Pela primeira vez, uma reunião da SBQ tem cobertura online!
O QMCWEB, uma revista eletrônica de química, sediada no
Departamento de Química da Universidade Federal de Santa Catarina
- UFSC, esteve presente na 23a. Reunião Anual da SBQ fazendo a
cobertura do evento pela Internet. Boletins diários foram para o
site, durante o encontro, com fotos, entrevistas, resumos de
painéis e muito mais. O QMCWEB já é o site de química em
português mais acessado no Brasil.
Visite: www.qmc.ufsc.br
2. Universidade Católica de Brasília - Vagas
A Universidade Católica de Brasília está abrindo vagas nas
áreas de Química Inorgânica e Química Analítica para mestres e
doutores. Os interessados devem encaminhar os seus currículos,
junto com uma proposta de projeto de pesquisa, (uma a duas
folhas, no máximo), até o dia 23 de junho, para o endereço:
A/C Carlos Frederico de Souza Castro
Universidade Católica de Brasília
Curso de Química
Q.S. 07 Lote 1 EPCT Águas Claras
Taguatinga - DF
CEP: 72030-170
Maiores informações:
tel: (0xx61) 356-9178
e-mail: fred@ucb.br
3. Democratizar a ciência, artigo de Mourad Ibrahim Belaciano
Os fundos setoriais criados pelo governo federal - ou o
redirecionamento de recursos para financiamento da pesquisa e
desenvolvimento de tecnologias - prometem ser a oferta de
recursos de investigação cientifica mais inédita em toda a
história do Brasil. Trazem à reflexão o papel da ciência e da
tecnologia, bem como o significado de fazer ciência hoje.
Sem dúvida serão recursos muito bem vindos a um setor que
cheira a abandono e falta de perspectiva, mas é necessário
refletir se a sociedade tem tido consciência do uso adequado do
conhecimento gerado para seu bem-estar. Como o conhecimento é
um ponto crítico do crescimento em qualquer sociedade, referir-se
à ciência no mundo atual é o mesmo que referir-se às bases de
sustentação do desenvolvimento.
A expansão acelerada da C&T em ambito mundial não significa que
exista um
desenvolvimento homogêneo e equitativo, donde se deduz que a
ciência pode muito mas não tudo. Ao contrário, o abismo entre os
paises é crescente, pois as novas tecnologias decorrentes fazem
surgir tambem novas estratégias agrícolas, industriais e de
serviços apoiadas nas chamadas tecnologias ''chaves''.
Se ampliarmos o conceito de tecnologias inovadoras também para as
chamadas ciências sociais, cujos mecanismos são indispensáveis no
ajuste e na formulação das políticas públicas (saúde, educação,
assistência e previdenciaria social, saneamento, transporte,
lazer, cultura e outras), devemos indagar a que problemas do
cotidiano as investigações respondem concretamente.
Nao é à toa que o cidadão - que com seus impostos financiam essas
pesquisas - pergunta se esses conhecimentos são fatores de
transformação e de progresso, pois, em face deles, sente-se um
mero e passivo espectador. Pergunta também como essa disposição
gigantesca de conhecimentos são aproveitados no país, se é que
são. Como o Brasil ainda não superou as etapas prévias de
incorporação da ciência e da tecnologia (inclusive sociais),
esse mesmo cidadão sabe que o país ainda está longe de uma
estratégia sólida de desenvolvimento - e portanto seus
benefícios não o alcançam.
Para ele, a realidade continua impondo desafios de qualidade de
vida, para os quais a ciência e a tecnologia deveriam estar
exercendo uma função estratégica na superação dos grandes
problemas que o país tem.
Para ele, o merito não está na descoberta de novidades
científicas,mas na assimilação dos conhecimentos e sua
aplicação com propósitos bem definidos, como a abertura de rotas
de superação do atraso, das dificuldades e da miséria.
É sabido que as políticas econômicas, em vez de darem lugar a
uma maior equidade e bem-estar social, continuam impactando a
realidade de maneira dramática.
Devido ao papel que a ciência e a tecnologia exercem na geração
e distribuição das riquezas, delas se requer estratégias de
redistribuição do conhecimento.
Como o processo de globalização nao deixa margem a ilusões,
precisamos de maior consciência e coerência na definição de
quais necessidades e carencias o país deve concentrar a ciência
e a tecnologia. Não podemos nos dar o luxo de gastar balas qual
um cego em tiroteio.
