UTILIZAÇÃO DO ÍNDICE DE QUALIDADE DE ÁGUAS (IAQ-CETESB) E DO ÍNDICE DE ESTADO TRÓFICO (IET-CARLSON) PARA CLASSIFICAR A QUALIDADE DAS ÁGUAS DA LAGOA DO TAQUARAL–CAMPINAS–SP

João Tito Borges (PG) e José Roberto Guimarães (PQ)


Departamento de Saneamento e Ambiente, Faculdade de Engenharia Civil – UNICAMP, CP 6021, CEP 13083 – 970, Campinas - SP


Palavras-chave: IQA, IET, lagos urbanos


Na medida em que se torna mais intenso e diversificado o uso dos lagos, mananciais e suas bacias hidrográficas, maior é a necessidade de se definir formas de manejo sustentado e de gerenciamento desses ecossistemas. Para isso, torna-se necessário uma monitorização sistemática, que resulta em séries temporais de dados que permitam avaliar a evolução da qualidade do corpo aquático e conhecer as tendências de sua variação. A caracterização do estado de trofia de lagos e a utilização de índices de qualidade de águas tem como objetivo simplificar uma série de parâmetros em valores inteiros, fáceis de entendimento pelo público e uma ferramenta utilizada para gerenciamento da qualidade de águas interiores tanto para a comunidade cientifica, quanto para as autoridades relacionadas à saúde publica e ao saneamento. Existem poucas informações disponíveis, relacionando as condições sanitárias com o grau de eutrofização de lagos, principalmente aqueles localizados em regiões tropicais e urbanas.

O objetivo do presente trabalho foi o de se utilizar dois índices para caracterizar as águas da Lagoa do Taquaral, o Índice de Estado Trópico de Carlson (IET – CARLSON, 1977) e o Índice de Qualidade das Águas (IQA – Cetesb, 1996). Os dados de IET foram comparados com aqueles obtidos em l984 por MATSUMURA-TUNDISI et al.(1986),

A Lagoa Izaura Alves Telles de Lima (Lagoa do Taquaral), objeto de estudo desse trabalho, localiza-se no interior do Parque Portugal, no bairro do Taquaral, Campinas – SP, a uma altitude de 640 m, latitude sul (22º52’30”) e longitude oeste (47º03’00”). Apresenta uma área superficial de 165.830 m2 e uma profundidade média de 3 m.

Após estudos de FABIANO, et al.(1985) e MATSUMURA-TUNDISI et al. (1986), no início da década de l980, foram aplicadas algumas técnicas de recuperação na Lagoa do Taquaral com o objetivo de melhorar a qualidade das águas do lago, como por exemplo, a renovação do sedimento de fundo (dragagem) e a diminuição da entrada de nitrogênio e fósforo provenientes de esgoto bruto, porém são desconhecidos estudos publicados de monitorização, com o objetivo de acompanhar o grau de recuperação do corpo d'água a longo prazo.

A Tabela 1 mostra os valores e a classificação de Índice de Estado Trófico encontrados pelo presente trabalho e por MATSUMURA-TUNDISI et al.(1986). Verifica-se uma redução média de 14,3 no Índice de Estado Trófico. A redução nos valores dos índices IET(PT) e IET (DS) foram da mesma ordem (11,2), enquanto que a redução no valor de IET(Cla) foi de 20,5. 0 grau de eutrofização da Lagoa do Taquaral que era caracterizado como um ambiente hipereutrófico tende para um ambiente eutrófico. E importante observar que os autores encontraram um ambiente com florescimento de algas, confirmado pelo alto valor de Clorofila a.


Tabela 1. Valores e classificação de Índice de Estado Trófico

ÍNDICE

MATSUMURA-TUNDISI

ESTE TRABALHO

IET (Cla)

88,5 (HIPEREUTRÓFICO)

68,0 (EUTRÓFICO)

IET(PT)

85,5 (HIPEREUTRÓFICO)

74,3 (HIPEREUTRÓFICO)

IET (DS)

73,2 (HIPEREUTRÓFICO)

62,0 (EUTRÓFICO)

Cla = Clorofila a; PT = fósforo total e DS = disco de Secchi


Em relação ao IQA, os resultados apresentados na Tabela 2, apontam claramente a tendência na melhora da qualidade da água no sentido longitudinal na lagoa. Na amostra I (entrada) a água se classifica como ruim e aceitável para alguns meses, enquanto nas amostras II e Ill a água se apresenta de boa qualidade em todos os meses analisados.


Tabela 2. Valores de IQA e classificação da água nos pontos I, II e III

Mês

Amostra I

Amostra II

Amostra III

Jan/97

36 – R

65 - B

63 – B

Fev/97

61 – B

74 – B

75 – B

Mar/97

38 – A

62 – B

68 – B

Abr/97

59 – B

68 – B

68 – B

Jun/97

53 – B

76 – B

76 – B

Ago/97

58 – B

74 – B

73 – B

Set/97

48 – A

67 – B

64 – B

Out/97

38 – A

67 – B

67 – B

Nov/97

56 – B

60 – B

61 – B

Dez/97

54 – B

64 – B

71 – B

A = Aceitável B = Boa R = Ruim


Na estação III do presente estudo (saída) foram encontrados valores entre 61 e 76, com valor médio de 63 (qualidade boa). Valor este bem inferior aos valores obtidos em outros corpos aquáticos monitorizados pela CETESB no mesmo período.

Finalmente, os dados deste estudo sugerem que o trabalho de desassoreamento da Lagoa do Taquaral, assim como a construção de um interceptor muito contribuíram para a melhoria da qualidade geral deste corpo aquático urbano. Além disso, os resultados aqui obtidos poderão ser usados em tomadas de decisão relativas ao manejo desse e de outros lagos.


Referências Bibliográficas

Matsumara-Tundisi, T. et all, Ciência e Cultura, 38(3), 420-425, 1986.

Fabiano,S.A et all, Anais do XIII Congresso da ABES, Maceió, 1985.

Carlson,R.E., Limnology and Oceanography, 22(2), 361-369, 1977.

CETESB, Relatório de qualidade das águas no Estado de São Paulo 1995, p.285, 1996.