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SBQ - BIÊNIO (98/2000)      BOLETIM ELETRÔNICO      No. 87
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Veja nesta edição:

1. Informações sobre a 22a  RA SBQ
2. A ciência diante da economia brasileira, artigo de Washington Novaes
3. Carta assinada por 6011 pessoas é entregue ao secretario de C&T e meio ambiente de Pernambuco pela secretaria regional da SBPC/PE
4. Sabotagem tirou nobel de Chagas
5. Otto Gottlieb, pioneiro dos produtos naturais, pode ganhar Nobel
6. Nota da divisão de química orgânica
7. Faleceu Prof. Stadler

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1. INFORMAÇÕES SOBRE A 22a RA SBQ
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   Gostaríamos de informar que estamos nos preparativos finais para a 22a RA SBQ. A programação da reunião será divulgada no número 3 de Química Nova e no sítio da SBQ na internet.
   Aqueles que ainda não fizeram inscrições nos cursos que serão oferecidos durante a RA, por favor o façam quanto antes, pois alguns deles já estão com as vagas esgotadas. As inscrições previas, também facilitam sobremaneira o trabalho da secretaria.
   Temos recebido algumas reclamações sobre reservas de hotéis em Poços, principalmente, com relação a pessoas que querem permanecer na cidade por um tempo inferior a quatro dias. Gostaríamos de lembrar que para conseguir bons preços temos que negociar tempo de permanência. Alem disso gostaríamos que todos permanecessem na RA durante todo o evento.
Entretanto, esta não sido condição essencial para as negociações. Quem tiver problemas a este respeito, favor relatar a secretaria geral.
   Sobre financiamentos, temos a informar que já recebemos as repostas sobre nossos pedidos de auxílios e que, estes foram aquém das nossas expectativas. Estamos reconsideração nas respectivas agencias para tentar melhorar o nosso orçamento. Ainda nesta semana estaremos divulgando a relação dos nomes dos alunos de IC que foram contemplados com o auxilio
participação da SBQ.

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2. A CIÊNCIA DIANTE DA ECONOMIA BRASILEIRA, ARTIGO DE WASHINGTON NOVAES
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   Em artigo publicado em 16/4  "O Estado de SP", Novaes, especialista em questões de meio ambiente e ex-secretário de Meio Ambiente do Distrito Federal, focaliza os debates havidos no seminário sobre C&T para a Agenda 21, na semana passada em Brasília.
   O encontro discutiu, entre outros problemas, o do baixo investimento empresarial no Brasil em C&T e a redução dos recursos orçamentários das empresas estatais.
   Novaes observa que "o Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex) está tendo seus recursos reduzidos -- assim como o próprio orçamento global para a área de C&T, este ano 40% menor que o de 98".
   Ele salienta as recomendações básicas do seminário:
   - Estimular um processo endógeno de geração e inovação de tecnologias nas empresas, mediante cooperação entre elas;
   - estimulo estatal à constituição de grandes grupos empresariais com
massa critica para desenvolver esforço tecnológico capaz de transforma-los em 'global players', verdadeiros atores no cenário global;
   - concessão de benefícios fiscais para isso, exigindo como contrapartida aumento de produtividade, avanço na qualidade e competitividade, padores ambientais e adequação social;
   - construir sistemas ou programas de extensão capazes de elevar o padrão tecnológico nacional;
   - criar nichos de mercado mediante uso de tecnologias que gerem alto valor agregado;
   - universalização do ensino básico e treinamento no local de trabalho, associado à redução da rotatividade da mão de obra.
   Novaes conclui que :
   "É um roteiro básico. Mas é, principalmente, uma reflexão capaz de definir rumos que nos retirem das discussões apenas imediatistas em torno do regime e das agruras cambiais.
   Que assentem outros marcos para esse debate, principalmente o de um modelo fundado nas especificidades tropicais brasileiras, como vários pensadores já defendem."

Fonte : O Estado de São Paulo, 16abril99
Nota: Washington Novaes foi um dos convidados para conferencia plenária na nossa 21a RA SQBQ.