Concentrar investigação e conhecimentos sobre as necessidades e
carências oferece ilimitadas possibilidades, permitindo o
desenvolvimento de tecnologias adequadas ao grau e ao modelo de
desenvolvimento que queremos alcançar.
Essa é a razão por que a gestão do governo na investigação é
orientar a elaboração de uma agenda ou políticas científicas
considerando a opinião do cidadão a respeito.
Para que ela sirva ao bem comum, depende da sociedade organizada
e de um governo democrático que defina aquilo que deve ser feito
- e bem feito. Nesse processo, a Universidade pode desempenhar
papel chave, formando redes de caráter temático ou regional com
enfase em áreas do conhecimento.
Materializá-las significa desenvolver sistemas educacionais
para os novos tempos, construindo agendas de educação e de
pesquisa e gerando uma cultura onde integração e cooperação
transversalizem iniciativas e projetos que transcendam
interesses particulares e busquem atingir os problemas e
carências que o país deve superar.
Elas tem a missão de aumentar a formação de pesquisadores e
redesenhar currículos, sintetizando o saber no contexto de
mudanças em inúmeras áreas da vida do cidadão.
Não é só dinheiro que falta. Falta direcionalidade. Se os
cientistas tem o direito de que não se duvide da necessidade
de incrementar o saber científico, muito mais direito tem o
cidadão comum em querer saber, cada vez mais, sobre o uso das
aplicações científicas, muitas vezes descuidadas ou
inapropriadas.
Tratar o problema da pesquisa só como problema de recursos é
mantê-la longe do alcance do cidadão comum. É representar o
sentido de ''mandarins'' do Estado, que imaginam dirigir a
formação da sociedade do futuro do alto de um saber que a
nação desconhece, acabando por servir de legitimação
ao statu quo.
Esses recursos não devem servir para formar e reforçar
repúblicas de pesquisadores. Só com a incorporação do cidadão
comum a esse debate a utilização do conhecimento seguirá no
rumo das suas necessidades, razão por que incorporar o cidadão
a esses temas em debate significa também democratizar a
sociedade.
Redefinir e liberar recursos é o mais fácil. Difícil é o resto.
Criados os fundos, cabe transformar a pesquisa científica e
tecnológica em sólida política de Estado executada por
Institutos e Universidades. Há que criar normas de contrato
social para a pesquisa financiada com recursos públicos.
Não basta dar esperança aos cientistas. Para não ser mais uma
esperança sem esperanças para o país, a direção desses fundos
de pesquisa deve apontar as metas, os problemas e os atrasos
que se deseja superar.
Fonte: Correio Braziliense, 2junho2000.
Nota do Editor: O autor é médico e diretor da Faculdade de
Ciências da Saúde da Universidade de Brasília.
4. MEC planeja transferir avaliação de cursos para agência nacional
O Ministério da Educação elabora projeto de lei para transferir
todo o sistema de avaliação e credenciamento dos cursos, desde
o ensinobásico até o superior, para uma futura Agência Nacional
de Educação (ANE).
O principal ponto da proposta é a transformação do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), órgão
responsável por todo o levantamento estatístico da educação
brasileira - na base da nova agência.
Apenas a pós-graduação ficaria fora do controle da ANE,
permanecendo com a Capes. A cobrança de um porcentual de 0,5%
sobre cada mensalidade das instituições particulares e de 0,5%
dos orçamentos das instituições federais é uma das formas de
financiamento da ANE já avaliadas pelo ministro
Paulo Renato Souza.
Maria Helena Guimarães de Castro, presidente do INEP e
integrante do grupo de trabalho designado pelo ministro para
formular o projeto,disse que a proposta da ANE é "bem diferente"
das demais agências reguladoras (como a Aneel, da área de
energia elétrica), seguindo o modelo da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária, que "mistura
funções reguladoras com funções executoras".
Ela afirmou que a agência cumprirá o que estabelece a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Brasileira. O projeto deve ser
enviado ao Congresso nos próximos meses, segundo Maria Helena,
para ser efetivado "em um ano e meio".
A experiência em avaliações do INEP, com o Censo Escolar, Enem
e Provão, ajudaria a construir a agência, que, de acordo com
Maria Helena, seria um "órgão técnico independente de qualquer
ingerência política".
