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Boletim 07/Janeiro 2001

Num recente artigo publicado no dia 07 de janeiro de 2011 (Sedlack, D.L. & Gunten, U., The chlorine dilema, Science, 331, 41-42), os autores propiciam uma discussão madura e atualizada sobre os riscos associados à cloração da água frente ao uso de outros possíveis substitutos ao cloro. Nos anos 70 constatou-se que a formação de subprodutos halogenados na cloração (DBP, do inglês Disinfection By-Products) poderia levar a um aumento no número de abortos e de câncer de bexiga. Porém, a não desinfecção da água trazia riscos muito maiores à saúde humana do que aqueles associados à presença de DBP.

Com uma legislação mais rígida quanto aos limites dos DBP presentes na água de abastecimento, o controle na formação destes compostos passou a ser feito pela remoção da matéria orgânica de ocorrência natural, tida como precursora dos DBP. Outra tendência observada foi a troca do uso do cloro por um desinfetante menos ativo, a cloroamina. Por exemplo, a cidade de Campinas utiliza cloroamina como agente de desinfecção. No entanto, os autores mencionam que o uso de cloroaminas propiciou a formação de uma nova série de compostos tóxicos cancerígenos, como as N- nitrosodimetilaminas e outras nitrosaminas. Outro aspecto importante relativo ao uso de cloroaminas como agente de desinfecção foi o aumento na concentração de chumbo nas águas distribuídas á população. É que o uso do cloro favorecia a formação de sais de Pb(IV), muito pouco solúveis e que acabavam incrustando nas tubulações. O uso de um oxidante menos enérgico (a cloramina) favorecia a dissolução destes compostos como Pb(II), aumentando assim a concentração do metal na água. Os autores também mencionam aspectos benéficos e maléficos do uso do cloro, tendo em vista sua afinidade por elétrons como nos grupos amina e nos compostos fenólicos. Por exemplo, a cloração do triclosan (um bactericida muito utilizado em sabonetes, paste de dente e outros produtos de higiene pessoal) leva à possível formação fotoquímica de dioxinas.

Por outro lado, a cloração pode remover a atividade estrogênica de hormônios presentes em águas. A cloração também remove a ação dos antibióticos e beta-bloqueadores. Os autores apontam para o fato de que o uso da radiação UV não traz modificações nestas classes de compostos, o que não a colocaria como uma tecnologia destrutiva, mas simplesmente de desinfecção. O ozônio ainda apresenta problemas com a formação de compostos bromados, e que não foram plenamente solucionados. Deste modo, temos aí um campo de pesquisa imenso a ser explorado, a fim de otimizar os processos de tratamento da água para consumo humano, minimizando os riscos de exposição da população. Já começamos um novo ano. Desejamos a todos um 2011 de realizações.