1.“A
Química construindo um futuro melhor” Tema da 33ª RASBQ
O
tema escolhido como referência para a próxima Reunião Anual da SBQ é
resultado de uma reflexão cuidadosa sobre o papel da Química, e dos
químicos, no momento atual. A idéia de “construir um futuro
melhor” tem implicações de grande alcance nesta etapa da vida no
planeta, e se traduz em preocupações diferentes daquelas que afetavam as
gerações anteriores.
Ciência
e tecnologia foram, durante muito tempo, ferramentas para o conhecimento
da natureza, com a finalidade de satisfazer, a qualquer preço, as
necessidades do homem. A química, desde sua origem como ciência
fundamental, exibe um perfil particular ao cumprir essa tarefa, pois seu
domínio está estreitamente ligado à indústria e à produção de bens. Assim
como está ligada a algumas das mais sofisticadas criações humanas no
campo da medicina ou da agricultura, que asseguram a sobrevivência de
milhões de pessoas. No entanto, o “futuro melhor” que se vislumbra hoje
requer mais que isso. Exige uma nova visão sobre ciência e tecnologia.
Uma visão em que a sustentabilidade do meio ambiente e da qualidade de
vida humana são partes integrantes de qualquer projeto tecnológico
imbuído no desenvolvimento, seja nacional ou internacional.
Ao
escolher esse tema, a SBQ está convidando não apenas a comunidade dos
químicos, mas toda sociedade brasileira, a um olhar em profundidade sobre
os frutos do conhecimento, sua utilização, e os compromissos de quem faz
ciência e ensina.
O
olhar deve começar, evidentemente, pelo país. Qualquer observador isento
pode constatar que conquistamos avanços expressivos na área da pesquisa
científica. Assim como crescem as propostas da comunidade de
pesquisadores em busca de uma economia sustentável que explore, com visão
de futuro, o grande potencial de recursos disponível no país. Nesse
sentido, a SBQ tem dado uma contribuição muito valiosa como é possível
ver no número especial da revista Química Nova lançado no início deste
ano e das edições subseqüentes que tratam do aproveitamento de nossa rica
biodiversidade como matéria prima para alimentos, cosméticos, fármacos e
energia.
Aos
poucos, mas não tão rápido como gostaríamos, idéias e ações vão se
organizando e ampliando a conexão entre pesquisa e as várias faces da
realidade econômica e social brasileira. Quem se der ao trabalho de
examinar a relação dos grupos de pesquisa formados nos últimos anos,
disponível no site do CNPq, vai encontrar um número crescente de
trabalhos voltados para o ambiente, recursos hídricos, energias renováveis,
estudo da biodiversidade e outros temas que, em tese, deveriam ser de
interesse de toda a sociedade. Outro fato relevante é que boa parte
desses trabalhos está sendo realizada fora dos polos de concentração
tradicionais de pesquisa no sudeste do país.
Ao
mesmo tempo, as políticas de CTeI implementadas pelo governo vêm
multiplicando os projetos de pesquisa aplicada voltados para áreas
consideradas prioritárias. Esse esforço está concretizado hoje
principalmente na figura dos INCTs, Institutos Nacionais de Ciência e
Tecnologia, iniciativas que em sua maioria ainda estão em fase inicial de
produção. Aqui também é possível ver um conjunto de ações onde predomina
a preocupação com a sustentabilidade e a utilização dos recursos de forma
que eles gerem riqueza sem comprometer o patrimônio das próximas
gerações.
Muito
pouco desse movimento, entretanto, chega para a maior parte da sociedade.
É inegável que ainda convivemos, por razões históricas e culturais, com a
enorme distância entre os “fazedores de ciência” e a população em geral.
Traço curioso dessa distância está expresso no senso comum que confere à
Química atributos negativos, não apenas em acidentes e catástrofes
ambientais mas também no dia a dia das pessoas. Assim, com frequência
ouvimos alguém dizer: “não use isso porque tem química”.
Na
visão da SBQ, uma das premissas para um futuro melhor é a interlocução
com a sociedade e a efetivação de canais de comunicação que disseminem o
conhecimento gerado pela universidade e pelos centros de pesquisa. Embora
essa visão sempre tenha estado presente nas realizações da entidade, ela
agora ganha contornos especiais na 33ª Reunião que acontecerá em maio do
ano que vem.
O
encontro ocorrerá, também, em um momento de preparação para o Ano
Internacional da Química, que será comemorado em 2011. Como se sabe,
a celebração foi definida pela UNESCO e pela União Internacional de
Química Pura e Aplicada, IUPAC, organizações responsáveis pela
coordenação em âmbito mundial de uma série de atividades destinadas a
valorizar e divulgar esse campo da ciência. Sob o lema “CHEMISTRY -
OUR LIFE, OUR FUTURE” (Química nossa vida, nosso futuro) serão
realizadas iniciativas que têm entre os objetivos popularizar as grandes
descobertas e os últimos avanços conquistados pela Química.
