonte: O Estado de SP, 24agosto2000.


7. UNIVERSIDADE VIRTUAL, EDITORIAL DA "FOLHA DE SP": A EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA, FERRAMENTA DO ENSINO, PODE SE TRANSFORMAR EM UM FIM EM SI MESMO

Muitos autores já comparam a Internet à revolução da imprensa, no século 15, possibilitada pelos tipos móveis de Johannes Gutenberg. É sempre difícil, estando no meio de um processo, avaliar com propriedade o seu impacto futuro, mas a analogia parece proceder.

Embora a máquina desenvolvida pelo inventor alemão não tenha alterado a escrita propriamente dita, permitiu-lhe uma difusão antes nem mesmo imaginada. Julgando a posteriori, é fácil afirmar que os tipos mudaram o curso da história.

Da mesma forma que a imprensa dispensava o trabalho do copista, a Internet, aliada a outros avanços tecnológicos, elimina barreiras físicas e geográficas à divulgação do conhecimento. Uma das repercussões evidentes é sobre a educação.

Assim, é correta a aposta do governo federal na educação à distância. O efeito multiplicador da rede não pode ser desprezado. É portanto boa notícia a criação da Universidade virtual, visando a atingir 600 mil professores do ensino básico sem formação acadêmica.

Parece exagerada a meta de matricular 100 mil nos próximos dois anos, mas o princípio é mais importante do que os números.

Vale ressaltar que as novas tecnologias de comunicação não substituem as formas mais tradicionais de ensino. Da mesma forma que o livro pós-gutenberguiano não aposentou o mestre, a possibilidade de transmitir aulas e informações à distância não torna de modo nenhum a presença local do professor dispensável.

A iniciativa da Universidade virtual é boa, mas, da mesma forma que um mau livro pode ter consequências desastrosas, erros na implantação desse projeto podem multiplicar problemas. Um dos riscos é acabar transformando a educação à distância, uma ferramenta do ensino, em um fim em si mesmo.

O resultado seria a construção de uma Universidade, virtual sim, mas em outro sentido: que eleva os índices de titulação do brasileiro, mantendo mais ou menos inalterada a sua formação.

Fonte:Folha de SP, 25agosto2000.


8. FOGO DESTRÓI LABORATÓRIO QUE ESTUDARIA GENOMA DA CANA

O diretor do Centro de Biociências, Rank dos Santos Silva, disse que vai solicitar verbas do governo federal para a reconstrução. "A UFRN está em estado de penúria", disse.

Um incêndio destruiu na quinta-feira os laboratórios de Bioquímica e o de Biologia Celular e Genética do Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Um laboratório específico que a instituição iria utilizar para o acompanhamento do sequenciamento genético da cana-de-açúcar também foi destruído. A universidade pretendia integrar a unidade ao projeto Genoma.

A Polícia Federal está investigando o incêndio. Hoje o Corpo de Bombeiros vistoriou o local para a produção do laudo, que deve ser divulgado na terça-feira.

Foram queimadas pelo fogo teses de mestrado e doutorado e documentos de pesquisas sobre os efeitos da substância anticoagulante heparina, produzida por moluscos e crustáceos - um estudo exclusivo da UFRN.

O diretor do Centro de Biociências, Rank dos Santos Silva, disse que vai solicitar verbas do governo federal para reconstruir os laboratórios. Segundo ele, "a UFRN está em estado de penúria".

Fonte: Agência Estado, 25agosto2000.


9. O BUTANTAN, AS SERPENTES E A INDÚSTRIA, ARTIGO DE ANTONIO CARLOS DE CAMARGO

Como entender por que as serpentes, uma das espécies animais mais temidas pelo homem desde a pré-história, exercem em nós tão irresistível atração? Essa atração é uma das principais razões que tem feito do Butantan uma instituição conhecida mundialmente e visitada diariamente por centenas de pessoas de todo o mundo.

A fascinação pela serpente é milenar. Para os sumérios, há 4.000 anos, a imortalidade ou a cura das doenças era uma atribuição do deus Ningishzida, representado pelas cobras gêmeas. Essas são até hoje o emblema da medicina.

Os romanos herdaram dos etruscos o culto às serpentes antes de cederem à influência da medicina grega. Já entre os hebreus, as serpentes simbolizavam maldição.

No Instituto Butantan, as serpentes são tratadas com respeito e admiração, pois seu veneno tem ajudado o homem a entender e a curar doenças.

Como o poder mortal do veneno das serpentes pode ser convertido em remédio? Na Antiguidade, muitos curandeiros, feiticeiros, médicos e cientistas buscavam (e ainda buscam) nos venenos o remédio para as doenças por acreditar que "o mal com o mal se cura" (equivalente ao aforismo médico "similia similibus curantur").

Foi buscando no veneno da serpente o remédio para a cura dos males por ele causado que o médico Vital Brazil, fundador do Instituto Butantan, fez companhia a dezenas de personagens famosos da história da medicina.

