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SOCIEDADE BRASILEIRA DE QUÍMICA  BOLETIM ELETRONICO  No. 633
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Assine e divulgue Química Nova na Escola e o Journal of the Brazilian
Chemical Society ( www.sbq.org.br/publicacoes/indexpub.htm) a revista
de Química mais importante e com o maior índice de impacto da América
Latina. Visite a nova página eletrônica do JBCS na home-page da
SBQ ( http://jbcs.sbq.org.br).
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VEJA NESTA EDIÇÃO:

1. III Encontro Nacional de Química Ambiental - inscrições até o dia
20 de dezembro de 2005
2. Abertas as inscrições para o mestrado e o doutorado em Química da
Universidade Federal de Juiz de Fora até o dia 25 de janeiro/2006
3. Uesb inscreve para mestrado em Química
4. Seis vagas para concurso de professor na área de Química na UEMA
5. Migração de cientistas, artigo de Wanderley de Souza
6. O Brasil perde com a exportação de cérebros
7. CNPq responde entrevista de Francisco Antonio Dória
8. Criada a Fundação de Amparo à Pesquisa de Goiás
9. Programa de bolsas abre inscrição para o primeiro semestre de 2006
10. Metade dos alunos da USP deve ser de escola pública, diz reitora

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1. III Encontro Nacional de Química Ambiental - inscrições até o dia
20 de dezembro de 2005
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Prezados Colegas,

As inscrições com desconto e com apresentação de trabalhos para o III
ENQAmb (Encontro Nacional de Química Ambiental), que ocorrerá de 21 a
24 de março de 2006 em Cabo Frio/RJ terminam no dia 20 DE DEZEMBRO DE
2005.

Já se encontram na página do III ENQAmb novas informações sobre a
inscrição e o programa do evento: ( www.uenf.br/index.html/IIIencontro)

Não deixem de participar!!!

Comissão organizadora do evento.

Fonte: Profa. Maria Cristina Canela
Centro de Ciências Químicas
Universidade Estadual do Norte Fluminense

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2. Abertas as inscrições para o mestrado e o doutorado em Química da
Universidade Federal de Juiz de Fora até o dia 25 de janeiro/2006
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ABERTAS AS INSCRIÇÕES PARA O MESTRADO E O DOUTORADO EM QUÍMICA DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA ATÉ O DIA 25 DE JANEIRO/2006
 
MAIORES INFORMAÇÕES: ( www.pgquimica.ufjf.br)
 
Secretaria do Prog. de Pós-Graduação em Química/UFJF
tel: (32)3229-3310
fax: (32)3229-3314
e-mail: (pgquimic@quimica.ufjf.br)

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3. Uesb inscreve para mestrado em Química
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Estão abertas, até o dia 6 de janeiro de 2006, as inscrições para a
seleção do Mestrado em Química oferecido pela Universidade Estadual
do Sudoeste da Bahia (Uesb), em Jequié. O curso, com concentração em
Química Analítica, é gratuito e oferece anualmente dez vagas para
graduados em Química ou áreas afins.

Os interessados devem se inscrever no Colegiado do Programa de
Pós-Graduação em Química, no segundo andar do Centro de
Aperfeiçoamento Profissional (CAP) do campus de Jequié, das 8 às 12
e das 14 às 18 horas. Também serão aceitas inscrições pelos Correios,
via sedex, desde que sejam postadas até o dia 30 de dezembro deste
ano.

O processo de seleção será em duas etapas eliminatórias. A primeira,
prevista para o dia 24 de janeiro de 2006, será um exame com dez
questões abordando os tópicos e a bibliografia que constam no Anexo
II do edital 071/2005, obtido na página (www.uesb.br). A segunda etapa
é composta de exame de proficiência em inglês, no dia 25 de janeiro;
de entrevista, nos dias 26 e 27 de janeiro; e de análise do currículo
e do histórico escolar.

O resultado final do processo seletivo será divulgado no dia 28 de
janeiro. Os candidatos selecionados deverão realizar matrícula no dia
30 do mesmo mês, no colegiado de pós-graduação. O início das aulas
está previsto para março.

Mais informações, pelo telefone (73) 3526-8630, ou pelo e-mail
(mestrado.quimica@uesb.br)
 
Fonte: Prof. Valfredo Azevedo Lemos
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

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4. Seis vagas para concurso de professor na área de Química na UEMA
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A UEMA - Universidade Estadual do Maranhão está realizando Concurso
para Professor na área de Química, sendo: 

1 vaga para Química Orgânica;
2 vagas para Química Inorgânica,
2 vagas para Físico-Química
e 1 vaga para Química Quântica.

Os editais referentes ao Concurso (EDITAL Nº 101/2005-PROG/UEMA e
EDITAL DE RETIFICAÇÃO Nº 06/2005-PROG/UEMA) estão disponíveis no
site da universidade: (www.uema.br)
 
Na nossa universidade, o salário do Professor Adjunto I com titulação
de Doutor e TIDE - Tempo Integral e Dedicação Exclusiva é de
R$ 5.500,00 (cinco mil e quinhentos reais).
 
Atenção: as inscrições vão até o dia 30 de dezembro.

Fonte: Maria Célia Pires Costa

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5. Migração de cientistas, artigo de Wanderley de Souza
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É justo que países em desenvolvimento invistam milhares de dólares em
jovens que atingem o nível pós-graduado e que depois muitos migrem
para outros países?

A história confirma o importante papel desempenhado por pesquisadores
de diferentes paises no desenvolvimento científico de uma nação. Um
dos fatores mais freqüentes para esse movimento tem sido a perseguição
a determinados grupos étnicos ou a beligerância internacional.