Pelo projeto do grupo de trabalho do MEC, os diretores da ANE
seriam indicados pelo ministro. "Mas eles seriam sabatinados
pelo Congresso, teriam mandato fixo e obedeceriam a um código
de ética", informou a presidente do INEP.
O grupo de trabalho é composto por Maria Helena, Edson
Machado, secretário do MEC, MacDowell Figueiredo e Luís Curi,
da Secretaria de Ensino Superior (SESU), e Luciano Oliva,
secretário-executivo do MEC.
As funções executoras da agência incluiriam tarefas
atualmente cumpridas pela Sesu, como as avaliações de
projetos educacionais. Os relatórios da ANE também seriam
essenciais para o credenciamento de novos cursos superiores.
Uma das fontes de financiamento da ANE, segundo explicou
Maria Helena, seriam cobranças do serviço prestado de
avaliação para credenciamento ou renovação de cursos
superiores.
A eventualidade de choques com a atual estrutura do Conselho
Nacional de Educação (CNE) foi negada por Maria Helena.
Ela explicou que o CNE
"é o órgão que decide, mas não o que avalia".
Fonte : O Estado de SP, 02junho2000.
5. EUA impede debate sobre biodiversidade
Os EUA vetaram a discussão sobre patentes para a
biodiversidade e conhecimentos tradicionais na reunião da
OMPI (Organização Mundial de Propriedade Intelectual),
que termina hoje em Genebra. A proposta, defendida por
países em desenvolvimento, partiu da Colômbia.
Dias antes do início da Conferência Diplomática do órgão,
que começou em 11 de maio, o vice-presidente colombiano,
Gustavo Bell Lemus, se reuniu com o presidente da Ompi,
Kamil Idris, para defender a proposta. Na semanan passada,
Bell Lemus teve um encontro com o presidente Fernando
Henrique Cardoso.
O Brasil, dono de uma das maiores concentrações de
biodiversidade do planeta, na Amazonia, apoiou a posição
colombiana, em conjunto com outros países em desenvolvimento.
Segundo apurou a "Folha de SP", os EUA alegaram que a
Conferência Diplomática não era o foro adequado para discutir
a adoção do Tratado Mundial de Patentes.
Os EUA são o principal responsável pelo endurecimento das
leis de patentes no mundo. Partiram desse país, aliado à
Europa e ao Japão, as pressões para inclusão da proteção de
patentes no ambito da OMC(Organização Mundial do Comércio).
O interesse dos EUA em leis de propriedades intelectuais
fortes tem razões óbvias: são os maiores detentores de
patentes no mundo. Mas, com relação à biodiversidade, não há
interesse dos EUA em avançar nas regras, já que a grande
reserva está nos países em desenvolvimento.
O Brasil quer evitar que empresas estrangeiras desenvolvam
patentes industriais a partir de descobertas na Amazonia e
possam, depois, cobrar do país pela fabricação do produto.
Fonte : Folha de SP, 02junho2000
6. FHC afirma: comunidade científica só vai acreditar nos fundos setoriais se deles participar
O presidente FHC reconheceu ontem que existe no Brasil, como
no mundo todo, "um problema de legitimidade" dos governantes,
por falta de um processo participativo da sociedade. "As
pessoas querem participar da elaboração das políticas, não
querem recebero prato feito", disse FHC, em entrevista
coletiva no aeroporto berlinense de Tegel, pouco antes de
seguir para Paris.
O presidente fez uma avaliação da reunião de 14 governantes
tidoscomo social-democratas ou próximos da social democracia,
encerradaontem. O "problema de legitimidade" foi assim
descrito por FHC: "Por mais que se faça, e se fez muito, por
mais que haja hoje mais transparência e menos corrupção, a
sensação existente na sociedade não corresponde às ações.
Não é que não tenha havido progresso, é
a falta de reconhecimento da legitimidade de quem manda".
O presidente deu um exemplo específico: os 11 fundos criados
pelo seu governo para a pesquisa científica surgiram de
negociações entre a própria burocracia e setores
empresariais.
Resultado, segundo FHC: "Na medida que a comunidade
científica não vier a participar, não vai acreditar, mesmo
que seja certo, mesmo que o governo tenha a melhor das
intenções, como tem".
O mesmo raciocinio se aplica à redução da pobreza.