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3. CARTA ASSINADA POR 601 PESSOAS É ENTREGUE AO SECRETÁRIO DE C&T E MEIO
   AMBIENTE DE PERNAMBUCO PELA SECRETARIA REGIONAL DA SBPC/PE
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   "A SBPC, Secretaria Regional de Pernambuco e a comunidade científica do Estado, cientes de seu papel na geração e divulgação de conhecimento, vem mui respeitosamente manifestar a V. Sa. as suas preocupações no que concerne à defesa da continuidade dos investimentos em Ciência e Tecnologia no Estado.
   Somos testemunha do papel de fundamental importância desenvolvido pela Facepe (Fundação de Apoio à C&T de PE), no desenvolvimento sustentável de Pernambuco, papel este demonstrado pela geração de divisas para diversos projetos de pesquisa por ela financiados.
   Por outro lado, na área de formação de recursos humanos a Facepe tem papel preponderante na descoberta de novos talentos científicos, treinamento e fixação de técnicos em diversas áreas do conhecimento, alem do indispensável apoio a grupos de pesquisas emergentes.
   A Facepe, desde sua fundação, tem sido um órgão imprescindível e muitas vezes único no financiamento de pesquisa no âmbito das Universidades e empresas estatais em Pernambuco.
   Somos sabedores da crise econômica que o Brasil enfrenta atualmente, mas acreditamos na pesquisa e no desenvolvimento em C&T como maneira mais eficiente de atingirmos um estagio de desenvolvimento que garanta a
auto-sustentabilidade e promova uma maior igualdade social.
   Pelo exposto gostaríamos de externar a nossa preocupação com a situação do repasse de recursos para a Facepe, previstos na Constituição Estadual e solicitar vossa atenção especial para este assunto, com a regularização da
situação financeira da Facepe que incluirá pagamento de bolsistas, a complementação dos pagamentos dos auxílios a pesquisa já iniciados e a contratação dos novos projetos já aprovados pelas camaras assessoras e diretoria científica, que aguardam o orçamento do Estado.
   Acreditamos que os recursos que se aplicam em C&T não são "gastos" mas sim "investimentos" de alto retorno econômico e social e que o futuro de Pernambuco estará sendo alicerçado pela adoção dessas medidas prioritárias no âmbito da C&T."
   Assinaram a carta membros destas instituições: Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Universidade de Pernambuco UPE),Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),Universidade Federal de Minas Gerias (UFMG), ANDES, Adufepe, Aduferpe, Adupe, IPA., SAG/PE, CENEUP, DNOCS, CREA, COMPESA, FUNDAJ, Embrapa, IPA, CODAI, CPRH, Ibama, Fiocruz/CNPq, Assembléia Legislativa de PE, Associação Pernambucana de Engenheiros Florestais, Associação Pernambucana de Ciências, Academia Pernambucana de Ciências Agronômicas, Alunos de pós-graduação e bolsistas do CNPq, Capes e Facepe.
   A referida carta foi entregue  ao secretario Cláudio Marinho pelo secretario regional da SBPC/PE, José Antônio Aleixo da Silva, que a assina junto com 600 pessoas das instituições citadas acima.

