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RESENHA: The Lost Elements - The Periodic Table Shadow Side

Roberto B. Faria
Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro
faria@iq.ufrj.br

Foi com grande prazer que li e reli diversas partes do livro de Fontani, Costa e Orna, intitulado The Lost Elements - The Periodic Table Shadow Side1. Este livro já foi objeto de uma resenha no Journal of Chemical Education2, e foi desta forma que tomei conhecimento da sua existência. A resenha feita por Kovac ressalta inúmeros aspectos importantes da obra, mas é muito pouco para a grande dimensão deste livro de 531 páginas. O livro de Fontani, Costa e Orna é um monumento ao espírito científico, mostrando uma grande quantidade de idas e vindas na descoberta dos elementos químicos. Sua organização em sete grandes capítulos obedece à uma sequência cronológica que começa antes de 1789 e vai até a síntese mais recente dos elementos artificiais 113, 114, 115. 116 e 118. Conforme os autores informam nos agradecimentos, foram mais de doze anos de trabalho para chegar à sua publicação. E o resultado é impressionante. Trata-se de um levantamento minucioso, repleto de referências aos trabalhos originais, onde pode-se observar a pequenez da dimensão humana frente aos desafios da natureza. Neste livro podemos constatar a grande quantidade de anos e vidas perdidas na busca de elementos químicos inexistentes ou impossíveis de serem isolados ou identificados pelas técnicas disponíveis na época. É absolutamente impressionante a lista de dez páginas, ao final do livro, listando as falsas descobertas de elementos químicos, todas devidamente referenciadas. Além das descrições dos trabalhos realizados, são também apresentadas muitas disputas referentes à prioridade nas descobertas, e a atribuição dos nomes dos elementos, onde pode-se observar a preocupação de afirmação pessoal e patriótica de muitos dos atores dessa busca incessante. Quem não gostaria de ter seu nome e o do seu país ou cidade associado a um elemento químico? Mas, e como se comportar no caso da descoberta não ser aceita pela comunidade científica? São dramas, muitos dramas relatados pelos autores deste livro. Muitos desses relacionados com os conceitos equivocados que os pesquisadores tinham da natureza da matéria, do átomo, da química e da física. Como é de se esperar, muitos enveredaram pelos falsos caminhos e somente com o avanço de conceitos cruciais, como da própria definição de elemento químico e de isótopo, é que se pôde entender o que estava ocorrendo.

Se por um lado é desejável dar uma pequena amostra do que será encontrado neste livro, por outro lado, não se deve dizer muito para não tirar o prazer da surpresa guardada nos seus capítulos. Além de alguns aspectos já descritos por Kovac2 na sua resenha, não posso me furtar a comentar sobre a grande quantidade de relatos associados ao isolamento dos elementos terras raras. Pelo fato de terem um comportamento químico muito semelhante, apesar de trabalhos que somaram mais de dez mil recristalizações, em certos casos, o objetivo não foi atingido. Há também o caso de propostas de elementos mais leves que o hidrogênio, feita até por Mendeleiev, e que encontrou adeptos que propuseram, mais tarde, elementos sem carga, como o neutronium, de símbolo Nn, e o neutrino, dentre eles ninguém menos que Louis de Broglie. A presença destes "elementos" na Tabela Periódica foi considerada até data recente, como pode ser observado na proposta de Ternstrom, de 19643. São também dignos de nota os eventos relacionados com o americano Fred Allison que inventou o método magneto-óptico pelo qual evidenciou a existência dos elementos virginium, Vi, (atualmente frâncio, 87Fr) e alabamine, Ab, (atualmente ástato, 85At), batizados em homenagem à sua terra natal (estado de Virgínia nos Estados Unidos) e à universidade onde os seus trabalhos foram desenvolvidos (Alabama Polytechnic Institute). Os símbolos dos elementos químicos Vi e Ab constaram de diversas tabelas periódicas até "recentemente", como pode ser observado na Tabela Periódica do Simthsonian - The National Museum of American History, datada de 1963.4 O método magneto-óptico de Allison foi posteriormente desacreditado e pelo fato dos isótopos mais estáveis dos elementos At e Fr terem meia-vida muito curta, imagina-se que apenas uns poucos miligramas desses elementos existam na crosta terrestre, tornando impossível o seu isolamento e identificação pelos métodos empregados por Fred Allison. 

Histórias como estas, apresentadas com uma grande riqueza de detalhes e referências, são o conteúdo deste livro que considero, assim, obrigatório para aqueles que se interessam pela história da química, mas não somente estes. Entendo que todo aquele envolvido com pesquisa e também com o ensino da química em todos os níveis, não pode deixar de se deleitar e surpreender com o conteúdo deste magnífico livro, que nos alerta, de maneira contundente, para sermos humildes diante dos segredos da natureza. 

Referências

1. Fontani, M.; Costa, M.; Orna, M. V.; The Lost Elements - The Periodic Table Shadow Side, Oxford University Press: Oxford, 2016.
2. Kovac, J.; J. Chem. Educ. 201693, 990.
3. Ternstrom, T.; J. Chem. Educ. 196441, 190.
4. http://americanhistory.si.edu/collections/search/object/nmah_1470 (acessada em 27/12/2017)