O êxodo de pesquisadores da Alemanha para os EUA na década de 40
resultou num elevado impacto no desenvolvimento científico e
tecnológico norte-americano que beneficiou o Brasil, ainda que de
forma tímida.

Um exemplo foi a criação, por Carlos Chagas Filho, de vários grupos
de pesquisa na instituição que hoje leva o seu nome, com a vinda de
pesquisadores como René e Sabine Wurmser, da França, e Hertha Meyer,
da Alemanha.

Outro fator de migração tem sido a tendência dos pesquisadores de se
motivarem por projetos inovadores, sobretudo aqueles em áreas de
fronteira do conhecimento contemporâneo.

Exemplo recente foi a criação do Biopolis de Cingapura, importante
complexo científico nas áreas da genômica, proteômica, bioengenharia
e bioinformática, que atraiu dezenas de pesquisadores das mais
importantes instituições científicas norte-americanas e européias.

O Brasil, em menor escala, se beneficiou desse tipo de migração,
atraindo pesquisadores para a criação da Universidade de SP (USP)
e da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf).
Na década de 30 foi possível dotar a nascente USP de nomes
importantes como Claude Lévi-Strauss, Roger Bastide, Gleb Wathagin,
Gustav Brieger e Heinrich Reinboldt, entre outros.

No início da década de 90, vários pesquisadores foram atraídos para
organizar a Uenf.

No entanto, a falta de uma política de prioridade para a área de
ciência e tecnologia não permitiu, na época, atrair pesquisadores
argentinos, chilenos e peruanos.

Nesse aspecto, os EUA continuam sendo os grandes beneficiados pela
emigração de recursos humanos altamente qualificados. Entre 1990 e
2000, cerca de 900 mil profissionais ingressaram naquele país
utilizando o visto H-1B. De cada mil argentinos que emigraram para
os EUA nos últimos anos, cerca de 200 são cientistas e técnicos. Esse
número é de 156 para o Chile, 100 para o Peru e 26 para o México.

Em algumas áreas, 25% dos estudantes de pós-graduação nos EUA são de
outros países. Este número é de cerca de 10% na Austrália, Áustria,
Suíça e Reino Unido. A Alemanha planeja atrair 20 mil profissionais
nos próximos anos. Várias instituições brasileiras já sentiram o
efeito do programa de atração de jovens pós-graduandos por estes
países.

Como os países fornecedores de estudantes de pós-graduação têm
reagido? No caso da China, Coréia do Sul e Índia existem programas
que estimulam a chamada diáspora científica. Importantes centros de
pesquisa científica surgem a cada ano. Merece destaque a área de
tecnologia da informação em Bangadore, na Índia.

No México houve algumas iniciativas governamentais que permitiram o
retorno de vários pesquisadores mexicanos radicados nos EUA. Nos
demais paises da América Latina não há programas semelhantes.

É justo que países em desenvolvimento invistam milhares de dólares
em jovens que atingem o nível pós-graduado e que depois muitos
migrem para outros países? Não caberia, tal como acontece na área
esportiva, uma compensação financeira por parte dos países receptores?

Por outro lado, muitos dos pesquisadores brasileiros que emigraram por
motivos diversos têm prestado importante colaboração ao
desenvolvimento científico nacional.

Esses pesquisadores recebem estudantes brasileiros para estágios
avançados e vêm mantendo intensa cooperação científica com
instituições nacionais.

Nota do Editor: Wanderley de Souza é secretário de C&T do RJ, membro
da Academia Brasileira de Ciências e professor titular de
Parasitologia da UFRJ. Artigo publicado no Jornal do Brasil, 12/12.

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6. O Brasil perde com a exportação de cérebros
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O físico Fred Melo Paiva Francisco Antonio Doria, professor emérito da
UFRJ, diz a "O Estado de SP" que o problema não é o apagão de energia
elétrica, mas o apagão intelectual, desastre capaz de interromper
qualquer projeto de desenvolvimento

Francisco Antonio Doria já tinha se cansado dos discursos sobre a
perda de competitividade das indústrias brasileiras. Foi então que,
diante do espetáculo dos que não cresceram, pediu a palavra:

"Temos tido um sucesso inesperado e certamente não desejado em outro
aspecto de nosso comércio exterior: a exportação de cérebros".

Ministros franziram a testa, empresários e sociólogos cruzaram
olhares de interrogação.

Francisco foi em frente: contou primeiro a história de um doutor em
física que foi dar aulas nos EUA, já tem o green card e deve se
tornar em breve um cidadão americano.

Depois fez um relato pessoal da frustrada tentativa de conseguir uma
bolsa para seus estudos na área de Lógica.

Terminou lembrando um personagem histórico que de tão esquecido
ninguém na sala dava notícia de sua existência:

"Temos um precedente trágico. Peter Medawar, o Prêmio Nobel cuja
cidadania brasileira o Brasil cassou. Trata-se de evitar, daqui a dez
anos, um apagão intelectual que vai afetar a fundo o desenvolvimento
do Brasil".

Chico Doria, 60 anos, é doutor em Física pela UFRJ. Já foi, ele
próprio, um cérebro tipo exportação - como pesquisador das
Universidades de Rochester e Stanford, ambas nos EUA, resolveu os dois
problemas matemáticos que o consagraram como grande nome da ciência
no mundo.

Embora sua praia sejam os números, foi um dos fundadores da Escola
de Comunicação da UFRJ nos anos 80, "quando sua proposta era a
convergência entre exatas e humanas".

É hoje professor emérito da UFRJ e pesquisador visitante do Instituto
de Estudos Avançados da USP.