O presidente diz que ela foi significativa em seu governo,
mas admitiu que a percepção da sociedade não é essa. Culpa,
segundo FHC, da "diminuição no ritmo de redução da pobreza
e da diminuição da oferta de emprego".
Admitiu também que, embora a pobreza tenha se reduzido,
"a renda não se desconcentrou". E, nesse ponto, voltou a por
ênfase na necessidade de políticas públicas, pela óbvia razão
de que o mercado não resolve esse problema.
A entrevista do presidente acabou sendo mais um passo na
escalada retórica de FHC na direção de políticas mais
social-democratas. Tanto que chegou a dizer que é necessário
"retomar certos valores tradicionais da esquerda", citando
entre eles mais ênfase na igualdade social e na redução da
pobreza, além da "participação mais ativa da sociedade na
definição da agenda" do país.
Em seguida, disse que "não adianta imaginar governos
progressistas sem a participação de partidos e elementos da
sociedade civil que compartilhem isso".
Fonte : Folha de SP, 4junho2000.
7. Universidade Autônoma, Editorial da "Folha de SP"
Os mecanismos de mercado ajudaram a levar a humanidade a uma
era de prosperidade nunca antes imaginada. Os problemas ficam
por conta da repartição dessa riqueza, que, se já se dava de
forma injusta, agora ocorre de modo ainda mais desproporcional,
seja entre paises ou dentro de cada sociedade.
De todo modo, o sucesso das estrategias baseadas na competição
e na eficiência tem levado a uma tendência de generalizar esses
mecanismos para todos os aspectos da vida humana. É evidente
que nem tudo está, nem deve estar, sujeito ao mercado.
Essas reflexões vem a propósito da crise da Universidade
pública no Brasil. Seria contraproducente tentar esconder os
enormes vicios que aluem a academia, que vão da incapacidade
administrativa ao compadrio. O erro diametralmente oposto é
tentar impor à Universidade os mecanismos de mercado de modo
irrefletido.
Se há alguma lógica segundo a qual a academia deve operar,
ela é a lógica da ciência, que tem as suas especificidades.
Aqui é preciso, antes de mais nada, lembrar que a pesquisa
científica distingue a Universidade pública dos
estabelecimentos privados de ensino.
Embora estes sejam importantes na divulgação do conhecimento,
não o produzem. Segundo as agências de fomento, 90% da
produção científica brasileira é feita nas Universidades
públicas; 50% nas estaduais paulistas.
Outra distinção importante é aquela entre a ciência básica e
a aplicada. A segunda pode operar sob mecanismos de mercado.
Ela gera produtos e técnicas que podem ser consumidos.
Não a pesquisa básica. Ela pode ser definida justamente
pelo descompromisso com quaisquer propósitos que não os
epistemológicos.
Um bom exemplo e' a cosmologia, a ciência que trata da
estrutura do Universo. Nada do que os cosmólogos vierem a
aprender alterará a estrutura do Universo. É o saber pelo
saber.
Ocorre, porém, que o que é ciência básica hoje poderá ter
um propósito prático amanha.
A Teoria da Relatividade de Einstein, um exemplo de pesquisa
pura quase tão bom quanto a cosmologia, mais especificamente
a célebre equação da conversao de materia em energia,
o E=mc2, é a base do conhecimento que permitiu ao homem
dominar o ciclo nuclear, para o bem e para o mal.
Não faz muito sentido tentar quantificar ou traduzir a
ciência pura em termos de resultados. Às vezes, aprende-se
mais com um erro do que com um acerto. E, para saber que um
caminho não leva a lugar nenhum, por vezes é preciso
percorrê-lo.
A ciência básica é cara, com frequência frustrante e
altamente incerta. Nenhum empresário em sã consciência se
disporia a financia-la. Mesmo nos EUA, talvez o único lugar
do mundo onde Universidades privadas são fortes e fazem
pesquisa, a ciência básica é majoritariamente financiada
com fundos públicos.
Não se pretende aqui colocar a Universidade pública
brasileira ao abrigo de críticas ou de reformas, que são
necessárias. Trata-se apenas de constatar que ela, pelo
próprio objeto com que trabalha, funciona sob uma lógica
que não pode ser unicamente a do mercado.
Fonte : Folha de SP, 4junho2000.
Secretaria Geral SBQ