SBQ - BIÊNIO (2002/2004) BOLETIM ELETRÔNICO No. 372


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PARABÉNS A SOCIEDADE BRASILEIRA DE QUÍMICA PELOS SEUS 25 ANOS.

Veja nesta edição:
  1. Prêmio Fritz Feigl de 2003
  2. Curso Tecnologia da Cristalização
  3. Curso sobre águas subterrâneas
  4. Concurso público no Centro Federal de Educação Tecnológica de Química de Nilópolis
  5. O crescimento da produção científica, artigo de Paulo Renato Souza
  6. Lei da Inovação, finalmente enviada ao Congresso Nacional, vai tramitar em regime de urgência
  7. Países pobres, cobaias da ciência
  8. PT quer a tão sonhada autonomia universitária


1. Prêmio Fritz Feigl de 2003

Conselho Regional de Química 4ª Região (SP/MS) aprovou as regras para a edição 2003 dos prêmios Fritz Feigl e CRQ-IV, que juntos distribuirão R$ 60 mil livres de impostos. As inscrições estarão abertas de 06 de janeiro a 31 de março de 2003. A data das premiações ainda não foi definida, mas em princípio será na semana em que se comemora o Dia Nacional do Químico, em 18 de junho. As inscrições são gratuitas.

O prêmio Fritz Feigl de 2003 será disputado por profissionais da química que atuam nas áreas de ensino e/ou pesquisa. Diferentemente do que ocorreu até este ano, os candidatos não precisarão mais ser indicados por entidades cadastradas no CRQ-IV. A mudança foi realizada para ampliar as possibilidades de participação, uma vez que nem todos os profissionais que reúnem condições de disputar o prêmio estão vinculados a essas entidades. A partir de agora, portanto, basta que o interessado preencha os requisitos previstos no regulamento - entre eles, estar registrado no CRQ-IV há pelo menos cinco anos e estar em dia com suas obrigações - e apresente sua ficha de inscrição.

O ganhador receberá R$ 30 mil livres de impostos, um diploma e uma medalha.

Não houve modificações em relação ao Prêmio CRQ-IV, criado para estimular a pesquisa entre os estudantes de cursos profissionalizantes da área da química de nível médio e superior. Podem participar estudantes matriculados em qualquer curso de graduação da área. Também serão aceitos trabalhos (abordando qualquer tema ligado à área da química) feitos em grupo, mas neste caso o prêmio de R$ 5 mil livres de impostos por categoria deverá ser dividido entre seus integrantes.

Os trabalhos concorrentes ao Prêmio CRQ-IV deverão obrigatoriamente ser orientados por um professor ou por um profissional da química que desenvolva ou tenha desenvolvido atividades na área relacionada com o assunto do trabalho apresentado. O orientador (professor ou profissional) deve estar registrado e em dia com suas obrigações no CRQ-IV.

Além dos R$ 5 mil destinados ao trabalho vencedor de cada uma das quatro categorias (Química de Nível Médio, Química de Nível Superior, Química de Nível Superior com Tecnologia e Engenharia da Área da Química), o orientador de cada trabalho receberá a importância líquida de R$ 2,5 mil.

Os regulamentos e as fichas de inscrição podem ser obtidos a partir da página http://www.crq4.org.br/informativo/outubro_2002/pagina03.html do site do Conselho ou solicitados, a partir de 30 de novembro, à Secretaria da entidade, localizada na rua Oscar Freire, 2.039, telefone (0xx11) 3061-6000, de segunda a sexta-feira, das 9h30 às 15h.

Fonte: Carlos de Souza - Assessor de Comunicação
Conselho Regional de Química 4ª Região




2. Curso Tecnologia da Cristalização

Será realizado no IPT de 04 a 06 de dezembro o curso Tecnologia da Cristalização que tem por objetivo oferecer conceitos básicos para a prática da cristalização e precipitação na indústria, visandoa melhoria do produto e do processo produtivo.

O público alvo são os profissionais de nível superior que atuam na área de processos, operação e controle da qualidade em cristalização e precipitação industriais.

