Serão oferecidas até 420 bolsas dos programas Cientista e Jovem Cientista do Estado.
A Fundação anunciou nesta quinta-feira, 7 de agosto, o lançamento de três editais: Jovem Cientista do Nosso Estado, Cientista do Nosso Estado e o inédito Apoio a Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica. Ao todo, serão quase R$ 37 milhões para apoiar pesquisas no Rio de Janeiro.
Os interessados em participar das duas primeiras chamadas devem estar atentos às novidades desta edição dos programas. A partir deste edital, as bolsas de bancada para projeto valerão por três anos, em vez dos 24 meses das edições anteriores. Em contrapartida, os bolsistas deverão desenvolver uma atividade científico-tecnológica por ano em escolas públicas (níveis fundamental ou médio) sediadas no estado do Rio de Janeiro.
A diretoria alerta ainda para que os pesquisadores estejam atentos às exigências constantes no texto dos editais, e que não deixem para inscrever-se nos últimos dias de prazo para evitar o congestionamento do sistema Infaperj .
No programa Jovem Cientista do Nosso Estado, as bolsas – também denominadas Bolsas de Bancada para Projetos (BBP) – destinam-se a apoiar os projetos coordenados por pesquisadores em fase intermediária de sua carreira acadêmica, com boa produção científica e histórico de formação de recursos humanos, e que tenham obtido grau de doutor há menos de dez anos (a partir de 01 de agosto de 1998) .
O edital dispõe de R$ 7.776 mil, para financiar até 120 bolsas mensais de R$ 1.800, durante 36 meses. Durante sua vigência, o candidato não poderá solicitar qualquer outro auxílio de fomento da Faperj com idêntica finalidade (como APQ1 – programa básico, por exemplo). Segundo o cronograma do edital, as inscrições devem ser feitas até 14 de outubro, com entrega da documentação impressa até o dia 21 do mesmo mês. Os resultados serão divulgados a partir de 27 de novembro.
Com uma verba alocada de R$ 25.920 mil, o programa Cientista do Nosso Estado concederá até 300 bolsas com dotação mensal de R$ 2.400, durante 36 meses, e incompatíveis com outros auxílios da Faperj, com idêntica finalidade. Poderão concorrer pesquisadores de reconhecida liderança em sua área, com grau de doutor e produção científica de alta qualidade, compatível com o nível de pesquisador 1 do CNPq, especialmente nos últimos cinco anos. Os candidatos à renovação destas bolsas deverão obrigatoriamente apresentar relatório de atividades relativo ao último período de bolsa concedida.
Segundo o cronograma do edital, os interessados terão até o dia 24 de outubro para submeter suas propostas, e até o dia 31 do mesmo mês para entregar a cópia impressa de sua documentação. Os resultados deverão ser divulgados a partir de 27 de novembro.
O edital Apoio a incubadoras de empresas de base tecnológica está voltado a financiar a infra-estrutura física e administrativa de incubadoras de empresas de base tecnológica, sediadas em instituições de ciência e tecnologia (ICTs) em operação no estado.
Seu objetivo é o aprimoramento dos serviços prestados às empresas; a ampliação da capacidade de operação, incluindo expansão de instalações; o aumento do número de empresas atendidas; ampliação dos impactos da incubadora sobre a comunidade em que está inserida; e o incremento do conteúdo de inovação tecnológica das empresas atendidas.
Para tanto, o edital conta com R$ 3 milhões, a serem pagos em duas parcelas. Apenas uma proposta para cada incubadora de empresas de base tecnológica receberá os recursos, que serão outorgados ao responsável pela execução do projeto (proponente) e ao co-responsável, e administrados em conjunto. A submissão de propostas tem prazo até o dia 3 de outubro, com a entrega da documentação impressa do projeto até 10 de outubro. A divulgação dos resultados será feita a partir de 30 do mesmo mês.
Os editais estão disponíveis no site http://www.faperj.br.
Fonte: Boletim da Faperj
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Quando se fala em nanotecnologia, a primeira idéia
que vem à mente é a de um filme de ficção
científica. Não é difícil entender
por que. O nanômetro é o bilionésimo
do metro, uma escala microscópica tão difícil
de manipular que, à primeira vista, parece coisa
de cientista louco. Mas isso é um engano. À
medida que as pesquisas avançam, um número
cada vez maior de empresas brasileiras têm se encarregado
de aplicar a nanotecnologia a produtos que podem estar dentro
da geladeira do consumidor, mesmo que ele nem desconfie.
Em alguns casos, as inovações estão
literalmente na cara do usuário.
Tome-se o exemplo da petroquímica Braskem. A companhia
acaba de depositar a décima patente de um produto
baseado em nanotecnologia. A novidade é um PVC -
um tipo de plástico - desenvolvido para ser usado
nas embalagens de produtos alimentícios, como um
prosaico pote de geléia. "O nanocomposto é
aplicado na parte interna da tampa e ajuda na vedação
do produto", explica Luis Cassinelli, diretor de tecnologia
da Braskem.
