3. Instituto
de Química da UFBA – o prejuízo pode ser ainda maior!
Artigo
de Caio Castilho (Professor Associado – IF - UFBA).
Conforme
noticiado, um incêndio ocorrido em 21 de março destruiu significativo
número de laboratórios de ensino e pesquisa do Instituto de Química da
Universidade Federal da Bahia (IQ-UFBA), deixando a instituição sem
condições de operação normal. O prejuízo causado pelo fogo, a despeito do
seu enorme valor, não deverá ser único.
Laboratórios
de pesquisa, com equipamentos de elevado valor financeiro, alguns muito
recentemente importados, estão sujeitos a uma deterioração rápida,
significativa e, lamentavelmente, inexorável. Além de um animus/anima interno
profundamente abalado.
O
prédio do IQ-UFBA possui cinco pavimentos, cada nível aproximadamente
associado a cada um dos seus departamentos e um destinado,
essencialmente, a atividades administrativas. O maior dano ocorreu no
quinto andar, correspondente ao Departamento de Físico-Química. Severos
danos ocorreram no quarto andar (Departamento de Química Analítica) e,
aparentemente com menor intensidade, nos andares abaixo, que compreendem
o Setor Administrativo, e os departamentos de Química Inorgânica e de
Química Orgânica, nesta ordem.
Passados
os primeiros momentos, com a natural mistura de atitudes e de humores,
que vão do heroísmo à revolta, do susto à letargia, e do lamento à
vontade de reconstrução, é possível melhor avaliar a presente situação.
Providências
mais óbvias e simples, que compreendem a instalação provisória de setores
administrativos em outras unidades da UFBA, coleta de documentos mais
sensíveis como os contábeis e o planejamento das aulas teóricas e a sua realocação
já foram tomadas ou estão em fase de finalização.
Restam,
de mais difícil decisão face à sua exeqüibilidade, as aulas práticas,
notadamente as de cursos de graduação. Mas, mesmo com relação a estas,
providências urgentes são necessárias, afinal de contas a Química é uma
ciência experimental.
No
que se refere aos cursos de pós-graduação as providências adotadas pelo
Colegiado foram rápidas: redirecionamento de algumas etapas dos trabalhos
previstos, encaminhamento de estudantes a outros centros de pesquisa que
disponibilizaram seus recursos materiais e humanos etc. Claro que não se
poderá encaminhar todos os estudantes de PG para outras instituições. As
soluções serão, necessariamente, numa base caso-a-caso e estão sendo
buscadas.
Há,
contudo, um espaço de vácuo nas decisões até então tomadas. E este vácuo
compreende, essencialmente, os equipamentos mais sofisticados que a
instituição dispõe – destinados à pesquisa e também ao ensino numa etapa
mais sofisticada, tanto de graduação como de pós-graduação.
Ainda
que, inicialmente, tenha sido facultada a presença de responsáveis por
laboratórios, e de seus assessores mais próximos, às instalações do
primeiro e segundo andares e parcialmente às do quarto andar, para a
adoção de providências elementares como a cobertura por mantas de
plástico em alguns equipamentos e a coleta de reagentes e produtos que
poderiam ser de algum maior dano potencial, surpreendentemente, este
acesso foi suspenso.
Assim,
decorridas duas semanas do sinistro, não se tem um plano estabelecido,
amplamente divulgado, seqüenciado temporalmente para a adoção das medidas
que, caso-a-caso, os equipamentos exigem. Há um clima de profunda
preocupação por parte dos responsáveis pelos laboratórios de pesquisa.
Não
foi divulgado um plano de remoção e reinstalação de equipamentos, seja
para o seu uso ou para a simples manutenção dos mesmos em condições de
adequada preservação. Não existem datas predefinidas para a avaliação das
condições dos equipamentos, não foi explicitada a estratégia para a progressiva
ativação dos circuitos elétricos que possibilitaria, pelo menos, o
estabelecimento de condições mínimas necessárias de temperatura e de
umidade para valiosos equipamentos.
A
possibilidade de “quenching” do Espectrômetro de RMN é apenas um exemplo,
muito ilustrativo e emblemático, mas não o único. A instituição
universitária, além de empresas e órgãos outros em funcionamento no
Estado da Bahia, conforme demonstrado no mesmo dia do sinistro, possuem
plenas condições para o trato de rejeitos e para a sua adequada
manipulação e destinação final, sob parâmetros de plena segurança. Uma
simples questão de decisão, expedita e equilibrada, diante de uma crise.
A
perícia, necessária e usualmente demandante de tempo, não só pode como
deve ter o seu espaço de atuação preservado, mas este se restringe aos
locais onde o fogo teve início e posteriormente se propagou. Assim, há
plenas condições para um acesso controlado e planejado aos demais locais.
A
demora para a adoção de providências relativas aos equipamentos não afeta
apenas os pesquisadores do IQ-UFBA, mas também a seus colegas de outras
unidades da UFBA, conhecedores das dificuldades que são inerentes para o
planejar, o instalar e o operar laboratórios de pesquisa – uma
solidariedade que advém do pleno conhecimento do ofício de ser um
pesquisador.
O
Instituto Nacional de Tecnologia em Energia e Ambiente, liderado por
pesquisadores da UFBA e envolvendo pesquisadores de várias outras regiões
do país exemplifica bem estas dificuldades. Pesquisas em andamento foram
interrompidas, projetos foram alterados, prazos necessariamente dilatados
– tudo isto necessitando de revisão e de redefinição à luz de um
essencial calendário de providências.
Vale
observar que o IQ-UFBA possui um número significativo de pesquisadores
com inserção nacional nas diversas áreas da Química. Entre estes estão
dois pesquisadores nível I-A do CNPq, um pesquisador nível I-C e 9
pesquisadores nível II - uma condição sem paralelo na UFBA.
É
preciso compreender que a condição de emergência não se encerrou com os
trabalhos dos bombeiros. A ação de dano, causada pela demora em se
encarar a totalidade dos problemas, pode ser muito grave. Corre-se,
assim, o risco de que a pesquisa sucumba à burocracia, esta mais atenta a
minudências meramente formais, típicas dos cartórios.
Fonte: Wilson
Lopes (Secretário Regional - SBQ)
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