Programa do curso

Maiores detalhes favor consultar o endereço abaixo:

http://www.ipt.br/ensino/cursos/?ID=3

Fonte: Joao Guilherme Rocha Poco
IPT-Instituto de Pesquisas Tecnologicas do Estado de Sao Paulo




3. Curso sobre águas subterrâneas

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA
DEPARTAMENTO DE QUÍMICA
MESTRADO EM QUÍMICA DOS RECURSOS NATURAIS

Prof. Dr. Ramon Aravena
University of Waterloo/Canadá

De 09 a 13 de dezembro de 2002
Departamento de Química da UEL
Inscrições (R$ 100,00) até 03/12/2002

Maiores informações através do telefone (43) 3371-4366 ou através dos e-mails mjyabe@uel.br, lobo@uel.br e deptqui@uel.br

Profa. Dra. Maria Josefa Santos Yabe
Profa. Dra. Ilza Lobo
Coordenadoras




4. Concurso público no Centro Federal de Educação Tecnológica de Química de Nilópolis

Concurso público destinado ao provimento de cargos de Professor do Quadro Permanente do Centro Federal de Educação Tecnológica de Química de Nilópolis

Acham-se abertas, no período de 5 a 14 de Novembro de 2002 (9 às 20h) as inscrições para o concurso público para professores do Centro Federal de Educação Tecnológica de Nilópolis. Será oferecida uma (1) vaga para cada área de atuação descrita no quadro abaixo:

ÁREAS DE ATUAÇÃO: Técnicas de análises biológicas; bioquímica aplicada; biologia celular aplicada; imunologia aplicada e parasitologia.
FORMAÇÃO: Graduação Superior em Ciências Biológicas, Farmácia ou áreas afins.

ÁREAS DE ATUAÇÃO: Controle microbiológico de alimentos: Microbiologia básica; Bacteriologia; controle microbiológico de alimentos e de produtos farmacêuticos; Bacteriologia Ambiental e Bacteriologia Clínica.
FORMAÇÃO: Graduação, em Ciências Biológicas, Veterinária ou Farmácia.

ÁREAS DE ATUAÇÃO: Processamento de alimentos: processamento vegetal; processamento animal; métodos especiais de conservação, higiene e sanitização; gestão de qualidade.
FORMAÇÃO: Graduação em Química Industrial, Licenciatura ou Bacharelado em Química, Engenharia Química, Engenharia de Alimentos ou Nutrição.

ÁREAS DE ATUAÇÃO: Ecologia de água doce e Limnologia; análise e monitoramento de comunidades aquáticas; análises biológicas de efluentes.
FORMAÇÃO: Graduação em Ciências Biológicas.

ÁREAS DE ATUAÇÃO: Microbiologia de água, solo e ar; legislação ambiental relativa a análises microbiológicas de água, solo e ar; análise microbiológica de lodo ativado e efluentes.
FORMAÇÃO: Graduação em Ciências Biológicas ou em Microbiologia

ÁREAS DE ATUAÇÃO: Química Orgânica .
FORMAÇÃO: Licenciatura ou Bacharelado em Química, Graduação em Química Industrial ou Engenharia Química, Graduação em Farmácia

ÁREAS DE ATUAÇÃO: Análises Químicas Qualitativa e Quantitativa.
FORMAÇÃO: Licenciatura ou Bacharelado em Química, Graduação em Química Industrial ou Engenharia Química

ÁREAS DE ATUAÇÃO: Análise Química Instrumental.
FORMAÇÃO: Licenciatura ou Bacharelado em Química, Graduação em Química Industrial ou Engenharia Química

ÁREAS DE ATUAÇÃO: Processos Químicos Industriais Orgânicos e Inorgânicos; Operações Unitárias na indústria Química; Instrumentação Industrial.
FORMAÇÃO: Graduação em Química Industrial ou Engenharia Química

ÁREAS DE ATUAÇÃO: Metrologia Química; Normalização e Qualidade; Cálculo da Incerteza.
FORMAÇÃO: Licenciatura ou Bacharelado em Química, Graduação em Química Industrial ou Engenharia Química

ÁREAS DE ATUAÇÃO: Informática:Hardware, Redes de Computadores, Programação, Banco de Dados, Aplicativos Office, Aplicativos Gráficos, Internet.
FORMAÇÃO: Licenciatura plena ou graduação na área de Informática ou graduação em área tecnológica afim.

