FOTOSSÍNTESE: UM PROCESSO MUITO “ENSINADO”

E POUCO APREENDIDO...


Flávia Ferreira de Paula Gonçalves (PG).

Agustina Rosa Echeverría (PQ)


Faculdade de Educação - Universidade Federal de Goiás


palavras – chave: fotossíntese; aprendizagem de conceitos; conceitos científicos.


Introdução

A preocupação com a aprendizagem de conceitos científicos em sala de aula congrega a maioria dos professores e pesquisadores do ensino de ciências, independentemente da visão ou das crenças que tenham acerca de como essa aprendizagem ocorre. São aqui parcialmente apresentados os resultados obtidos de uma pesquisa situada nesse campo de preocupações. Os dados e análises deste trabalho configuraram uma monografia de conclusão do Curso de Especialização em Ensino de Ciências da Faculdade de Educação da UFG (Gonçalves, 1998).

Objetivos

A Fotossíntese é o processo pelo qual os vegetais se nutrem e a respiração dos mesmos, ao igual que a dos animais, é aeróbica. Entretanto, a vivência pedagógica de uma das autoras demonstrou que os alunos, mesmo após repetidos anos de estudo desses conceitos em sala de aula, têm sérias dificuldades em aprende-los e distingui-los.

Neste trabalho objetivou-se identificar e analisar idéias de alunos do ensino médio e professores do ensino fundamental e médio acerca do conceito de Fotossíntese.

Métodos

Com base na proposta de conhecer os conceitos de alunos de 1º e 2º anos do ensino médio e de professores de Ciências e Biologia, do ensino fundamental e médio, a respeito da Fotossíntese, optou-se pela realização de entrevistas semi-estruturadas, gravadas, transcritas e analisadas. Inicialmente, foi realizada uma entrevista piloto, através da qual tornou-se possível a seleção das perguntas que se tornariam o “eixo” das entrevistas posteriores. Contudo, essas perguntas foram de caráter orientador, sendo as entrevistas flexíveis, alterando-se conforme o posicionamento do entrevistado.

O primeiro grupo de entrevistados foi de dezesseis alunos (oito do 1º ano e oito do 2º ano do ensino médio) de uma escola particular da cidade de Pires do Rio (GO), que se apresentaram voluntariamente nos meses de novembro e dezembro de 1997. Foram consideradas não só as questões relacionadas à Fotossíntese, como também as concernentes à respiração vegetal, já que freqüentemente estes conceitos são confundidos pelos alunos.

O segundo grupo foi constituído por cinco professores, quatro licenciados em Biologia e um estudante do final do curso de Geografia, sendo que três deles lecionavam Ciências no ensino fundamental, um lecionava Biologia no ensino médio e um, Ciências no ensino fundamental e Química no ensino médio. Além de questões relacionadas à nutrição e respiração vegetal, os professores deram suas opiniões sobre as dificuldades em trabalhar esses temas em sala de aula.

Resultados

A análise dos dados obtidos das entrevistas revelou que 37% dos alunos consideram que a nutrição animal difere da vegetal por ser a primeira heterótrofa, embora nenhum deles tenha usado esse termo para expressarem-se. Contudo, o termo Fotossíntese já aparece em algumas entrevistas. Dos 63% restantes, a maioria considera que a nutrição animal difere da vegetal por contar com um número maior de opções de alimentos. E, mesmo aqueles que consideram que a nutrição vegetal ocorre pela Fotossíntese, ressaltam a importância da variedade de alimentos como algo mais significativo.

Apenas 31% dos alunos entrevistados confirmam que a Fotossíntese tem função nutricional e que a respiração vegetal é aeróbica. Mas, esses mesmos alunos, confundem em alguns momentos os dois processos. Outros 31% reconhecem apenas a função da Fotossíntese, mas não identificam corretamente o tipo de respiração dos vegetais. Cerca de 13% dos alunos relacionam corretamente o tipo de respiração dos vegetais, no entanto, não reconhecem a Fotossíntese como parte da nutrição vegetal. Os restantes 25 % não reconhecem a função da Fotossíntese e tampouco a respiração vegetal como sendo aeróbica.

Dos professores entrevistados, 60 % relacionam a Fotossíntese à nutrição vegetal e consideram a respiração como sendo aeróbica. Contudo, demonstram ter dificuldades na compreensão do conceito de Fotossíntese e na identificação da origem de alguns reagentes e produtos da reação. Sobre as dificuldades de se ensinar e se aprender sobre a Fotossíntese em sala de aula, 40 % consideram-na como um processo complexo em todas as fases do ensino, 20 % consideram-na difícil apenas para as fases iniciais, 20 % para o ensino médio e 20 % não se manifestam a respeito. Como causas das dificuldades para a aprendizagem deste conceito aparece em primeiro lugar a precocidade com que o tema é abordado no ensino fundamental e em segundo, “a linguagem empregada para as descrições dos processos químicos”.

Conclusões

A Fotossíntese, processo determinante para a existência da vida, é quimicamente, muito complexo. Sendo um conceito abordado insistente e exclusivamente em sala de aula, acreditamos que as dificuldades da sua aprendizagem localizam-se nela: na formação do professor (eles próprios têm dificuldades de compreensão), na seleção de conteúdos (precocidade com que é abordado) e na preponderância dos aspectos representacionais no seu ensino.

Bibliografia

Hall, D. 0., RAO, K. K. Fotossíntese. São Paulo: USP, 1980.

MORTIMER, E. F. et all. Introdução ao estudo de Química: propriedades dos materiais, reações químicas e teoria da matéria. CECIMIG – UFMG. Belo Horizonte, 1997.

SPEC – PADCT/CAPES