Chico Doria vive em Petrópolis desde 1976, porque "matemática precisa
de paisagem bonita". Gosta de ficção científica e volta e meia cita
Guerra nas Estrelas - acha que esse pessoal acaba por propor questões
no fundo importantes.

Foi talvez com esse espírito que Chico tenha se insurgido na última
reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES),
órgão de assessoramento da Presidência da República apelidado de
Conselhão.

Na entrevista a seguir, ele explica sua teoria do apagão intelectual:

Existe realmente uma perigosa evasão de cérebros para o exterior?

- Sem dúvida. Esse movimento começou no tempo de Fernando Collor, e
o motivo básico é a compressão salarial nas universidades. Pegue um
professor titular, aquele sujeito que geralmente é um chefe de
pesquisa com muita experiência e que só pelo seu trabalho já está
formando pessoas em volta dele. Antes da ditadura, esse professor
tinha salário equiparado ao de um ministro do Supremo Tribunal Federal
- e um status social correspondente. Hoje, um professor titular de
universidade federal, se tiver começado a carreira imediatamente,
estará ganhando, líquidos, R$ 4.000 por mês, talvez menos. Por outro
lado, a Comunidade Européia oferece bolsas de doutoramento na ordem
de 1.100 euros - ou seja, perto do que recebe o professor já em final
de carreira aqui no Brasil. Então, se você é realmente bom e tem uma
oferta no exterior, vai embora. É o que está acontecendo.

Além dos baixos salários, o que mais favorece a migração de
cientistas brasileiros para o exterior?

- As condições de trabalho no País. O sistema político brasileiro é
absolutamente insensível ao que se faz aqui em termos de ciências. É
o caso, por exemplo, do que acontece com a área de Lógica, que está
sendo destruída. Não vejo má-fé nesse processo, mas uma cegueira
total. O pessoal do CNPq - estou falando especificamente de seu
presidente, Erney Camargo, e também de José Roberto Drugovitch,
espécie de diretor-executivo - acha que Lógica é área secundária.
Da mesma forma que não conheço uma porção de coisas que se faz na
área médica, eles - que são responsáveis pela concessão de bolsas
para pesquisas científicas - não sabem que da Lógica depende, entre
outros setores, o da computação.

Esse já seria um dos motivos que fazem o País ser mais atrasado nesse
campo do que, por exemplo, a Índia?

- Sim. Quem faz a política científica no Brasil não percebe que
determinadas áreas teóricas dão suporte a áreas aplicadas. Nos
últimos cinco anos, uma série de pesquisadores em Lógica, gente de
alto nível, tem tido bolsas recusadas ou cortadas - inclusive eu. Vou
falar em causa própria, mas acho um absurdo que não tenha recebido um
centavo do CNPq para editar um estudo sobre hipercomputação. É uma
aposta segura, porque mais cedo ou mais tarde alguém vai construir
esse supercomputador que irá colocar no chinelo todos os outros. O
Brasil tem de ter um nicho de pesquisa nessa área. No entanto, riram
de mim no parecer do CNPq, assinado por um comitê cujo processo de
escolha dos membros nunca é muito transparente. Eles me
ridicularizaram a ponto de dizer que minha proposta era arrogante e
ambiciosa. Foram extremamente grosseiros. Isso mostra, sobretudo,
que as pessoas que formularam tal parecer não têm capacidade de
entender meu trabalho nem minha área de atuação - aliás, junte o
currículo das três pessoas que formam o comitê e compare com o meu.
Eu ganho. O desrespeito, porém, não aconteceu só comigo. Outros
colegas foram surpreendidos com pareceres igualmente ofensivos. Até
o grande matemático Newton da Costa recebeu comunicado em que dizem
simplesmente que darão a ele a bolsa porque seria um absurdo
recusá-la - mas, ressalvam, o que ele faz não tem a menor
importância.

Qual a conseqüência dessas recusas e cortes de bolsas para a produção
científica?

- Não poderemos mais formar pessoal. Porque ninguém vai entrar numa
área que não tem apoio de órgão oficial. Aluno promissor vai para
área que dá bolsa, onde se tem futuro. Nós temos toda a condição de
produzir teses interessantes, de propor muitos problemas. Mas, se a
coisa não é valorizada no Brasil, por que ficar aqui? Se o aluno
está interessado de verdade, ele vai embora.

Os países desenvolvidos estão interessados em acolher essas pessoas?

- Vou contar uma história que responde à pergunta. Minha filha,
Mariana, é engenheira química. Interessou-se por Economia Ambiental.
Descobriu que a Comunidade Européia criou, no norte da Itália, um
centro de pesquisa sobre Economia Aplicada. Ela se candidatou, fez a
seleção - que é baseada simplesmente em currículo e entrevista - e
está lá estudando com uma bolsa. A primeira peculiaridade, ela me
diz, é que a língua das aulas e das provas é o inglês. Aqui isso é
proibido por lei. São colegas dela um chinês, um vietnamita, uma
paquistanesa e gente de todo o continente. O interesse, claro, é que
se fixem por lá e ajudem no desenvolvimento da Europa.

Ela quis continuar os estudos no Brasil?

- Sim. Mas disseram que a área dela, Engenharia, não era compatível
com Economia. Lá fora, essa questão jamais foi levantada. Aqui, a compartimentação das áreas impede, por exemplo, que eu pegue um bom
aluno meu que tenha feito Física e sugira a ele uma pós-graduação em
Economia. No entanto, conheço vários pesquisadores do exterior que
estão modelando processos econômicos em analogia a processos físicos.