Maiores informações acessar a home page www.cefeteq.br

Fonte: Profa. Rosângela B. Silva




5. O crescimento da produção científica, artigo de Paulo Renato Souza

O acompanhamento da pós-graduação indica que esse sistema, além de se manter em expansão, eleva sua qualidade

A evolução da produção científica brasileira tem sido objeto de muitas análises e debates.

Cientistas de diferentes áreas acompanham com interesse o aumento da produção de nossos pesquisadores e da sua participação relativa na produção científica mundial.

Conclusões e argumentos diversos são divulgados, quase sempre ilustrados por dados de múltiplas fontes.

Esse interesse vem sendo, em grande parte, estimulado e viabilizado por uma importante iniciativa da Capes e do Ministério da Educação: o Portal de Periódicos.

A Capes adquire das editoras internacionais o direito de consulta e 'download' gratuitos do conteúdo de milhares de periódicos e de bases de referências bibliográficas, e viabiliza o acesso, via internet, para os membros das instituições de ensino superior e de pesquisa.

Tal iniciativa permite a superação de um dos maiores obstáculos enfrentados pelos pesquisadores de qualquer país: o acesso rápido à produção científica e tecnológica mundial devidamente atualizada.

São 13 bases referenciais e mais de 3 mil periódicos científicos publicados a partir de 95. O número de beneficiários é, atualmente, de cerca de 1 milhão de professores e alunos de graduação e pós-graduação.

O total anual de acessos cresce continuamente: em 2001 foram mais de 3 milhões; em 2002, a média mensal é de mais de 500 mil.

Além disso, o portal é um importante instrumento de superação de desigualdades regionais. O mesmo acervo disponibilizado para uma tradicional instituição do Sudeste o é também para todas as demais instituições que dele participam.

O portal introduziu uma mudança na cultura acadêmica, alterando a relação de pesquisadores com as editoras das principais revistas internacionais, dando maior visibilidade à produção científica brasileira, cuja participação mundial é cada vez maior.

Considerando que não existe consenso internacional sobre como medir e avaliar a produção intelectual e acadêmica, é fundamental que, nas análises efetuadas, sejam explicitados o conceito de produção científica nacional, quais os itens de produção nela incluídos e a fonte de dados adotada.

Para demonstrar, por exemplo, o estágio de nossa produção científica em relação à produção mundial, ótima fonte é a publicação 'National Science Indicators' (NSI), do Institute for Scientific Information (ISI).

No cálculo desses indicadores, o instituto inclui apenas 'articles, notes, reviews e proceedings papers' de periódicos por ele indexados segundo critérios rigorosos, consagrados no meio científico internacional.

Tais indicadores, cujo uso fica imune a eventuais acusações de manipulação por agência governamental brasileira, comprovam o aumento de nossa produção científica e da participação desta na produção mundial.

Os dados evidenciam que, nas duas últimas décadas, nossa capacidade científica cresceu ano a ano, a um ritmo cada vez mais intenso.

Necessitamos de dez anos para duplicar a capacidade de produção científica que tínhamos em 81; alcançamos o triplo dessa produção cinco anos depois, em 95; o quádruplo em 98; o quíntuplo em 2001; o sêxtuplo, muito provavelmente, será superado em 2002.

O aumento da capacidade nacional de geração de ciência ganha relevo quando o comparamos ao crescimento da produção científica mundial.

A produção brasileira em 91 foi 106% superior a sua produção em 81; a mundial, 30%. Em 2001, a brasileira foi 167% superior à de 1991; a mundial, 27%.

Na última década, mais do que duplicamos nossa participação na produção científica mundial, tendo sido esse crescimento sempre contínuo de 94 a 2001. Aliás, nesse período, a produção brasileira cresceu 117%; a mundial, 15%; e a nossa participação nesta, 88%.

O ranking da participação dos países na produção científica mundial, dos indicadores ISI/NSI, destaca outro fato significativo: a elevação da posição do Brasil.

Em 81, ocupávamos a 26ª posição; em 91, a 22ª; e em 2001 já ocupávamos a 18ª posição.

Estamos à frente de muitos países com longa tradição educacional e de pesquisa, como Bélgica, Áustria e Finlândia.

Na América Latina, o segundo país a figurar no ranking é o México, em 27º lugar, com metade de nossa produção.