Fonte : JC E-mail 17abril99

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4. SABOTAGEM TIROU NOBEL DE CHAGAS
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   Nas comemorações pelo 90 aniversario da descoberta da doença de Chagas realizadas na Academia brasileira de Medicina, Marília Coutinho (UnB), professora visitante da Universidade da Florida, em Gainesville (EUA), apresentou ontem um trabalho de investigação sobre por que, embora indicado duas vezes ao Prêmio Nobel de medicina, em 1913 e 1921, o cientista nunca foi contemplado.
   Em oito meses, Carlos Chagas descobriu o vetor, o parasita e os sintomas da doença que leva seu nome, façanha nunca igualada por outro cientista. Na época, tinha apenas 30 anos e seis de formado.
   No entanto, encaminhado duas vezes ao Instituto Karolinska da Suécia, responsável pela concessão do Nobel, seu nome foi sabotado dentro do próprio Brasil por colegas certamente com ciúmes de seu sucesso.
   Em 1921, era o único indicado e ninguém levou o prêmio.
  "Na cultura política brasileira era inconcebível que alguém chegasse a algum cargo por mérito próprio", explicou Marília, que fez pós-doutorado em Estudos Sociais da Ciência e optou pela pesquisa sobre a rejeição a Carlos Chagas depois que deu com nota de rodapé, em uma publicação de 1921, mencionando rapidamente a indicação. Nas pesquisas na Suécia, Marília descobriu as duas nomeações oficiais do professor: em 1913 seu nome foi encaminhado pelo parasitologista
Pirajá da Silva , descobridor do Schistosoma mansoni; em 1921, por H. Gouvea.
   Pouco depois de ter sido indicado, Carlos Chagas foi alvo de uma maciça campanha de oposição e em um debate na Academia de Medicina foi atacado publicamente por Afranio Peixoto, Henrique Aragão e Figueiredo de Vasconcelos.
   O trio chegou a dizer que o Trypanosoma cruzi, o parasita do mal de Chagas, não era virulento e que a doença (até hoje endêmica nas América do Sul e Central) não tinha alcance epidemiológico.
   "Chagas foi difamado no país e no exterior, possivelmente por ciúmes relacionados com a rejeição ao sistema de mérito", constatou a professora.
   "Os países latino-americanos, em geral, tem dificuldade de assimilar critérios de mérito e avaliação. Carlos Chagas era um outsider no exterior e em seu próprio pais. Esta dificuldade em aceitar o sucesso dos outros, em nada contribui para que a ciência feita nos países em desenvolvimento se firme no exterior."

Fonte : Jornal do Brasil, 16abril99

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5. OTTO GOTTLIEB, PIONEIRO DOS PRODUTOS NATURAIS PODE GANHAR NOBEL
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    O químico Otto Gottlieb, de 78 anos, é um dos mais importantes cientistas brasileiros e pode se tornar o primeiro a ganhar um Nobel.
   Ele foi indicado para o prêmio de Química de 99 por seu trabalho pioneiro no estudo da composição das plantas, realizado ao longo dos últimos 40 anos.
   Seu trabalho foi fundamental para revelar a enorme Biodiversidade da flora brasileira, a mais rica do mundo.
   O homem que se apaixonou pela Amazônia muito antes de meio ambiente virar moda desenvolveu uma obra pioneira, criou uma nova área da ciência que integra química e biologia e descobriu produtos naturais vegetais com grande importância para a medicina e a industria.
  Gottlieb nasceu em Brno, na Republica Tcheca, em 1920, mas veio para o Brasil com a família ainda muito jovem e se naturalizou brasileiro. Fez toda sua carreira no país e descobriu muito cedo o amor pela flora nativa, quando trabalhava na fabrica de óleos para perfumaria do pai.
   Ao longo dos últimos 40 anos, ele criou cursos e grupos de pesquisa em algumas das Universidades e centros científicos mais importantes do Brasil, apresentando a seus alunos e colaboradores os métodos que desenvolveu para explicar a vida na Terra através da química. Nos últimos anos transferiu-se para a Fiocruz.
   O currículo, que inclui 630 trabalhos científicos, cinco livros, 1.100 comunicações cientificas e 580 conferencias em 26 países, é impressionante e exibe ainda o mais cobiçado prêmio da especialidade, o Pergamon de Fitoquímica, em 1992.
   Mas o professor Gottlieb acredita que tem muito o que fazer pela frente. Ele não gosta de falar da indicação para o Nobel. Limita-se a dizer que só o fato de ter sido lembrado é importante. A indicação, porem, já ganhou o apoio da Faperj. O diretor-superintendente do órgão, Fernando Peregrino, diz que apoia a visita de uma comissão do comitê julgador do Nobel ao Brasil para ver de perto a obra do pesquisador que pode trazer para o pais o prêmio mais importante da ciência.
A seguir, os principais pontos da entrevista.

CIÊNCIA E ARTE:
   "A ciência é como arte. Reflete o bem e o mal, mas não pode ser tolhida. Sinto falta de liberdade e de maior apoio à pesquisa básica, que não pode ser dirigida por interesses econômicos imediatistas. Aqui cientista é confundido com tecnologista. Procura-se sempre uma aplicação imediata. Mas é preciso ter liberdade para conceber novas idéias. O
cientista não pensa no presente. Pensa no futuro. O Brasil só terá futuro se tiver uma ciência que pense nele. Fazer ciência é essencial ao futuro de qualquer país."