Quais as áreas mais afetadas pela fuga dos pesquisadores?

- As Ciências Exatas. Eu já estou muito velho. Mas, se estivesse na
faixa dos 30 ou 40 anos, certamente estaria considerando a
possibilidade de emigrar. E mesmo eu sendo velho, foi me dito no
começo do ano por um colega do exterior que, se eu trabalhasse em
modelos matemáticos aplicados a sistemas financeiros, teria para
mim uma posição fora do Brasil. Estou pensando seriamente em me
interessar pela coisa...

Quais os prejuízos dessa saída dos cientistas brasileiros para o
exterior?

- O primeiro ponto é o seguinte: como se forma um professor? Você pega
um aluno talentoso e chama para fazer uma iniciação científica com
você. Em geral, oferece uma bolsa para esse aluno. Aí ele vai se
interessar pela área e começará a caminhar pelas próprias pernas.
Fará mestrado e doutorado. Digamos que termine o doutorado com 30
anos e queira ir para uma universidade pública, onde irá encontrar
um ambiente intelectual mais interessante. Nessa hora, ele vai se
perguntar quanto estará ganhando com 50, 60 anos. E perceberá que
no exterior as possibilidades são muito maiores, mesmo que ele não
vá para uma universidade top. E vai embora. Agora, se a universidade
está perdendo essa turma, quem vai dar aula daqui a dez anos? Além
desse aspecto, veja, por exemplo, a questão da biomassa. Este é um
país que recebe sol em todo o território, e portanto um produtor
natural. Mas são os EUA que estão investindo furiosamente nisso. Aqui,
era para ter programas prioritaríssimos nessa área, porque é óbvio
que não vai existir petróleo para sempre. Mas, ao contrário, estamos
perdendo competitividade - e talentos.

A política de distribuição de bolsas para pesquisadores piorou ao
longo dos anos?

- Antes era sem dúvida muito melhor. Primeiro, havia menos gente
fazendo pesquisa e, portanto, pedindo bolsa. Depois, a coisa era
mais informal - o CNPq acompanhava seus bolsistas a ponto de ficarmos
amigos deles. Se havia uma recusa de bolsa, não era feita dessa
maneira grotesca de hoje - havia também a preocupação em apontar um
caminho para aquele estudante. Hoje em dia o processo virou uma
coisa gigante, burocrática e ineficiente. Eles têm, por exemplo, um
currículo padrão, o Currículo Lattes. A maioria das pessoas entrega
para a secretária do departamento preencher. Quem não pode quebra a
cara. O meu, por exemplo, está incompleto. Preencher um formulário
do CNPq é, de resto, um processo infernal. E só é possível fazê-lo
se você tiver computador com Windows. Um absurdo! Já vi muito
pesquisador bom decidido a nunca mais pedir uma bolsa.

Existe uma política para aumentar o número de doutores no País,
ainda que a qualidade desse pessoal seja questionável?

- Isso acontece há muito tempo, porque é legalmente exigido das
Universidades particulares certo número de doutores em seu corpo
docente. Como o país funciona em termos de papel e carimbo, então
vamos produzir doutores para atender a esse mercado, ainda que não
tenham qualidade para obter título algum. Se há uma coisa
interessante nos EUA, é que lá eles não dão bola para papel, mas
para a competência das pessoas. Nos EUA, um currículo tem nome,
qualificação, título máximo e citações - uma pequena lista de quem
citou um trabalho seu e onde apareceu essa citação. Você sabe que no
Lattes não tem onde colocar citações a seus trabalhos? O mais
importante não tem lá...

Diante desse quadro, qual o panorama da atual produção científica
no Brasil?

- Há picos isolados: gente muito boa trabalhando na ponta em uma
porção de áreas, especialmente aquelas em que somos tradicionalmente
bons - a Matemática é muito boa, temos ótimos físicos teóricos, há
muito tempo que temos aqui uma medicina de vanguarda. Agora, não há
massa crítica - na maioria dessas áreas, você tem dois ou três
grandes nomes e uma massa sem o mesmo brilho desses dois ou três.

Essas pessoas despontam em razão de um empenho puramente particular,
ou há alguma estrutura capaz de promovê-las a um nível de excelência?

- Em uma ou outra área mais organizada - a Matemática é uma delas -,
você tem uma rede de sustentação. Mas, de modo geral, são pessoas que
brigam por si mesmas, que saem para a luta sozinhas, sobretudo contra
a indiferença das pessoas.

O senhor fala da boa performance da nossa Matemática. O Brasil tem
uma respeitada participação na área de exatas, não?

- A matemática brasileira é muito boa - mas é um grupo isolado, o
grupo do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e alguns
departamentos subsidiários. Há também alguns pequenos grupos de
física que são muito bons. A Biofísica brasileira é outra área com
notoriedade internacional. Para ciências mais aplicadas, a engenharia
de petróleo do Brasil é maravilhosa - mas avançou quase que no tapa.

São áreas em que o apagão intelectual é ainda somente uma ameaça?

- Não. Já é possível sentir seus efeitos. Na última reunião do
Conselhão, falei de um físico teórico de 35 anos que no Brasil nunca
teve bolsa - esse pesquisador trabalha com fundamentos da mecânica
quântica, e está particularmente interessado em coisas que beiram a
ficção científica, como por exemplo a discussão teórica sobre a
possibilidade da desintegração do corpo humano e sua reintegração.
Essa, como outras, é uma questão de ponta. É um físico que publica
muito no exterior e tem currículo impecável. Está como professor
visitante em Stanford, esperando uma oportunidade para ficar por lá
em definitivo. Ele não faz parte dos grupos que citei, então suas
chances com relação a financiamento de pesquisas no Brasil são bem
menores. Não estou dizendo que tenha peixada nessas escolhas - faz
parte do mecanismo que um grupo forte atraia para si uma grande
parte do dinheiro. Agora, resta a quem não faz parte desses grupos
duas saídas: abandonar a carreira ou ir embora do país.