Na base desse aumento da capacidade científica do Brasil está o desenvolvimento da pós-graduação nacional. Nossa competência na formação de mestres e doutores vem aumentando em ritmo crescente.

Dois indicadores - número de cursos e de titulados por ano - demonstram o crescimento, com destaque para o aumento da formação de doutores: 1.370% em 20 anos - uma evidência do aumento da maturidade do sistema.

Todos os demais indicadores mostram também altos índices de crescimento ou de melhoria de desempenho.

Sobre as perspectivas da produção científica brasileira nos próximos anos, os indicadores são alvissareiros: o acompanhamento anual da pós-graduação indica que esse sistema, além de se manter em forte expansão, eleva sua qualidade.

O desenvolvimento da pós-graduação pressupõe, para a sustentação do processo de formação de mestres e doutores, o desenvolvimento da pesquisa científica e, ao mesmo tempo, é fator de desenvolvimento desta, uma vez que são os programas desse nível de ensino os principais responsáveis, no Brasil, pela geração do conhecimento científico e tecnológico.

Se mantido o apoio à pós-graduação e aos programas de fomento da Capes, é possível prever o aumento, em ritmo cada vez mais intenso, da produção científica nacional.

Nota do Editor: Paulo Renato Souza, economista, é ministro da Educação. Foi reitor da Unicamp (86-90) e secretário da Educação do Estado de SP (governo Franco Montoro).
Artigo publicado na Folha de SP, 6/11




6. Lei da Inovação, finalmente enviada ao Congresso Nacional, vai tramitar em regime de urgência

O projeto de Lei da Inovação tramitará em regime de urgência no Congresso. A proposta será analisada por comissão mista, de deputados e senadores, o que deve agilizar a sua votação

A mensagem, assinada pelo presidente FHC em agosto, foi enviada nesta terça-feira ao Congresso pela Casa Civil.

Elaborado pelo MCT, após ser submetido a consulta pública, o projeto tem como principal objetivo flexibilizar as relações entre pesquisadores, Institutos de Pesquisa e empresas privadas no desenvolvimento de novas tecnologias para produtos, processos e serviços.

Serão estabelecidas medidas de incentivo à pesquisa; mudanças na gestão das instituições científicas e ações de estímulo à criação das Empresas de Base Tecnológica (as chamadas EBTs).

A íntegra do projeto pode ser lida no site do MCT: http://www.mct.gov.br

Fonte: Dados da Assessoria de Comunicação social do MCT




7. Países pobres, cobaias da ciência

Muitos laboratórios farmacêuticos escolhem populações carentes para a realização de testes científicos. Porém, elas quase nunca são beneficiadas com os resultados finais

Rodrigo Caetano, editor-chefe da Assessoria de Comunicação da Agência UnB, escreve:

'Se você quiser saber
como eu me sinto
Vá a um laboratório,
a um labirinto.
Nós as cobaias de Deus'
Cazuza, em As cobaias de Deus

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939 -1945), o ditador alemão Adolf Hitler ordenou estudos cruéis com prisioneiros gays, judeus, mulheres e crianças. O médico Joseph Menguele, por exemplo, fez testes aplicando corantes químicos em olhos de presos na tentativa de mudar suas cores.

Hoje, depois de uma série de regulamentações como o Código de Nuremberg e a Declaração de Helsinque (a bíblia com regras para as pesquisas com seres humanos), a realidade mudou.

Mas ainda há muitos casos em que as populações mais pobres do mundo são utilizadas como cobaias humanas para experimentos científicos feitos por empresas de países desenvolvidos.

O tema Poder e Injustiça na Pesquisa com os seres humanos encerrou o Sexto Congresso Mundial de Bioética, realizado até a manhã do dia 3 de novembro no Americel Hall, em Brasília.

Dirceu Greco, professor de Infectologia da UFMG, enumerou, de início, quais palavras estão relacionadas aos conceitos de Poder e Injustiça.

Para a primeira, citou: dinheiro, ganância, cidadania, decisão e independência e para a segunda: analfabetismo, corrupção, vulnerabilidade, dependência e obediência.