A
SBQ é parte integrante desse movimento, que terá a próxima Reunião Anual
como ponto de partida, e conclui um plano de ações voltadas para toda a
sociedade brasileira. Para isso vêm sendo mantidos contatos com órgãos do
governo, como o MCT, o CNPq, a CAPES, as FAPs estaduais e também
entidades setoriais, como a ABIQUIM, que representa as indústrias
químicas.
Tal
mobilização deve ser vista não como um projeto corporativista de um
segmento profissional, mas sim integrada a vários outros programas em curso
no país que constituem hoje um esforço coletivo no sentido de construir
um futuro melhor para todo o planeta.
Vanderlan
da Silva Bolzani
Professora
Titular (IQ-UNESP)
Presidente
da SBQ
Fonte:
Editoria do BE
|
2. SBQ
traz Martin Chalfie, Nobel de Química de 2008, para a palestra de
abertura da 33ª Reunião Anual
A
organização da 33ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química tem
confirmada a participação do prêmio Nobel de Química, Martin Chalfie como
palestrante de abertura do evento, que acontecerá de 28 a 31 de maio de
2010. Martin Chalfie, do Departamento de Ciências Biológicas da
Universidade de Columbia, foi o ganhador do prêmio em 2008, ao lado de
Osamu Shimomura, do Laboratório de Biologia Marinha de Woods Hole, e
Roger Y. Tsien, do Instituto de Medicina Howard Hughes, da Universidade
da Califórnia.
O
Nobel foi conferido a Chalfie por seu trabalho no campo da bioquímica que
estabeleceu um novo limiar de conhecimento com a manipulação da chamada
proteína verde fluorescente (GFP, da sigla em inglês Green Fluorescent
Protein).
O
controle das propriedades da proteína verde tornou possível à ciência
dispor de um instrumento que permite acompanhar mudanças ocorridas no
interior de uma célula. Com a fluorescência, pesquisadores passaram a
ter, a partir de então, um novo recurso para identificar, por exemplo, o
processo de crescimento de um tumor cancerígeno, o desenvolvimento da
doença no cérebro de uma pessoa com Alzheimer, ou o comportamento de uma
bactéria patogênica. O trabalho dos três cientistas está
interligado e propiciou um grande avanço para a bioquímica, biologia,
ciências médicas e outros ramos do conhecimento.
Um
dos pontos iniciais dessa trajetória foi a pesquisa de Osamu Shimomura,
durante os anos 1960, sobre a bioluminescência da água-viva encontrada na
costa do Pacífico, nos EUA. Martin Chalfie, trinta anos depois, utilizou
o conhecimento sobre a proteína verde fluorescente da água-viva para
atuar em nível celular fazendo com que processos antes invisíveis para o
ser humano pudessem agora ser reconhecidos e acompanhados. Roger Y.
Tsien, por sua vez, ampliou essas técnicas de forma a obter proteínas
brilhantes de todas as cores (as informações estão disponíveis em www.nobelprize.org)
Com
o emprego das proteínas que funcionam como “etiquetas”, geradas a partir
da tecnologia do DNA, pesquisadores de todo o mundo podem estudar
diferentes processos como a criação de células beta para a produção de
insulina no organismo. Ou distribuir pontos coloridos nas células do
cérebro de uma cobaia para entender mecanismos neurológicos.
Martin
Chalfie é norte-americano, nascido em 1947, natural de Chicago, IIlinois.
Três de seus avós eram imigrantes europeus que chegaram aos EUA no início
do século XX. Seu pai, músico e radialista, e sua mãe, dona de uma
confecção, tiveram três filhos dos quais ele é o mais velho. Chalfie
descreve sua infância e juventude como típicas do espírito
norte-americano da época, como pode ser visto na autobiografia no web
site da Fundação Nobel. Aprendeu a tocar violão clássico com o pai e
encontrou na natação seu esporte preferido.
Ingressou
em Harvard em 1965 tendo a matemática como uma possível vocação, mas
terminou por optar pela bioquímica.
Trabalhou
durante cinco anos no Laboratório de Biologia Molecular de Cambridge, na
Inglaterra, onde passou a integrar o grupo de pesquisadores dedicados aos
estudos do nematóide Caenorhabditis elegans, que apresenta vários fatores
favoráveis para a compreensão de mecanismos celulares.
Em
1972 passa a integrar o Departamento de Fisiologia de Harvard. No
conjunto de seu trabalho destaca-se a identificação de que seria possível
introduzir a proteína verde fluorescente na célula do nematóide C.
elegans e com isso criar uma “etiqueta” para acompanhar as mudanças
ali ocorridas.
Fonte:
Carlos Martins (Assessoria de Imprensa da SBQ)
|