O senhor falou da tecnologia de extração de petróleo - é um bom
exemplo de parceria entre pesquisadores e a Petrobras. Por que não
existem mais parcerias entre empresas privadas e Universidades?

- Digamos que um industrial brasileiro queira fazer uma grande doação
para uma universidade, financiar algum tipo de pesquisa, ou mesmo
patrocinar alguma cátedra, como é comum nos EUA. Do ponto de vista
legal, não há um mecanismo que possibilite isso em nenhuma
universidade pública, nem mesmo na USP, que é mais flexível. Enquanto
isso, o orientador do meu doutorado recebeu convite para sair da
Universidade de Rochester e assumir uma cátedra em Chicago. A
Universidade, desejando que ele ficasse, conseguiu o patrocínio da
Kodak, que tem sede lá. Criaram então a cátedra George Eastman,
homenagem ao fundador da empresa. E assim ele pôde ficar, com a
obrigação única de dar um curso avançado a cada semestre - e sobre
o tópico que quisesse. No Brasil, não temos uma lei como a Rouanet
para C&T, alguma coisa que permita abater no imposto de renda
eventuais doações. Valoriza-se a atividade artística, mas não a
científica. É sintomático do que escreveu Mário Henrique Simonsen
em seu livro Brasil 2001: "é um país de beletristas".

O senhor arriscaria uma projeção do país para o dia em que aqui não
tivermos mais nenhum pesquisador?

- Voltaremos a exportar matéria-prima e importar manufaturados.

Fonte: O Estado de SP, 12/11

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7. CNPq responde entrevista de Francisco Antonio Dória
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"O CNPq distribui anualmente mais de 50 mil bolsas de estudo em
várias modalidades e tem recebido um número cada vez maior de pedidos,
não constando que cientistas tenham significativamente desistido de
solicitá-las"

Leia íntegra da resposta, assinada pelo assessor de comunicação
social do CNPq, Dácio Renault Silva:

"Com respeito à entrevista do Prof. Francisco Antonio Dória ao
caderno Aliás deste Jornal {O Estado de SP, sob o título "O Brasil
perde com a exportação de cérebros", o CNPq tem a esclarecer que:

a) quaisquer deliberações sobre projetos ou pedidos submetidos ao CNPq
pelo referido professor foram tomadas pelos pesquisadores membros do
Comitê de Assessoramento de sua própria área de atuação;

b) o presidente e os diretores do CNPq não participam de deliberações
sobre o mérito dos pedidos submetidos ao CNPq;

c) o presidente do CNPq jamais expressou, por escrito ou oralmente, ao
referido professor, qualquer opinião sobre Lógica;

d) existem discordâncias de opinião entre membros da comunidade e dos
comitês de assessoramento, mas há no CNPq caminhos institucionais de
recursos para resolver essas discordâncias. O referido professor
conhece e usa esses caminhos;

e) o Conselho Deliberativo do CNPq, atendendo a pedido de
pesquisadores, aprovou em junho pp a ampliação do Comitê de Filosofia,
para assegurar a presença de um representante da área de Lógica, o
que aparentemente era uma causa de discordâncias.

Além disso, o CNPq informa que:

a) é verdade que solicitantes de bolsas e auxílios têm de ser
cadastrados na Plataforma Lattes;

b) apesar dos inconvenientes apontados pelo pesquisador, a Plataforma
tem hoje registrados cerca de 600 mil usuários e já serve a 8 paises
da América do Sul e África;

c) não é verdade que a plataforma só possa ser acessada pelo Windows,
podendo também ser acessada por software livre (Linux) há mais de 2
anos;

d) o CNPq distribui anualmente mais de 50 mil bolsas de estudo em
várias modalidades e tem recebido um número cada vez maior de pedidos,
não constando que cientistas tenham significativamente desistido de
solicitá-las."

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8. Criada a Fundação de Amparo à Pesquisa de Goiás
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O ministro da C&T, Sergio Rezende, participou na manhã desta
segunda-feira, em Goiânia, da sessão solene do Conselho Estadual de
C&T (Concitec), quando foi sancionada pelo governador em exercício,
Alcides Rodrigues Filho, a lei que cria a Fundação de Amparo à
Pesquisa naquele estado

Com a nova instituição, Goiás passa a contar com significativo
reforço no fomento e financiamento a projetos de pesquisa científica.

"O estado de Goiás está dando um importante passo rumo ao seu
desenvolvimento", afirmou o ministro. Rezende comentou que esta foi
a segunda vez em que participa de uma cerimônia com essa finalidade.
A primeira foi a de criação da Fundação de Amparo à C&T do Estado de
Pernambuco, em 1990, instituição da qual foi o primeiro presidente.

Segundo a secretária de C&T de Goiás, Raquel Teixeira, a proposta
para criação da FAPEG foi apresentada ainda na década de 70,
constituindo-se em um pleito antigo da comunidade acadêmica regional.

"A Fundação que nasce hoje é uma conquista de todos", afirmou diante
de representantes do poder público, da iniciativa privada e de
acadêmicos.

Sergio Rezende ressaltou que "a criação se deu em um momento propício
e oportuno, onde a academia e o setor produtivo começam a caminhar
juntos". A afirmação foi feita em referência direta à cultura da
inovação tecnológica, ferramenta que agrega valor a produtos e
processos, contribuindo para o aumento de competitividade do país.