Com isso, Greco - que representou o Brasil em alguns debates sobre alterações na Declaração de Helsinque (código elaborado em 1964 para regulamentar procedimentos de pesquisas com humanos feita pela Associação Médica Mundial e revisado em 75, 83, 89 e, finalmente, em outubro de 2000 em Edimburgo) - mostrou que o atual 'campo de concentração' ou experimentação está situado abaixo da linha imaginária que divide o mundo em hemisférios.

A Aids é o caso mais latente. Surgem diariamente 16 mil casos, sendo que 90% do total ocorrem nos países pobres. Nessas nações é que os laboratórios multinacionais recrutam candidatos para testes com medicações que futuramente serão vendidas a preços caríssimos.

Assim, as fontes de estudo serão usadas e, depois, não terão acesso ao resultado. 'Hoje, as discussões não estão relacionadas à ética, mas sim à economia', critica Greco.

E, enquanto isso, ressalta o professor da UFMG, os tratamentos para as doenças graves desses países em desenvolvimento como leishmaniose e malária são deixados de lado.

Dos cerca de seis bilhões de habitantes no mundo, entre 25% e 50% do total não têm acesso às condições de saneamento básico e 30% não possuem água potável.

Greco reforçou a importância de lutar contra as 'ordens que vêm de cima'. Ele lembrou do caso do Brasil que, em 96, passou a distribuir gratuitamente o coquetel anti-Aids para os portadores do HIV.

Os países mais ricos pregavam para os mais pobres apenas a prevenção dizendo que o alto preço do tratamento não compensava tais investimentos.

Em 2001, o Brasil gastou US$ 300 milhões para atender a 120 mil pessoas com os remédios para a Aids. Estudos apontam que o país teve uma economia de mais de 50% caso não tivesse adotado essa postura. 'Temos de reduzir a nossa vulnerabilidade com decisões políticas', diz Greco.

O governo brasileiro se manifestou contra as propostas de alterações na Declaração de Helsinque. Uma delas, proposta por cientistas de países desenvolvidos, principalmente dos EUA, queria alterar o trecho que garante às cobaias o 'melhor método comprovado' de tratamento para a expressão 'melhor método disponível'.

Na prática, isso liberaria oficialmente as pesquisas com placebo em regiões pobres. 'A Declaração de Helsinque deve ser a ponta de lança para melhorar o acesso aos cuidados de saúde, mas provendo todos dos benefícios das pesquisas', declara o infectologista.

Alexander Capron, professor de Direito da University of Southern Califórnia, EUA, aplaudiu e elogiou o colega brasileiro. Ele também condenou as enormes atrocidades já ocorridas em nome de pesquisas científicas além de estudos feitos em prisões, orfanatos e hospitais carentes.

Para ele, o Código de Nuremberg - primeiro documento resultante do julgamento dos crimes contra a humanidade e dos abusos cometidos contra os prisioneiros nos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial - teve pouco resultado prático nas duas primeiras décadas de funcionamento.

'Muitas pesquisas são feitas por meio das brechas deixadas pela Declaração de Helsinque. Os países mais ricos desviam as leis e dão desculpas depois para se justificarem', condenou Capron.

Ele sugere que sejam colocados limites para atrair a população mais carente no recrutamento de voluntários para os estudos. 'As pessoas só deviam participar se depois pudessem receber o benefício da pesquisa em troca', completa.

O vice-diretor da organização de defesa do consumidor Public Citizen Health Research Group, Peter Lurie, voltou ao tema Aids para dar alguns exemplos que devem servir de lição para todos.

Um deles foi uma série de pesquisas realizadas com mulheres grávidas e portadoras do HIV na África.

Os médicos trabalharam com a medicação AZT e placebo. Resultado: parte das mulheres que tomou AZT evitou que os filhos nascessem portadores de doença. As outras, que usaram placebo, deram à luz filhos com o vírus. O estudo provocou muita polêmica e gerou várias discussões.

Lurie abordou também o que chamou de falácia da urgência: 'É quando os laboratórios usam a desculpa da rapidez em combater uma doença, mas no fundo querem burlar normas técnicas que diminuem o tempo dos experimentos'. Assim, essas empresas gastarão menos dinheiro e terão os resultados em menos tempo. É a corrida contra o sucesso da concorrência.
Fonte: UnB Agência, 3/11
JC e-mail 2156, de 06 de Novembro de 2002




8. PT quer a tão sonhada autonomia universitária

Proposta é o primeiro compromisso do novo governo com a educação superior. Especialista ressalva: é preciso lembrar que não haverá liberdade total

Ismália Afonso, editora de Produção da Assessoria de Comunicação da UnB Agência, escreve:

A partir de janeiro, a independência administrativa das Universidades parece estar mais próxima. A autonomia universitária é o primeiro dos sete compromissos básicos para a educação superior apresentados no Plano Nacional de Educação (PNE).

