ALCALÓIDES INDÓLICOS DE APOCYNACEA:

ESTUDO DE ESPÉCIES BRASILEIRAS DE RAUVOLFIA

Lucilia Kato1 (PG); Raquel Marques Braga1 (PQ);Ingrid Koch2 (PG); Luciana Konecny Kohn3 (PG); Márcia Aparecida Antônio3 (PG), João Ernesto de Carvalho3(PQ)
1 Departamento de Química Orgânica, Instituto de Química, CP 6154,
2 Departamento de Botânica, Instituto de Biologia, CP 6190,

3 Lab. Ensaios Biológicos, CPQBA, CP 6171
UNICAMP, Campinas, SP.


Palavras-chave: Rauvolfia bahienses, Rauvolfia wedelliana, alcalóides indólicos


Alcalóides indólicos como a ajmalina, reserpina, yohimbina entre outros são encontrados em plantas do gênero Rauvolfia1 (família Apocynaceae). Este gênero é fonte de importantes agentes terapêuticos. A planta indiana Rauvolfia serpentina Benth. é utilizada há várias décadas como uma fonte rica em drogas medicinais2 . Particularmente, temos a reserpina, incluída no “WHO Model List Of Essential Drugs”, (OMS - Lista Modelo de Drogas Essênciais) como um agente antihipertensivo. No Brasil existem 17 espécies de Rauvolfia, segundo o último trabalho de revisão taxonômica realizado por Rao3. Destas, 14 ainda não foram quimicamente estudadas.

O nosso trabalho tem por objetivo o estudo fitoquímico de espécies brasileiras de Rauvolfia, dirigido para o isolamento e identificação de alcalóides e estudo de atividade biológica dos extratos alcaloídicos destas plantas. Iniciamos nosso trabalho com o estudo de R. bahienses. O material estudado (cascas, folhas ou raízes) foi seco, moído e submetido a extração etanólica a frio ou em extrator Soxleth. O extrato etanólico foi submetido à tratamento ácido-base, usando procedimento padrão para o isolamento de alcalóides. Após fracionamento ácido-base, o processo de separação e isolamento foi monitorado por CCD (cromatografia de camada delgada) e realizado por CCE (cromatografia em camada espessa) ou em cromatografia em coluna “flash”. A identificação foi feita usando dados de IV; UV, EM e RMN 1H e 13C em 1D e 2D.

Em comunicação anterior4, descrevemos, que da fração diclorometânica ácida das folhas de R. bahienses, isolamos e identificamos os alcalóides: picrinina, vinorina, raucafrinolina e normacusina B .Em seguida, isolamos da fração diclorometânica básica das cascas a: norseredamina, seredamina, 10-metoxi-sarpagan-17-ol. Da fração diclorometânica ácida das cascas isolamos a norpurpelina e purpelina. Estes alcalóides já foram anteriormente isolados e tem seus dados espectroscópicos compatíveis com os da literatura. Desta última fração, isolamos e identificamos novos alcalóides indólicos, 12-metoxi-Na-metil-sarpagan-17-al, 12-desmetoxipurpeline e 12-metoxi afinisina cujos dados de RMN foram completamente atribuídos5.

Dando continuidade ao trabalho isolamos ainda deste extrato, a 12-metoxi-velosimina (1). Todos os alcalóides isolados de R.bahienses possuem esqueletos ajmalan ou sarpagan.

Trabalhando com o extrato diclorometânico básico das cascas de raízes de R. weddeliana isolamos o sal de seredamina (2) , 18-hidroxi-yohimbina (3) e 3a-epi-yohimbina (4). O início do tratamento do extrato diclorometânico ácido das cascas de raízes de R. weddeliana pemitiu o isolamento da reserpina (5), importante fármaco utilizado como antihipertensivo.

Quadro1: Alcalóides isolados de R. bahienses e R. weddeliana.


Testes de atividade antiproliferativa em cultura de células tumorais com o extrato etanólico obtido das cascas de raízes de Rauvolfia weddeliana, LKRW14, mostraram resultados preliminares indicativos de possível atividade citotóxica (antiproliferativa). Os resultados positivos indicam a porcentagem de inibição do crescimento e os negativos a porcentagem de morte celular, Tabela 1.

Tabela 1: Resultados da % de inibição (os números negativos indicam % morte das células)

Amostra

UACC62

MCF7

NCIADR

K562

LKRW14

-10

61

77

83

MCF7, mama, densidade de inoculação 5 mil cel/mL;NCIADR , mama resistente, densidade de inoculação 5 mil cel/mL ;UACC62, melanoma, densidade de inoculação 4mil cel/mL;K562, leucemia, densidade de inoculação 6 mil cel/mL;Ensaio SRB (sulforodamina B); dose testada foi de 125mg/mL;

Agradecemos ao IBAMA pela colaboração, durante a coleta de Rauvolfia no Estado de Mato Grosso. Capes/Faep-Unicamp/Fapesp.

1 Klyushnichenko V.E. et al. J. Chrom. A,1995, 704, 357-362

2 Takayama, H., Kitajima, M., Suda, S.; Aimi, N., Sakai, S; Tetrahedron, 1992, 48 (13), 2627

3 Rao, A. S.. A Revision of Rauvolfia with particular reference to the American Species. Ann. Mo. Bot. Gard,. 1956 43(3):253-355.

4 Kato, L.; Braga, R. M.; Koch, I.; 22a Reunião Anual da SBQ, 1999, PN-158.

5 Kato, L.; Braga, R. M.; Koch, I.; IV Simpósio Paulista de Plantas Medicinais, 1999, painel 7.06.