A inovação também foi destaque no discurso de Alcides Rodrigues, que
classificou o momento como sendo de grande importância para a ciência
e a tecnologia. "Ao criar essa Fundação, depositamos nossa confiança
no desenvolvimento de um estado cada vez mais competitivo", afirmou.

O ministro aproveitou para anunciar o aumento dos recursos do Fundo
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) para
2006, notícia recebida com aplausos pelos presentes ao evento.

Mestrado

Logo após a cerimônia, o ministro participou de almoço onde, em
companhia do governador Marconi Perillo, assistiu ao lançamento do
curso de mestrado profissional em gestão farmacêutica.

Rezende reforçou a importância da inovação e da capacitação técnica
em áreas estratégicas para o país, como é a de fármacos, item de
destaque na Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior.

Goiás detém um dos principais pólos farmacêuticos do país, localizado
na cidade de Anápolis.

O governador aproveitou a ocasião para comunicar ao ministro que o
estado está criando sua lei de inovação regional, que deverá ser
encaminhada em breve à Câmara Legislativa.

"O governo sempre colocará em prática esforços para viabilizar o
desenvolvimento de pesquisas em todo o estado", afirmou.

(Gustavo Sousa Jr, da assessoria de imprensa do MCT)

Fonte: JC e-mail 2914, de 13 de Dezembro de 2005

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9. Programa de bolsas abre inscrição para o primeiro semestre de 2006
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Serão oferecidas 87 mil vagas do Prouni

Luciana Constantino escreve de Brasília para a "Folha de SP":

Os candidatos interessados em concorrer a uma das 87 mil vagas do
Prouni (Programa Universidade para Todos) oferecidas para o primeiro
semestre de 2006 já podem fazer a inscrição, disponível somente pela
internet.

O prazo foi aberto ontem e termina no próximo dia 2 de janeiro. Até o
início da tarde, o Ministério da Educação, responsável pela
pré-seleção dos alunos, havia registrado cerca de 40 mil inscritos.

A ficha está disponível no endereço www.mec.gov.br/prouni.

O Prouni, criado em 2004 pelo governo federal, beneficia estudantes
que tenham renda familiar de até três salários mínimos (por pessoa).

Distribui bolsas integrais e parciais em instituições particulares de
ensino superior.

Já as instituições de ensino superior que aderem ao Prouni têm isenção
de tributos federais. Se forem filantrópicas, devem oferecer as bolsas
para continuar enquadradas nessa categoria, pois já são isentas desses
impostos.

Segundo o ministro da Educação, Fernando Haddad, a renúncia fiscal
decorrente do programa ficará em R$ 109 milhões neste ano, abaixo do
previsto inicialmente pelo governo federal.

Das 87 mil vagas oferecidas, 60 mil serão integrais. As demais serão
de 50%, ou seja, o aluno paga a metade da mensalidade.

O MEC anunciou que outras 43 mil bolsas estarão disponíveis no
segundo semestre de 2006, totalizando 130 mil vagas. Neste ano, foram
beneficiados cerca de 112 mil alunos.

Na inscrição, cada candidato pode escolher até cinco opções de cursos, habilitações ou instituições. As escolhas podem ser alteradas até 2 de
janeiro.

Para concorrer a uma das bolsas, o candidato deve ter prestado o Enem
(Exame Nacional do Ensino Médio) 2005. A prova foi feita em setembro
e atraiu 2,2 milhões de pessoas.

É por meio da nota do Enem que o MEC seleciona os beneficiados do
Prouni. A nota de corte do programa neste ano ainda não está fechada,
mas ficará igual ou maior a 45 pontos - última média exigida.

Fonte: Folha de SP, 13/12

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10. Metade dos alunos da USP deve ser de escola pública, diz reitora
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A primeira mulher a dirigir a principal universidade do país
estabelece os 50% como meta para dez anos

Fábio Takahashi e Ricardo Melo escrevem para a 'Folha de SP":

Quando candidata à reitoria da USP, Suely Vilela falava em aumentar
o número de alunos de escolas públicas na universidade. Ao ser
escolhida para o cargo, ressaltou que essa inclusão era sua
prioridade.

Agora, a primeira mulher a dirigir a principal universidade do país
estabelece uma meta: fazer com que os estudantes da rede pública
ocupem metade das vagas da USP em dez anos.

Atualmente esse percentual mal chega a 20% dos aprovados no
vestibular, apesar de eles representarem 85% dos alunos do ensino
médio paulista. Para mudar isso, estuda, por exemplo, implantar um
sistema de pontuação para ajudar o aluno da rede pública.

Vilela, 51, promete outra medida de impacto: intensificar as
avaliações na universidade, de tal modo que os professores da
graduação sejam avaliados pelos seus pares.

É polêmica na certa, mas o desafio parece não assustar quem, na vida
acadêmica, publicou inúmeros trabalhos sobre a ação do veneno de
serpentes -a reitora é formada em farmácia.

Corintiana assumida, a reitora recebeu a reportagem em seu gabinete
na última quarta-feira, três dias após o seu time ter vencido o
Campeonato Brasileiro. Vestia calça preta e um blazer branco. "O
pessoal aqui brincou que eu vim assim para comemorar, mas foi só
coincidência."

Nascida no interior de Minas Gerais, Vilela manteve o bom humor até
quando abordou as críticas com relação ao seu gosto por filmes
românticos e livros de auto-ajuda. Só mostrou desconforto ao ser
questionada sobre o governo Lula. Preferiu não responder.

