PUC 056
Um Exame de Consciência

    No fim da tarde de 8 de julho de 1977, cerca de oitenta pesquisadores científicos estavam reunidos na sala 056 da Pontificia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, com um único objetivo: a fundação de uma entidade de classe. Instaurada a Assembléia, coordenada por este editor, os participantes - que representavam a grande maioria dos Estados e várias áreas da Química - ouviram com atenção o resultado de uma pesquisa realizada junto a 419 químicos pesquisadores, na qual se averiguou se havia ou não necessidade de criação de uma sociedade nova. Dos entrevistados, 69% responderam - e todos afirmativamente. Decidida a fundação da Sociedade Brasileira de Química, SBQ, a Assembléia passou a apontar os nomes que deveriam compor a primeira diretoria - uma Diretoria Constituinte - e um conselho consultivo.


    Democraticamente, foram eleitos Simão Mathias (Presidente), Eduardo Motta Alves Peixoto (Secretário geral) e Etelvino José Henriques Bechara (Tesoureiro), todos da USP, São Paulo, S.P. Para o Conselho Consultivo a Assembléia elegeu Jacques Danon (CBPF, Rio), Ricardo Carvalho Ferreira (Inst. De Física, UFPe), David Tabak (Inst. De Macromoléculas, UFRJ), Archimedes Pereira Guimarães (Minas Gerais), Ernesto Giesbrecht (Int. Química USP, S. Paulo) e Antonio Carlos Pavão (aluno de pós - graduação do Instituto de Química da USP).

   Nasceu assim a SOCIEDADE BRASILEIRA DE QUÍMICA, sociedade civil de caráter científico, catalisada pela SBPC, um século após a fundação da American Chemical Society e após cento e dois anos de existência da Sociedade de Química do Japão.

    É difícil encontrarmos uma única razão que explique a fundação da SBQ somente após termos visto o homem andando na Lua. A apatia dos Químicos? O hábito de termos visto sociedades fracassarem nos seus propósitos? O amadorismo das atitudes? Talvez nunca possamos saber a resposta para esta questão que devido às razões de cada um, deu origem a um "ser coletivo" com razões próprias e aparentemente alheio à vontade de cada um dos químicos que formam este "ser coletivo". Este mesmo "ser coletivo" que se sente valorizado quando publica seus trabalhos no exterior e menospreza o curriculum daqueles que possuem trabalhos publicados no Brasil. Este mesmo "ser coletivo" crê ter status internacional simplesmente por escrever em outra língua os seus melhores trabalhos e assim permitirem que jovens de outros países se beneficiem enquanto que jovens do Brasil não os leiam mas sejam obrigados a venerá-los como um grupo de cientistas que inconscientemente nem ao menos dão a sociedade da qual fazem parte, razões concretas para respeitá-los. Assim sendo, o que é estrangeiro é importante e o que é brasileiro é motivo de risos e suspeitas, incluindo o trabalho daqueles poucos que realmente fazem algo de importante em ciência.

   Exatamente por estas razões é que a SBQ é necessária e necessita da compreensão dos governos e de todos aqueles que acreditam que a química é útil para engrandecer um País e não para explorá-lo simplesmente. Com este objetivo a SBQ lança QUÍMICA NOVA numa tentativa de tornar a Química útil àqueles que leiam português e, o que é mais importante, dar aos que desejam, uma oportunidade de colaborar e ser um pouco mais útil para a Sociedade em que vivem como Químicos, estagnando uma elefantíase e criando um "ser coletivo" bem estruturado.

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