Sua admiração por esses animais não ajudou apenas a desenvolver no país o soro antiofídico, que tem salvado milhares de vidas, mas despertou em nossos cientistas o interesse pelas suas toxinas, quer como instrumentos para entendermos patologias humanas, quer como remédios.

Os venenos são também uma fonte de cobiça pelo potencial de gerar riquezas que tem por servirem de modelo para novos remédios e pesticidas.

É notório que nós, brasileiros, não sabemos valorizar nossas riquezas naturais. Exemplos existem também no uso farmacêutico dos venenos.

Poucos sabem que foi a partir das pesquisas feitas em laboratórios brasileiros, com o veneno da jararaca, que a industria farmacêutica multinacional desenvolveu o captopril, o remédio mais usado para tratar a hipertensão arterial.

As pesquisas que levaram ao desenvolvimento desse remédio por multinacionais farmacêuticas geram um faturamento de cerca de US$ 10 bilhões por ano.

Essa quantia é de três a quatro vezes superior à que nosso presidente quer investir no combate à pobreza no Brasil, ou cem vezes superior àquela que gastamos na fabricação de vacinas para todo o país.

O veneno da jararaca e o talento de nossos cientistas, lamentavelmente, não nos deram o direito a usufruir de parcelas do faturamento dessas indústrias.

Que obstáculos nos impedem de utilizar nosso imenso potencial de recursos naturais e humanos na geração de produtos e evitar que fatos semelhantes se repitam?

Entre outros, citamos aquele que é uma das mais visíveis características do subdesenvolvimento, traduzida pelo fosso que separa o laboratório de pesquisa (mantido com recursos públicos) da iniciativa privada. Não que esse fato tenha passado despercebido por nossos governantes.

Surpreendentemente, no fim do século passado e início deste, foram criados com essa finalidade os institutos de pesquisa como o Agronômico, o Butantan, o Adolfo Lutz, o Oswaldo Cruz e tantos outros.

Hoje, entretanto, com raras exceções no Estado de SP, os institutos de pesquisa, que seriam a interface natural entre as mais desenvolvidas Universidades brasileiras e a sociedade, não estão preparados para exercer esse papel fundamental.

O pouco que rendem é obtido segundo o modelo cubano, ineficiente para os padrões dos paises capitalistas. É fundamental que nosso governo gere programas que incentivem a aproximação da bancada dos laboratórios da iniciativa privada.

É igualmente importante entender que não é em nossa capacidade científica nem na qualidade das nossas indústrias que reside nosso subdesenvolvimento, mas no abismo que separa esses pólos.

Na área farmacêutica temos, numa ponta, recursos humanos qualificados provenientes do meio científico e, na outra, uma indústria brasileira desenvolvida em muitos aspectos, mas com pouquíssima capacidade de aproveitamento das pesquisas biomédicas.

Passos importantes para a necessária aproximação entre a bancada dos laboratórios e a iniciativa privada tem sido dados pela Fapesp, criando iniciativas que ajudam a contornar a falta de coragem do governo para enfrentar as engrenagens emperradas dessas instituições.

É necessário coragem para superar as poderosas forças políticas que mantém privilégios, sacrificando nossa capacidade produtiva.

Uma, dentre muitas outras iniciativas pioneiras da Fapesp, é o programa de criação, em SP, de centros que integram pesquisa, inovação, educação e transferência de conhecimento e/ou tecnologia à sociedade ou à iniciativa privada.

Um desses centros selecionados pela Fapesp é o CAT (Centro de Toxinologia Aplicada), com sede no Instituto Butantan.

Entre outros atributos, esse centro procurará aproximar o Instituto Butantan e instituições universitárias paulistas das indústrias farmacêuticas.

Sua aprovação foi fundamentada numa minuciosa avaliação técnico-científica realizada nos últimos dois anos por especialistas nacionais e estrangeiros.

Pesquisadores do Instituto Butantan, Unifesp, USP e Unesp estarão trabalhando em equipes multidisciplinares e os resultados dessas pesquisas poderão ser repassados à iniciativa privada nacional para o desenvolvimento de produtos de interesse social. Para isso, o CAT receberá da Fapesp um apoio financeiro considerável.

É fundamental que o governo do Estado se junte a esse esforço, tornando os institutos de pesquisa em fontes geradoras de riqueza, e não em fontes de despesas que, durante muitas décadas, serviram apenas aos interesses políticos.

Por outro lado, é fundamental que tais instituições se associem à iniciativa privada para ganhar competitividade e eficiência, "descubanizando" o Estado e beneficiando a sociedade

Fonte: Folha de SP, 24agosto2000.

Nota do Editor: O autor é médico, professor titular da USP, membro titular da Academia Brasileira de Ciência e diretor do Centro de Toxinologia Aplicada


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