Ela diz que nunca sofreu discriminação numa universidade em que 65%
dos docentes são homens. Mas afirma que mulher "sempre tem de provar
um pouco mais". Arranjos de flores decoram o gabinete dela. A sala é
ampla, possui até um pequeno jardim protegido por janelas. O tormento
vem dos pernilongos.

"Acho que vou fazer uma reforma aqui, colocar uma tela, para poder
abrir a janela e não precisar usar tanto o ar-condicionado", disse.
"Isso se der tempo, porque estou vendo que o ritmo aqui..."

Nos próximos quatro anos, Vilela irá administrar uma instituição que
possui 76 mil alunos, 5.000 docentes, 15 mil técnicos-administrativos
e um orçamento na casa de R$ 2,2 bilhões, além de ter sido a única
universidade sul-americana a figurar no ranking das 200 melhores
instituições de ensino superior do mundo, feito neste ano pela
publicação britânica "The Times Higher".

A seguir, os principais trechos da entrevista exclusiva concedida à
Folha:

Folha - A senhora quer que a sua gestão seja lembrada pelo quê?

Suely Vilela - Vou investir muito na inclusão social. Mas também quero
deixar um modelo de gestão, não algo que dure só o meu mandato. O
desafio é você trabalhar para o longo prazo. Precisamos de um
planejamento estratégico.

Folha - Como será esse modelo de gestão? O que deve ser mudado?

Vilela - Como somos uma autarquia pública, por si só já temos uma
administração que não flui na velocidade que demandam a pesquisa, o
ensino e a extensão. Isso é da própria legislação. Mas precisamos
buscar maneiras de romper esses entraves. Precisamos olhar a
universidade de forma integrada. Há diferentes grupos administrativos
trabalhando na mesma questão. Por exemplo, na internacionalização
[convênios com instituições do exterior]. Buscamos isso na graduação,
na pesquisa e na pós-graduação, mas de uma forma que não é integrada.
Cada um olha apenas a sua área. O correto é, quando for fazer uma
minuta de convênio, trabalhar para que esse acordo seja para as três
atividades.

Folha - E sobre a inclusão social. Como fazer isso?

Vilela - Quero que a USP trabalhe na melhoria do ensino médio e
fundamental público. Vamos incluir melhorando a formação do aluno e
do professor. Isso vai refletir no ingresso na universidade. Podemos
criar cursos para estudantes, professores e um pré-universitário,
para o aluno do terceiro colegial. Nossos docentes e pós-graduandos
darão as aulas.

Folha - Qual será o tamanho desse projeto?

Vilela - Isso depende da disponibilidade de recursos. Obviamente
queremos que ele cause impacto. Não adianta fazer para uma população
pequena. Mas precisamos de recursos extra-orçamentários, do governo
ou de empresas. Provavelmente haverá bancos que financiarão esse
projeto, porque eles poderão ter alguma isenção fiscal.

Folha - Esse projeto não pode tirar o foco da produção acadêmica da
universidade?

ilela - Não. A USP vai continuar na vanguarda do desenvolvimento da
pesquisa e do conhecimento. Isso já está consolidado, há convênios
com agências de fomento. Esse processo caminha naturalmente,
independentemente do reitor. Mas, quando olho a universidade, busco
onde não estamos colaborando efetivamente com a sociedade. A inclusão
social e a qualidade da graduação precisam de uma ênfase maior,
porque é a própria universidade que mantém isso, não há ajuda de
fora, não há organismos externos que financiam a graduação, por
exemplo.

Folha - Qual seria o nível ideal dessa inclusão social?

Vilela - É preciso traçar uma meta, que seja atingida de forma
gradual. Temos de chegar aos 50% [de alunos da escola pública na
universidade] dentro dos próximos dez anos, até para valorizar o
ensino público.

Folha - Para chegar a isso, pode haver mudança no vestibular?

Vilela - Qual o desafio do vestibular? É não premiar apenas a
informação, porque assim você não privilegia uma determinada classe
econômica [a mais alta]. É preciso também ver as habilidades dos
candidatos. Agora, como fazer isso? Estamos procurando. Sou contra
as cotas, a simples reserva de vagas. A entrada na universidade
precisa privilegiar o mérito acadêmico, o aluno precisa ter condição
de acompanhar o curso. Mas podemos até criar um sistema de pontuação.
Vamos supor que é preciso nota 7 para entrar na universidade. Aí,
você tem uma faixa de alunos [da escola pública] que fica entre 6,5
e 6,9. Você poderia trabalhar essa diferença dando uma pontuação
[sistema parecido com o da Unicamp]. Mas isso precisa passar por
discussões.

Folha - A senhora fala em seu plano de gestão em "prioridade máxima"
à graduação. Como será isso na prática?

Vilela - É investir numa formação que seja permanente. Não é possível
dar conteúdos programáticos para os próximos dez anos, a sociedade de
hoje se transforma constantemente. Que tipo de profissional sobrevive
nesse tipo de sociedade? É aquele que possui uma formação científica
muito forte. Por isso, queremos valorizar a iniciação científica,
porque vai dar uma formação crítica, abrangente, reflexiva. Não é
preciso dar inúmeros conteúdos, porque isso vai se modificar
rapidamente. Quando você tem um aluno que formula hipóteses, que
busca respostas, ele se diferencia. Não se pode especializar um
aluno muito cedo. A minha opinião é que quanto mais você especializa
o indivíduo, menor será a chance de ele sobreviver no mercado. Ele
não saberá se moldar à realidade.

Folha - A USP acabou de criar a USP Leste. Outros campi serão
construídos?