MODELO PARA O MUNDO:
   "Trabalho em varias coisas. Mas, no momento, tenho interesse em entender como o desequilíbrio ambiental pode provocar a ocorrência de novas doenças e trazer de volta outras consideradas erradicadas, como a malária. Na verdade, isso faz parte de um projeto maior ligado á compreensão da Biodiversidade brasileira. Junto com as pesquisadoras Maria
Renata Borin e Dorothea Zocher, procuro quantificar a Biodiversidade. Criar modelos numéricos que permitam prever interações ambientais. O Brasil constitui um modelo ambiental para o mundo. Temos dez tipos diferentes de cobertura vegetal. Se descobrirmos os mecanismos usados pela natureza para criar tanta riqueza, poderemos exportar esse conhecimento. Queremos descobrir, por exemplo, de onde vem a enorme diversidade da Mata Atlântica."

TESOUROS DO CERRADO:
   "A riqueza genética do Cerrado é maior do que a da Amazônia. Acredito que sofreríamos mais sem o Cerrado do que sem a Amazônia. O Cerrado é muito vulnerável e funciona como um elo entre os ecossistemas do Brasil."

O QUE FALTA DESCOBRIR:
   "É uma tarefa absolutamente fantástica. Não sabemos nada sobre a composição química de 99% da flora brasileira. E o Brasil é o país mais rico do mundo em plantas superiores, tem 55 mil espécies e pode ter ainda muitas outras ainda desconhecidas."

GRANDES ALEGRIAS:
   "Minha maior satisfação foi ter ajudado a despertar esse país para as maravilhas que possui. Espero ter forças para continuar a transmitir o que aprendi. Tive a oportunidade de mostrar a enorme riqueza química das plantas brasileiras e de chamar a atenção para o estudo da química integrada à biologia, que possibilitou a descoberta de produtos naturais
importantes, como as neolignanas, que representam uma nova classe de antiinflamatórios. Um pesquisador da Fiocruz descobriu que elas tem ação antidiurética."

DECEPÇÕES:
   "Fico triste de ver que até hoje o Brasil, o país mais rico do mundo em plantas, ainda não dá a devida importância ao assunto. Ainda não há nenhuma iniciativa significativa a esse respeito. É preciso mudar a forma de financiamento de pesquisas."

BIOPIRATARIA:
   "Fala-se o tempo todo em biopirataria. Mas não se faz nada. O financiamento para pesquisas nessa área é ridículo. Sou completamente contra a biopirataria, mas é difícil imaginar que a comunidade internacional vai ficar sentada esperando que um dia o Brasil decida finalmente explorar seus próprios recursos. Durante muito anos, fez-se enorme pouco caso do assunto."

BIODIVERSIDADE E HOLISMO:
   "É comum ter uma visão reducionista da Biodiversidade, tentando entende-la por um só angulo. Mas a natureza é dinâmica e precisa ser encarada de forma ampla, holistica."

INSPIRAÇÃO:
   "Devemos estudar aquilo que temos. No Brasil, é só olhar em volta para encontrar inspiração para o trabalho. Desenvolvi toda a minha carreira aqui."

(O Globo, 2/5)

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6. NOTA DA DIVISÃO DE QUÍMICA ORGÂNICA
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   A DQO informa que a participação do Professor Michael Pirrung na 22a. RA SBQ foi cancelada. O Prof. Dr. Edson Lima, IQ-UFRJ, estará oferecendo o curso "Introdução a Síntese em Fase Sólida e Química Combinatória".
Contamos com a participação de todos os interessados.

Ronaldo Aloise Pilli
Divisão de Química Orgânica

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7. FALECEU PROF. STADLER
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   É com pesar que anunciamos o falecimento do professor Dr. Eduardo Stadler do Departamento de Química - UFSC (12/04/1954 - 24/04/1999)

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Secretaria Geral SBQ
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Contribuições devem ser enviadas para:        paulosbq@dq.ufscar.br
http://www.sbq.org.br
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