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Fitoprodutos e Desenvolvimento Econômico
José Ângelo
Silveira Zuanazzi (UFRGS)
Produtos obtidos a partir de vegetais tem, historicamente,
sido de grande importância econômica para
o Brasil. Exemplos como o café, o açúcar
e a soja podem ser suficientes para corroborar esta
afirmação. No âmbito da Saúde,
o emprego destes produtos está inexoravelmente
relacionado à Indústria Farmacêutica.
Neste particular, unem-se dois campos com inúmeras
complexidades no Brasil, a saber: (i) as dificuldades
de produção de medicamentos à base
de plantas e (ii) o próprio setor farmacêutico
brasileiro. Três eixos principais deveriam nortear
um projeto envolvendo Produtos Naturais: o eixo agricultura
(para diversos produtos), o eixo industrial (obtenção
de produtos intermediários ou finais) e o eixo
regulador. Desta forma, projetos nesta área deveriam:
(i) atender demandas da atividade agrícola, especialmente
no manejo das culturas selecionadas, no monitoramento
da qualidade da matéria-prima ofertada bem como
na criação de novas oportunidades para
o Agronegócio; (ii) desenvolver produtos inovadores,
eficazes e seguros para os consumidores, buscando sua
efetiva inserção no mercado, em consonância
com as prioridades nacionais em saúde; (iii)
apoiar a indústria e os órgãos
reguladores na diminuição de desvios de
qualidade, na qualificação técnica
e no próprio fortalecimento do setor e finalmente,
(iv) participar intensamente da formação
de recursos humanos em diferentes níveis de qualificação
enquanto estratégia de médio e longo prazo.
Na área de fármacos e medicamentos, o
déficit da balança comercial brasileira
é grande, refletindo a dependência tecnológica
em que se encontra o setor. O déficit em relação
aos medicamentos tem o agravante da indústria
farmacêutica brasileira ser majoritariamente transformadora
de matéria-prima, atuando apenas nos últimos
estágios da cadeia produtiva do medicamento.
Especificamente em relação aos fitoprodutos,
o fortalecimento desse segmento industrial pode criar
condições que permitam, a médio
e longo prazo, investir na exploração
racional da biodiversidade brasileira para o desenvolvimento
de produtos de maior valor agregado, contribuindo para
a identificação de oportunidades no âmbito
do Agronegócio. Da mesma forma, a vocação
de muitas empresas farmacêuticas brasileiras justifica
e valoriza esta ideia, a qual está em sintonia
com as Diretrizes da Política Industrial, Tecnológica
e de Comércio Exterior.
Recentemente, o Brasil aprovou a Política Nacional
de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, cujo objetivo
maior é o de garantir à população
brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas
medicinais e fitoterápicos, promovendo o uso
sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento
da cadeia produtiva e da indústria nacional.
O sucesso dessa política só poderá
ser alcançado na medida em que for devidamente
implementada uma sinergia entre a esfera governamental,
o setor produtivo e as instituições de
pesquisa científica e tecnológica. Aí
está o maior desafio: Como poderá (deverá)
ser feita esta simbiose? Que tipo de desafio terá
a área de Química de Produtos Naturais
neste futuro bastante próximo?
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