Em alguns segmentos, associar o termo "nano" a
um produto já influencia até a decisão
de compra. "O consumidor sente-se atraído, procura
e adquire o produto, percebendo-o como bom, independentemente
de saber ou não o que é nanotecnologia",
diz Israel Fefferman, diretor de pesquisas e inovação
de O Boticário.
A fabricante de cosméticos, diz o executivo, foi
a primeira empresa do setor no país a oferecer uma
linha de produtos com nanopartículas que prometem
ajudar na prevenção ao envelhecimento da pele,
a categoria dos chamados produtos anti-idade. A nanotecnologia
está presente tanto em cremes para mulheres - as
maiores consumidoras desse tipo de produto - como para homens,
mas a ala masculina também tem sido beneficiada pela
ciência em outro território no qual tem particular
interesse: o carro.
A Plásticos Mueller, fabricante de peças para
grandes montadoras de veículos e fornecedora de componentes
para eletroeletrônicos e embalagens, vem ampliando
seus investimentos em nanotecnologia. Muitos automóveis
da Fiat, principal cliente da empresa, já circulam
com peças nanoestruturadas. "Criamos uma nanoargila
que substitui a fibra de vidro em determinadas partes do
veículo, como no Fiat Idea", conta Paulo Rodi,
gerente de pesquisa e inovação do Centro Tecnológico
Mueller.
A expectativa dessas companhias é usar a nanotecnologia
como aliada para obter produtos melhores a um custo mais
baixo no futuro. A Braskem pretende aplicá-la à
produção de resina. Pelo processo convencional,
o gás é colocado dentro de um sistema fechado,
conhecido como reator ou "panela de pressão".
Lá dentro, ele recebe diversos componentes até
sair do reator como resina em pó. O plano da Braskem
é aplicar a tecnologia dentro do reator, na chamada
"polimerização in situ". "Com
isso, nós melhoraríamos as propriedades do
produto, a um custo menor e com tempo reduzido", afirma
Cassinelli.
Tudo isso, claro, tem um custo inicial relativamente alto,
o que tem limitado os projetos de nanotecnologia no Brasil
a empresas de grande porte ou muito dependentes da tecnologia.
A Braskem faz pesquisas no setor há quatro anos e
já investiu cerca de US$ 10 milhões em projetos
ao longo desse período. A verba fixa anual para investimentos
em inovação, o que inclui a nanotecnologia,
gira em torno de US$ 1 milhão e US$ 2 milhões,
diz Cassinelli. Na Plásticos Mueller, o investimento
em inovação para os próximos cinco
anos é de R$ 5 milhões, informa Rodi.
A dificuldade adicional é que, dependendo do setor
de atividade, é mais difícil garantir que
a aplicação da nanotecnologia - ou de qualquer
outro processo de desenvolvimento - terá resultados
comerciais satisfatórios ou rápidos o suficiente
para dar o retorno do investimento.
Para reduzir os riscos, dois grandes laboratórios
farmacêuticos brasileiros, Eurofarma e Biolab, resolveram
investir em pesquisas nanotecnológicas a partir de
uma terceira empresa. O resultado da iniciativa é
a Incrementha, uma das companhias novatas que integram o
Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec)
localizado na Cidade Universitária, em São
Paulo.
A Incrementha ainda não tem nenhum produto nas prateleiras,
mas acaba de desenvolver um anestésico para uso local,
baseado em nanopartículas. Qual a diferença
em relação a outros medicamentos? Henry Suzuki,
diretor técnico da empresa, explica que esse tipo
de produto costuma ser muito oleoso, com aplicação
feita em grandes quantidades. "A dosagem maior pode
ser prejudicial ao paciente, pois há o risco de penetração
na corrente sanguínea." A fórmula desenvolvida
pela Incrementha é encapsulada, ou seja, permite
que o produto alcance as camadas da pele necessárias
para anestesia, permitindo um controle mais seguro dessa
absorção.
Com investimentos dos dois laboratórios, a Incrementha
poderia funcionar fora da incubadora, mas a decisão
de permanecer no Cietec visa resolver outro problema que
dificulta as pesquisas em nanotecnologia: encontrar profissionais
com experiência na área. "Optamos por
ficar na incubadora pelo fácil acesso a toda estrutura
que a Universidade de São Paulo tem a oferecer",
diz Suzuki. Setor movimenta cerca de US$ 88 bilhões
por ano no mundo.
Em "Viagem Fantástica", de 1966, cientistas
são colocados em uma nave, miniaturizados e injetados
na corrente sanguínea de um homem. Tudo isso cercado
de um enorme aparato científico. Sua missão:
operar o cérebro do paciente. A vida real, como seria
de esperar, é bem diferente. Oriundos das áreas
de química, física ou engenharia, esses profissionais
usam jaleco e luvas no laboratório, mas as semelhanças
com as aventuras dos cientistas das telas acabam aí.
