Contribuição da fitoquímica para o desenvolvimento de um país emergente

Raimundo Braz Filho (UENF)


O desenvolvimento sustentável de um país depende essencialmente de uma política consistente de educação, ciência, tecnologia e inovação, apoiada na preservação da natureza, na biodiversidade e na exploração racional de fontes naturais necessárias para alimentação, avanço social e econômico, manutenção da saúde e cura de doenças.
As atividades da fitoquimica podem contribuir significativamente para a concretização de tal programação através da investigação da flora e seu quimismo, da divulgação e geração de novos conhecimentos e da formação de recursos humanos qualificados. A química de produtos naturais (QPN) – fitoquímica, como é concebida atualmente, se dedica principalmente à caracterização estrutural, avaliação de propriedades e investigações biossíntéticas de substâncias maturais produzidas pelo metabolismo secundário de organismos vivos.
A vida dos organismos vivos - nascimento, crescimento, reprodução, envelhecimento, doenças e morte – depende de transformações químicas realizadas pelos metabolismos primário (principal atividade dos bioquímicos) e secundário-especializado (atividade primordial do químico de produtos naturais).
Assim, os organismos vivos utilizam trajetórias biogenéticas para realizar transformações e interconversões químicas de metabólitos do seu acervo vivo e dinâmico. As principais bioreações utilizadas em tais processos vitais envolvem reações de alquilação (substituição nucleofílica, adição eletrofílica), rearranjos de Wagner - Meerwein, condensação aldólica, reação de Claisen,, formação da base de Schiff, reação de Mannich, transaminações, carboxilações e descarboxilações, odidações e reduções.
As plantas superiores constituem uma das fontes mais importantes de novas substâncias utilizadas diretamente como agentes medicinais. Mais recentemente, além disto, elas fornecem modelos para modificações estruturais e otimização de propriedades farmacológicas e bioquímicas, servindo inclusive para a inspiração de químicos orgânicos estimulados pelos desafios apresentados na construção sintética de novas arquiteturas moleculares naturais. Durante algum tempo, os investimentos elevados na preparação de produtos sintéticos contribuíram significativamente para estimular ações que tentavam reduzir a relevância de organismos vivos como fontes de novos bioprodutos com atividade biológica. Nos últimos anos, a importância dos organismos vegetais como fontes produtivas de substâncias anticancerígenas e outras atividades biológicas reativaram interesses social e econômico, superando todos obstáculos e atingiu cenário crescente, estimulado, inclusive, pelas lideranças industriais empenhadas na fabricação de produtos sintéticos.
O crescente interesse interdisciplinar envolve a participação efetiva da química de produtos naturais, contribuindo para o desenvolvimento de outras áreas do conhecimento: biologia molecular, botânica ecológica, sistemática e evolutiva, farmacologia, biotecnologia, química orgânica (novos modelos para síntese, novas reações, novos reagentes, teste de reagentes), medicina (descoberta de novos medicamentos), agricultura (defensivos agrícolas) e veterinária (medicamentos para outros animais).
Pode-se destacar como exemplos, um número significativo de substâncias orgânicas naturais inéditas de plantas habitantes do território brasileiro. Tais produtos naturais produzidos pelo metabolismo secundário incluem muitos com atividades biológicas importantes comprovadas experimentalmente.