(Editorial do JBCS)
A avaliação por pares, assim como a democracia, não é perfeita,
mas ainda não encontramos um sistema de avaliação ou de
organização da sociedade que possa substituí-las! Os que
estão satisfeitos com os sistemas de avaliação silenciam
e os não satisfeitos por motivos diversos, freqüentemente,
pares e ímpares, colocam os sistemas de avaliação
em discussão e sob suspeitas.
Pesquisadores reclamam que os seus projetos não são bem
avaliados nas agências de fomento ou que os seus manuscritos
científicos não receberam o tratamento que deveriam receber
nas editorias de periódicos. Os coordenadores de Programas
de pós-graduação reclamam, em geral, dos critérios de avaliação
e da posição do seu curso no ranking da CAPES (Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Uma das
queixas mais generalizadas é que a avaliação está se tornando
cada vez mais quantitativa e menos qualitativa. Será que
isto realmente está acontecendo?
A implantação do sistema de avaliação dos cursos de pós-graduação
pela CAPES e dos Comitês Assessores no CNPq, ambos na década
de 1970, foram tão importantes para o desenvolvimento e
consolidação da ciência no país quanto os recursos alocados
pelas agências de fomento. Com isso foram criados dois sistemas
de avaliação: o individual, instituído pelo CNPq, no qual
o avaliado é o cientista; e o coletivo, instituído pela
CAPES, em que o avaliado é o programa de pós-graduação.
Nas décadas de 80 e 90, o Programa de Apoio ao Desenvolvimento
Científico e Tecnológico, PADCT, consolidou o sistema de
avaliação por pares, aplicando-o de forma ampla e em vários
níveis. Duas outras ações contribuíram para dar visibilidade
e credibilidade ao processo de avaliação: a implantação
da Plataforma Lattes, pelo CNPq, que colocou os curricula
vitarum dos pesquisadores disponíveis para acesso público
e a criação do Portal de Periódicos, pela CAPES, que tornou
as informações sobre as publicações contidas na Plataforma
Lattes de fácil verificação. Com isso, vários dos aspectos
relacionados à avaliação estão disponíveis ao acesso público
e podem ser quantificados e verificados.
O que se espera ao avaliar o cientista e o seu projeto ou
linha de pesquisa? Competência aliada a boas idéias! A competência
do cientista pode ser verificada por meio de suas publicações
e/ou patentes mais relevantes; da formação de recursos humanos
qualificados nos níveis de iniciação científica, mestrado,
doutorado e/ou pós-doutorado; pela liderança cientifica
expressa pela atuação no âmbito institucional, nas sociedades
científicas, em editorias de periódicos, nos convites para
cursos e conferências, etc. e na atuação na formulação de
políticas para o setor. A competência do cientista pode
ser facilmente qualificada, quantificada e verificada.
Espera-se de um projeto que tenha mérito intelectual, que
aponte para avanços na fronteira do conhecimento, que possa
ter amplo impacto, que envolva pesquisa integrada com educação
e que seja apresentado por um cientista com experiência
no tema. A qualidade de um projeto pode ser qualificada
a priori, mas só poderá ser quantificada e verificada
a posteriori.
Um conjunto de cientistas, com projetos relevantes, poderá
convergir para um curso de pós-graduação. Neste caso, além
dos atributos apontados anteriormente, é preciso que exista
uma proposta de curso bem delineada e um foco no discente.
Este último, a alma da pós-graduação.
A área de Química no Brasil representa um setor industrial
que faturou US$ 103,5 bilhões (cento e três bilhões e quinhentos
mil dólares americanos) em 2007 e um setor acadêmico com
46 programas de pós-graduação que, de acordo com a última
avaliação trienal da CAPES, formaram 1726 mestres, 1055
doutores e publicaram 8.128 artigos científicos em periódicos
indexados, sendo que 63% destes tiveram a participação discente.
A aderência e convergência desse setor com a avaliação é
expresso através da Sociedade Brasileira de Química, SBQ,
e dos cuidados com a avaliação dos trabalhos submetidos
para apresentação nas suas reuniões anuais e reuniões temáticas
e, em especial, por meio das editorias de suas revistas.1
Química Nova (QN) (Fator de Impacto - FI=0,91), 2 em
escala mundial, é a terceira colocada na avaliação do
Institute for Scientific Information (ISI) dentre
as revistas publicadas em língua não Inglesa. QN, além de
publicar artigos científicos de grande relevância, atuou
como uma escola para os jovens cientistas. Através de QN,
muitos jovens aprenderam a escrever e avaliar artigos científicos.
O Journal of the Brazilian Chemical Society , 3-5
JBCS (FI=1,54), que é o periódico de maior impacto
em toda a America Latina, independente da área do conhecimento,
também contribui para refinar e internacionalizar a avaliação
por pares, enquanto a Química Nova na Escola - QNE, voltada
prioritariamente para o ensino secundário e fundamental,
está inoculando a avaliação nestes níveis de formação.
Em resumo, a avaliação, quando bem conduzida, é altamente
benéfica para o sistema acadêmico-científico. Nesse cenário,
o que se espera do cientista ao atuar como avaliador? Muito
mais do que QI e competência. Espera-se também que tenha
motivação, bom senso e inteligência emocional, expressa
pela autoconsciência e autorregulação. E, acima de tudo,
postura e atuação ÉTICA; sem isto, a avaliação não será
feita por pares, mas, sim, será feita por ímpares!
Jailson B. de Andrade (UFBA)
Editor JBCS
1. de Torresi, S. I. C.; Pardini, V. L.; Dias, L. C.; Pinto,
A. C.; de Andrade, J. B.; Magalhães, M. E. A.; Gil, P. E.
A.; Quim. Nova 2007, 30, 1491.
2. Pinto, A.C.; de Andrade, J.B.; Quim. Nova 1999, 22, 448.
3. Loh, W.; Dias, L.C.; J. Braz. Chem. Soc. 2006, 17, 3.
4. Loh, W.; Dias, L.C.; J. Braz. Chem. Soc. 2007, 18, 3.
5. Loh, W.; Dias, L.C.; J. Braz. Chem. Soc. 2008, 19, 3.
Fonte: Editorial do JBCS |