'Esse processo deve ser bem entendido, porque ninguém vai dar autonomia total para os reitores fazerem o que bem entenderem', ressalva Benício Schmidt, professor de sociologia da Universidade de Brasília (UnB).

Ele lembra também que é preciso deixar claro que não haverá aumento de recursos: 'Se a proposta for realmente colocada em prática haverá mais liberdade, mas os recursos serão os mesmos.'

Segundo o vice-reitor da UnB, Timothy Mulholland, se as Universidades tivessem autonomia sobre o orçamento que lhes é direcionado, estariam bem à frente em termos de modernidade.

'Os governos, todos eles, insistem em tratar as instituições de ensino superior como uma delegacia regional de uma repartição pública', critica.

O programa apresentado pelo PT afirma ainda que a transformação do ensino superior deverá estar associada às políticas de C&T, de expansão e melhoria da educação básica e ao projeto nacional de desenvolvimento.

'É um erro supor que as Universidades não estejam bem ajustadas à sociedade em que estão inseridas. Fazemos muito com os poucos recursos que temos', analisa Schimidt.

Para ele, o modelo atual de gestão pública fará com que a Universidade não consiga sobreviver à competição do setor privado pela falta de agilidade nos processos.

Competição das instituições particulares é outro ponto contemplado no programa de Luís Inácio Lula da Silva. Dados do próprio documento revelam que, entre 94 e 2000, as matrículas no ensino superior privado cresceram 112%, enquanto nas públicas apenas 36%.

Uma das propostas apresentadas no plano é ampliar, em médio prazo, 40% do total de vagas do ensino superior público universitário, prevendo inclusive a parceria da União com Estados na criação de novos estabelecimentos de educação superior.

O Brasil tem hoje apenas 7,7% de jovens na faixa etária de 18 a 24 anos matriculados no ensino superior. O índice é um dos mais baixos da América Latina. Até o fim da década, segundo meta do PNE, esses números deverão progredir para os 30%.

De acordo com o vice-presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância, Marcos Formiga, a meta é perfeitamente possível.

'Há uma alta demanda reprimida de pessoas que não ingressaram no ensino superior por falta de vagas, pelo elevado custo do ensino ou mesmo por incompatibilidade de horários', diz.

O caminho mais eficaz para isso, segundo Formiga, é a educação a distância. Mas seria necessário que as Universidades mudassem a mentalidade conservadora. 'Incentivar a educação a distância não significa abrir mão da qualidade do ensino', alerta.

Outra forma proposta é criar mecanismos que superem o atual processo de seleção e considerem também formas especiais para negros e estudantes de escolas públicas.

Para Mauro Moura, diretor acadêmico do Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe) da UnB, órgão responsável pelos vestibulares, é necessário criar condições de igualdade de concorrência para todos os estudantes.

'O foco deve estar na preparação dos alunos e não no processo', afirma. O critério, segundo Moura, deve continuar sendo meritocrático.

Por outro lado, existem os que apóiam e até se antecipam a essa proposta. O professor de Antropologia da UnB, José Jorge de Carvalho, tem grandes expectativas em relação à medida.

'Há convergência de sugestão do novo governo com o que vem sendo discutido dentro da Universidade sobre a criação de cotas especiais para negros. Isso nos coloca na vanguarda', considera.

Segundo ele, a UnB pode se tornar a primeira Universidade federal brasileira a adotar o sistema de ingresso especial.

No que diz respeito à inserção dos estudantes, Carvalho acredita que as instituições não podem se restringir a criar cursos de nivelamentos para os alunos.

'A proposta de ações afirmativas tem de ser completa e abarcar programas de cotas, bolsas universitárias, alojamento e cursos de nivelamento', avalia.

Fonte: UnB Agência, 1/11
JC e-mail 2155, de 05 de Novembro de 2002



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