"Esse profissional passa muito mais tempo sentado em
uma mesa, fazendo cálculos para definir as reações
químicas que levarão ao produto final, do
que dentro do próprio laboratório", diz
Gustavo Simões, um especialista no assunto.
Em 2005, junto com dois sócios, Simões apresentou
um projeto para desenvolver pesquisas de nanotecnologia
na incubadora de São Carlos, no interior de São
Paulo. Da empreitada, nasceu a Nanox. Com aportes da Finep,
Fapesp e CNPq, que totalizaram R$ 3 milhões, os três
amigos colocaram mãos à obra. Hoje, contam
com dois produtos principais. O primeiro é o Nanoxclean,
um pó antimicrobiano criado para eliminar fungos
e bactérias com aplicação em tecidos,
calçados, carros, metais, sanitários etc.
O segundo é um insumo para o setor petroquímico
que tem a Petrobras como principal cliente. "O Nanobarrier
é uma substância que reduz em 50% a manutenção
de dutos de escoamento de petróleo, uma vez que controla
o entupimento desses canais", diz Simões.
A vantagem da nanotecnologia é que nem o local exigido
para as pesquisas precisa ser grande. "Com uma quantidade
de material pequena e um espaço físico reduzido
podemos obter o mesmo benefício de grandes laboratórios
científicos", afirma Simões. Segundo
o pesquisador, é possível produzir nanomateriais
em escala industrial em um laboratório com 200 metros
quadrados. "Em 90% dos casos, o princípio ativo
desses materiais é bastante concentrado", diz.
Nas instalações da Nanox, por exemplo, está
o único microscópio da América Latina
capaz de proporcionar a visualização de partículas
entre três e cinco nanômetros, afirma Simões.
Para se ter uma idéia, é o equivalente ao
tamanho de um grão de areia.
Companhias como a Nanox, porém, ainda são
uma exceção no cenário da pesquisa
no Brasil. Segundo Ronaldo Marchese, organizador da Nanotec,
um evento de tecnologia cuja próxima edição
está marcada para novembro, em São Paulo,
o Brasil tem uma grande capacidade no setor, mas está
atrasado em relação a outros países.
No mundo, a nanotecnologia já movimenta cerca de
US$ 88 bilhões por ano. Até 2014, a previsão
é de que o mercado vai chegar a US$ 2,6 trilhões,
segundo a consultoria Lux Research. No Brasil, porém,
não há sequer dados de quantas empresas atuam
na área. "Faltam investimentos privados. O empresariado
só está percebendo agora a importância
de investir em inovação", diz Marchese.
Em 2004, o governo brasileiro lançou o Programa Nacional
de Nanotecnologia, com uma verba de R$ 7,5 milhões.
Desde então, o orçamento cresceu cerca de
30% ao ano. Em 2007, os recursos somaram R$ 48 milhões
destinados a empresas, além de R$ 11 milhões
para universidades e centros de pesquisa. "Esse investimento
ainda é pequeno em relação a países
do Bric", diz Mario Norberto, coordenador geral de
Micro e Nanotecnologia do Ministério da Ciência
e Tecnologia.
Outro impasse é a falta de um sistema internacional
de padrões de medida. A nanotecnologia lida com partículas
sensíveis, que podem ser alteradas com movimentos
minuciosos. É difícil, portanto, medir um
material que se encontra em escala nanométrica.
Órgãos do mundo todo, como a ISO e o próprio
Inmetro no Brasil, estão fazendo estudos em nanometrologia.
Há três anos, começou a ser implantada
no Inmetro a divisão de metrologia científica.
"Além de padrões físicos, é
preciso definir procedimentos de uso da nanotecnologia",
explica o professor Ado Jorio, coordenador de assuntos estratégicos
no instituto. Segundo Jorio, como o conhecimento na área
é muito novo, é fundamental definir métodos
internacionalmente confiáveis.
Os órgãos reguladores trabalham juntos para
tentar resolver a questão. "Quando um nanomaterial
vai ser utilizado em qualquer lugar do mundo, ele é
analisado e encaminhado aos órgão similares
em outros países, para se chegar a um consenso",
diz Jorio.
Cada produto com nanotecnologia aplicada exige uma padronização.
"Só agora, depois de 27 anos de pesquisas nessa
área, a primeira padronização está
saindo do papel", afirma Jorio. Trata-se da padronização
do nanotubo de carbono - material com propriedades mecânicas,
elétricas e térmicas, que apresenta maior
resistência a ruptura - que está sendo realizada
pelo Nist, órgão americano similar ao Inmetro.
(MR).
Fonte: Valor Econômico de 11/07/2008
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