AVALIAÇÃO DOS TEORES DE Hg EM PESCADO DO TRECHO ITAOCARA – S. FIDÉLIS, BAIXO CURSO DO RIO PARAÍBA DO SUL


Allegra Viviane Yallouz(PQ)*, Marilu de Menezeseneen da Silva(PQ)**

& Tatiana Maria Paulino Calixto(IC)***

*CETEM - Centro de Tecnologia Mineral – Departamento de Química Analítica, **Universidade Federal do Rio de Janeiro, ***Universidade Federal Fluminense


palavras-chave: mercúrio, peixes, Paraíba do Sul.


INTRODUÇÃO: O peixe tem sido apontado como sendo a principal via de intoxicação do ser humano por mercúrio e os sedimentos têm sido usados como indicadores de poluição. Como têm-se relatado o acúmulo de mercúrio em peixes em áreas afetadas pelo garimpo, é importante a avaliação de áreas que possuem histórico de exploração de ouro. A área de estudo encontra-se na Região Noroeste do Estado do Rio de Janeiro e compreende o trecho, com cerca de 60 Km, do baixo curso do Rio Paraíba do Sul, que abrange os Municípios de Itaocara, Cambuci e São Fidélis. Esta região tem histórico de exploração de ouro aluvionar utilizando amalgamação com mercúrio, durante a década de 80 e até o início da década de 90 , tendo sido encontrados teores entre 212 ng.g–1 a 3700 ng.g–1 deste metal nos sedimentos de corrente e de aluviões, e que, em geral se apresentam acima do background da região.

OBJETIVO: A avaliação do teor de mercúrio em peixes mais consumidos na região supracitada. Caso se encontrasse evidências de contaminação nos peixes, pretendia-se avaliar, junto à comunidade local, a implantação de um programa de prevenção envolvendo a mesma, utilizando um método de determinação semiquantitativa de mercúrio em peixes de baixo custo desenvolvido com este fim.

METODOLOGIA: As amostras de peixe foram adquiridas no mercado local, com pescadores que cobrem a região de Funil a S. Fidélis no período de 12/04 a 22/05/99. Cada espécime foi pesado e limpo, separando-se uma posta que foi congelada no aguardo da análise. Foram coletadas ao todo 63 amostras de 11 diferentes espécies, e de diferentes hábitos alimentares(Tabela 1).Para a análise das amostras seguiu-se método pré-validado, que utiliza digestão ácida-oxidante (H2SO4 : HNO3: 0,1% V2O5) seguida de adição de KMnO4. Todas as análises foram acompanhadas com amostra controle de peixe liofilizado e homogeneizado. Para a determinação instrumental do teor de Hg foi utilizada o TVF –AA. Parte das amostras foi lida na UERJ ( VARIAN SPECTRAA 10 PLUS BQ) e parte no CETEM (VARIAN VGA 76. O excesso de oxidante foi previamente reduzido com NH2OH.HCl 20% m/v, imediatamente antes da determinação. Utilizaram-se água deionizada e reagentes de grau analítico.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados encontrados confirmam claramente a tendência já descrita na literatura de acúmulo de mercúrio nas espécies carnívoras (Tabela 1). Para este mesmo grupo percebe-se que a espécie representada pelo Dourado, que atinge maiores pesos, apresentou teores médios bem próximos ao limite máximo recomendado pela O. M. S. (ng.g-1) para consumo freqüente. Já as espécies onívoras e iliófagas apresentaram teores abaixo de 123ng.g-1para todas as amostras analisadas.


Tabela 1 – Teores de Hg encontrados em amostras de peixe coletadas na Região de Funi – S. Fidélis no período de 14/04 a 20/09/99.

Nome vulgar

Nome

científico

Hábito alimentar

No de amostras (n)

Faixa de peso (g)

Teor médio

ng.g-1

Faixa de conc.

ng.g-1

Dourado

Salminus maxillosus

carnívoro

6

4500 a 9000

301

189 a 456

Robalo

Centropomus spp.

carnívoro

9

1100 a 1500

144

42 a 232

Traira

Hoplias malabaricus

carnívoro

10

600 a 745

151

75 a 235

Tucunaré

Cichla oscellaris

carnívoro

7

150 a 1000

117

< 30 a 129

Camarão

Atia gabonensis

onívoro

4

34 a 45

66

38 a 102

Lagosta

Macrobachium carcinus

onívoro

4

87 a 178

<30

< 30

Piabanha

Brycon insignis

onívoro

4

250 a 2000

49

<30 a 86

Piau

Vermelho

Leporinos copelandi

onívoro

6

600 a 1000

71

31 a 110

Tainha

Mugil spp.

onívoro

6

655 a 800

<30

<30

Acará

Geophagus brasiliensis

ilíofago

5

52-129

82

66 a 123

Curimatã

Prochilodus scrofa

ilíofago

6

1100-1800

56

43 a 68


CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES:O estudo descrito permite concluir que os peixes carnívoros que atingiram pesos equivalentes a 9 Kg, coletados na região de estudo, tendem a apresentar teores próximos ao limite recomendado. Não está claro, porém se os outros peixes carnívoros apresentariam a mesma tendência se alcançassem este peso. Para as espécies onívoras e iliófagas não apresentaram teores preocupantes. Os resultados foram divulgados nas comunidades na forma de palestras, painel didático e entrevista à rádio local. A repercussão e o envolvimento da comunidade foi surpreendente, demostrando o quanto é importante este tipo de retorno para a comunidade envolvida e o quanto a população se encontra ávida de orientação nas questões envolvendo a preservação ambiental.

AGRADECIMENTOS: Aos membros do Projeto Piabanha, de Itaocara, aos da Colônia dos Pescadores Z – 21 de S. Fidélis e aos amigos de Pureza. Aos Srs. Mário Miranda de Souza e Alexander Carias pela presteza nas análises das amostras. À equipe técnica do DQA e do CETEM.

BIBLIOGRAFIA:

¨ Moraes, M. L. e Silva, M. de M., 1998.In : X Congresso Nacional de Geologia Econômica. Anais, vol.III, 270-275.¨WORD HEALTH ORGANIZATION (WHO). (1990).International Programme on Chemical Safety.


CNPq/ CETEM