DETERMINAÇÃO DE ZINCO E SELÊNIO EM AMOSTRAS DE CABELOS DE INDIVÍDUOS DA REGIÃO AMAZÔNICA ATRAVÉS DE ESPECTROFOTOMETRIA DE ABSORÇÃO ATÔMICA COM CHAMA (F-AAS) E GERAÇÃO DE HIDRETOS COM SISTEMA DE INJEÇÃO EM FLUXO (FIAHG-AAS)


Mônica Soares de Campos1 (PG), Marcos Antônio Hortellani 1(PG), Jorge Eduardo de Souza Sarkis1 (PQ), Regina Célia Sarkis Muller2 e Elizabete Santos3


1 Grupo de Caracterização Isotópica do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) – São Paulo (SP)

2 Universidade Federal do Pará – Belém (PA)

3 Instituto Evandro Chagas – Belém (PA)


palavras – chave: cabelo, selênio, zinco


Análises de elementos traço em amostras de cabelo são realizadas com diversas finalidades atualmente. Através dos resultados obtidos podem ser avaliados, tanto a exposição de indivíduos a determinados elementos químicos ou drogas1, como também seu estado nutricional.

A utilização de cabelo como matriz apresenta diversas vantagens frente às outras amostras biológicas humanas mais comumente utilizadas (sangue e urina). Entre estas podemos citar as facilidades na obtenção, manuseio, transporte e conservação, como também o fato da coleta das amostras ser realizada através de uma técnica não invasiva.

Além destas vantagens, a concentração dos elementos no cabelo reflete sua concentração no sangue no momento em que o fio está sendo formado. Este fato permite a obtenção de informações referentes não somente a exposição atual, mas também avaliar episódios passados, mesmo quando a causa já houver cessado2.

Diversos elementos essenciais podem ser analisados em amostras de cabelo quando a finalidade é a avaliação do estado nutricional do indivíduo. Entre estes, incluem-se o selênio e o zinco que são elementos essenciais ao organismo dentro de uma determinada faixa de concentração, podendo ser prejudiciais tanto em excesso quanto em quantidades insuficientes.

A presença de zinco no organismo é necessária à atividade de um grande número de enzimas, enquanto que o maior benefício do selênio está relacionado à enzimas antioxidativas como a selenoproteína P e as isoenzimas do grupo da glutadiona peroxidase. Experimentos realizados tem demonstrado que estes, entre outros elementos essenciais, podem diminuir os efeitos provocados por alguns metais tóxicos como o mercúrio e chumbo3,4. Além deste efeito benéfico, outros estudos indicam que o selênio possa excercer uma função protetora e preventiva contra alguns tipos de câncer5.

Neste trabalho foi desenvolvida a metodologia para análise de zinco e selênio em amostras de cabelos humanos.








As amostras analisadas são provenientes da população ribeirinha da região amazônica, exposta à contaminação por mercúrio, principalmente sob a forma metilada.

A solubilização das amostras foi realizada em chapa de aquecimento com a utilização de balões volumétricos e uma mistura de HNO3, HClO4 e H2SO4,. O método foi adaptado do trabalho desenvolvido por Akagi e colaboradores6.

As análises foram realizadas por meio da técnicas de espectrofotometria de absorção atômica com chama (F-AAS) para a análise de zinco e de espectrofotometria de absorção atômica com geração de hidretos em um sistema de injeção em fluxo (FIAHG-AAS) para a determinação de selênio.

As curvas analíticas foram construídas com 5 pontos. As soluções foram obtidas a partir de uma solução padrão de zinco de 1000 mg/mL (Merck) e da dissolução de óxido de selênio de grau espectrográfico (Johnson-Mattey).

Foi realizado um experimento da porcentagem de recuperação , adicionando-se concentrações conhecidas dos elementos à uma amostra de cabelo. A recuperação do analito foi de cerca de 98 % para adição de 2, 5 e 10 ppb de selênio e de 102 % para adição de 5, 10 e 15 ppm de zinco na matriz.

Para a validação da metodologia analítica validação foi utilizado o padrão de referência certificado CRM 397 (Trace Elements in Human Hair) da Community Bureau of Reference (BCR). Neste padrão, a concentração certificada de selênio é de (2,00 ± 0,08) mg/g e de zinco (199 ±.5) mg/g. Os resultados obtidos nas análises realizadas foram: (2,06 ± 0,09) mg/g para selênio e (198 ± 2) mg/g para zinco.

A metodologia empregada apresentou exatidão de 0,3 % e precisão de 0,8 % para a determinação de zinco e 4,1 % e 0,7 % para selênio, demonstrando que os métodos de abertura de amostra e análise utilizados são confiáveis.

As análises de cabelo provenientes de indivíduos da região amazônica mostraram que, apesar dos problemas sócio-econômicos enfrentados pela comunidade na região, não foi detectada nas amostras analisadas, carência ou excesso dos elementos analisados2. Este fato esta provavelmente relacionado ao grande consumo de peixes. e castanhas na região7,8,9.


1.Malm, O., Castro, M. B., Bastos, W. R., Branches, F. J. P., Guimarães, J. R. D., Zuffo, C. E., Pfeiffer, W. C., , The Science of Total Environment, 1995; 175: 127-140.

2. Pozebon, D., Dressler, V. L., Curtius, A. J., Química Nova, 1999; 22(6): 838-846.

3. Osman, K., Schultz, A., Akesson, B., Maciag, A., Vahter, M., Clinical Biochemistry, 1998;31-8: 657-665.

4. Suzuki, K. T., Shinji, Y., Biochimica et Biophysica Acta, 1998; 1429: 103-112.

5. Alarcón, M. N., Serrana, H. L. G., Valero, V. P., Martinéz, C. L., The Science of The Total Environment, 1997; 212: 195-202.

6. Akagi, H., Malm, O., Kinjo, Y., Harada, M., Branches, F. J. P., Pfeiffer, W. C., Kato, H., The Science of TheTotal Environment, 1995; 175: 85-95.

7. Rojas, E., Herrera, L. A., Poirier, L. A., Wegman-Ostrosky, P., Mutation Research, 1999; 443: 157-181.

8. Ip, C., Lisk, D. J., Nutrition and Cancer, 1994, 21(3): 203-212.

9. Onning, G., Bergdahl, I. A., Analyst, 1999; 124(10): 1435-1438.

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