Vilela - Não estou pensando em uma nova USP ainda. Bom, até já
pensei, mas, hoje, iniciando na reitoria, temos de consolidar a
USP Leste, o que é um grande desafio. São 1.020 novas vagas a cada
ano, isso exige muitos recursos. Expandimos de 6.800 vagas [no
vestibular] para quase 10 mil, agora precisamos consolidar esse
processo. Temos inúmeros compromissos [financeiros], inclusive no
campus 2 de São Carlos.

Folha - Haverá mudança no financiamento da universidade? Há a
possibilidade, por exemplo, de criar uma taxa para o aluno?

Vilela - Defendo o modelo atual, em que os alunos não pagam
mensalidade. Mas é importante que a universidade busque recursos
extra-orçamentários. Quero avançar na relação da USP com as empresas,
na transferência de tecnologia. Isso pode gerar recursos adicionais.

Folha - Nos próximos quatro anos, certamente haverá greves na
universidade. O que a senhora pensa sobre esse mecanismo?

Vilela - Em situações delicadas como a de uma greve, você precisa
manter o diálogo com os diferentes segmentos. E mostrar qual a
realidade financeira. A minha idéia é criar um grupo permanente que
vai pensar esse relacionamento, e não deixar apenas para o período
próximo à época em que devemos tratar a questão salarial.

Folha - O mecanismo de greve é correto na sua opinião?

Vilela - Obviamente que para o reitor esse não é o mecanismo mais
adequado, mas é legítimo, e você tem de conviver com ele. O
importante é respeitar os limites.

Folha - A senhora já participou de greves?

Vilela - Sim, de uma. Foi em 1981, quando estava iniciando a carreira.
Fora isso, sempre procurei estar nas minhas atividades. Nunca fui
envolvida em nenhum movimento, nem no centro acadêmico. Não fui
atuante politicamente nessa questão.

Folha - Haverá modificação na avaliação dentro da universidade?

Vilela - Seria muito importante a universidade trabalhar a avaliação
interna, principalmente na graduação. Hoje, temos apenas alguns
indicadores. Os estudantes respondem a um pequeno questionário, com
dez perguntas sobre docentes, alunos e infra-estrutura. Acho que
precisamos ampliar isso. Podemos buscar a avaliação por pares, os
professores avaliando os professores.

Folha - A avaliação por pares irá gerar briga entre os professores...

Vilela - Sim. Mas melhorar a qualidade de ensino passa necessariamente
por um bom sistema de avaliação. E todas as avaliações são polêmicas.

Folha - Essa avaliação traria quais resultados? Pode influenciar na
remuneração dos professores?

Vilela - Entendemos que a avaliação é um instrumento de
aperfeiçoamento e de definição de políticas, não de punição. Isso
precisa ficar muito claro. A avaliação faz parte de um projeto de
planejamento. E a idéia não é avaliar o indivíduo, mas o conjunto,
o departamento. Isso permite que cada docente siga a sua vocação.
Há docente que é excelente pesquisador, outro é excelente professor.

Folha - O que a senhora acha do Enade [exame do governo federal, que
substituiu o provão]?

Vilela - Ele é apenas um indicador, avalia somente o desempenho do
aluno. Avaliação precisa ter um conjunto de indicadores, senão pode
haver equívocos. A USP não participou dos dois anos do Enade porque
ainda não conseguiu fazer a sua própria avaliação desse processo.

Folha - Pode vir a participar?

Vilela - Estamos fazendo reuniões para tomar uma decisão.

Folha - Como a senhora avalia as políticas educacionais da gestão do
presidente Lula?

ilela - Olha, prefiro não responder sobre isso.

Folha - O que a senhora acha da crise no governo federal?

Vilela - É lamentável o que o país está passando, com todo esse
constrangimento, essa suspeita de corrupção. Suspeita porque ainda
precisa ser provada.

Folha - A senhora é filiada a algum partido?

Vilela - Não e nunca fui.

Folha - No ano que vem, há eleição para governador, ao qual a USP está subordinada. Qual partido a senhora acha que seria o melhor para a
universidade?

Vilela - Precisamos ter bons governantes, éticos. É disso que o país
precisa, independentemente de qual partido sejam.

Folha - Sobre a questão de a senhora ser a primeira reitora da USP,
a senhora já sentiu discriminação na universidade?

Vilela - Não sinto isso. Mas vejo que a mulher tem sempre de provar
um pouco mais que ela tem valor. É uma dificuldade não na
universidade, mas na sociedade.

Folha - A senhora é vaidosa?

Vilela - [Rindo] Mulher é vaidosa. Os homens também são, mas
escondem. Mas, sim, sou vaidosa. Mesmo porque os cargos que ocupei
e ocupo exigem que eu tenha uma presença pessoal, exigem que eu seja
vaidosa. Não posso vir aqui despenteada. Ser mulher é duro, viu? Se
está mal-arrumada, todos comentam. Se é vaidosa, dizem que é fútil.

Folha - A senhora já falou em entrevista que gosta de filmes como
"Uma Linda Mulher", "Titanic", livros de auto-ajuda...

Vilela - [Rindo]É, recebi muitas críticas aqui por isso.

Folha - Como a senhora reagiu?

Vilela - Tenho meu lado pessoal. E cada um tem as suas preferências,
respeito aqueles que não têm as mesmas que as minhas.

Folha - A senhora é divorciada?

Vilela - Sou.

Folha - Tem namorado?

Vilela - Isso não vou responder. É muito pessoal.

Fonte: Folha de SP, 12/12

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Prof. Luiz Carlos Dias
Editor do Boletim Eletrônico
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