2. Ciência
brasileira em novo patamar. Artigo de Sergio Machado Rezende
O
aumento do número de artigos publicados do Brasil, proporcionalmente
maior que o do resto do mundo, consolida uma tendência
COMO
NOTICIOU esta Folha no último dia 6, a produção científica
do Brasil, medida pelo número de artigos indexados na base
internacional de dados Thomson Reuters-ISI, cresceu 56%
em 2008, se comparada com 2007. O país passou da 15ª para
a 13ª colocação no ranking mundial de artigos publicados,
ultrapassando países com longa tradição científica, como
a Rússia e a Holanda.
A
notícia foi comemorada pela comunidade científica brasileira,
que conta atualmente com 200 mil membros, entre mestres
e doutores.
Mas
a formação, como é feita hoje, com exigências de cursar
disciplinas e fazer pesquisa para elaborar dissertações
e teses, só foi iniciada em 1963, quando o professor Alberto
Luiz Coimbra criou "na marra" a Coordenação dos
Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe) na então
Universidade do Brasil (hoje Universidade Federal do Rio
de Janeiro).
Somente
cinco anos depois o Ministério da Educação regulamentou
a pós-graduação, "legalizando" os diplomas concedidos
pela Coppe e por outros cursos. E apenas em 1969, com a
criação do regime de tempo integral para docentes pesquisadores,
os grupos de pesquisa e os cursos de pós-graduação se disseminaram
em todo o país e o sistema nacional de ciência e tecnologia
(C&T) começou a ganhar dimensão e consistência.
O
fato de a nossa ciência ser tão recente é a principal razão
para a surpresa da notícia de que o Brasil ultrapassou Rússia
e Holanda no ranking de publicações científicas. Mas esse
fato não teve comemoração unânime.
Logo
surgiram os céticos e críticos perscrutadores.
A
primeira crítica é que a ciência brasileira não tem o impacto
medido pelas citações na mesma proporção dos artigos publicados.
Isso é verdade e decorre, dentre outras razões, da pouca
tradição de nossa ciência.
Outra
crítica, mais forte, foi a descoberta de que o grande aumento
da produção de um ano para outro decorreu da ampliação da
base da Reuters. O número de revistas brasileiras indexadas
passou de 63, em 2007, para 103, em 2008.
No
entanto, a Reuters também aumentou a base das revistas indexadas
de todos os países, principalmente daqueles fora do núcleo
de longa tradição científica. Em todo o mundo, a base passou
de 9.000 para mais de 10 mil, e o número total de artigos
indexados cresceu de 960 mil, em 2007, para 1,4 milhão,
em 2008 -um salto de 49%.
O
aumento do número de artigos do Brasil, proporcionalmente
maior que o do restante do mundo, vem consolidar uma tendência
das três últimas décadas. A contribuição do país na produção
mundial, que em 1981 era de 0,44%, hoje é de 2,12%.
O
aumento na formação de pesquisadores e no número de artigos
científicos publicados é resultado de um esforço continuado
de toda a sociedade. Mas o governo federal teve papel essencial
nesse processo, principalmente por meio de suas agências
de fomento, CNPq, Finep e Capes.
Assim,
compartilho da opinião do ministro da Educação, Fernando
Haddad, que creditou essa evolução ao governo federal, mas
também ao papel das fundações estaduais de amparo à pesquisa,
em especial da Fapesp, e ao trabalho dos cientistas.
A
significativa evolução dos últimos anos é decorrente, em
grande parte, da prioridade hoje atribuída à ciência e à
tecnologia.
O
orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia passou de
R$ 2,835 bilhões, em 2002, para R$ 6,632 bilhões, em 2008.
Nesse mesmo período, o número de bolsas de pós-graduação
do CNPq passou de 11.347 para 18.500, e as de pesquisa passaram
de 7.765, em 2002, para 12.015. No caso da Capes, as bolsas
de pós-graduação passaram de 23.334, em 2002, para 39.892.
Pela
primeira vez na história, o país tem um Plano de Ação em
Ciência, Tecnologia e Inovação, com prioridades claras e
programas com objetivos, metas e orçamentos, os quais totalizam
R$ 41 bilhões para projetos em universidades, centros de
pesquisa e empresas.
O
financiamento à pesquisa científica e tecnológica e à inovação
tem estimulado pesquisadores e empresários empreendedores.
Um exemplo do aperfeiçoamento dos instrumentos de apoio
e da política de C&T está na criação dos 123 institutos
nacionais de C&T, que receberam recursos da ordem de
R$ 605 milhões.
O
caminho para tornar esse setor um dos pilares do desenvolvimento
nacional ainda é longo, mas está sendo percorrido com consistência,
determinação e velocidade crescentes.
SERGIO
MACHADO REZENDE, 68, físico, doutor em física pelo MIT (EUA), professor
titular da Universidade Federal de Pernambuco, é Ministro
da Ciência e Tecnologia.
Artigo
publicado na Folha, 25/05/2009
Fonte:
Editoria do BE
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