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Infraestruturas de pesquisa dos Brics se complementam, avalia secretário

As grandes infraestruturas de pesquisa de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul têm características complementares. Os cinco países possuem, por exemplo, aceleradores de partículas, mas nem todos dispõem de telescópios de longo alcance ou instalações nucleares de alto nível. Pensando nisso, as cinco nações que formam o grupo Brics decidiram compartilhar suas infraestruturas de pesquisa. 

"Nós percebemos que os países se complementam em muitas coisas, porque cada infraestrutura tem uma particularidade", explica o secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTIC, Alvaro Prata. 

"Uma coisa muito singular é que o Brasil possui o Observatório de Torre Alta da Amazônia [Atto] e a Rússia, o Observatório de Torre Alta Zotino [Zotto], na Sibéria, dois lugares críticos e estratégicos para estudar mudanças climáticas e a interação entre atmosfera e floresta. Outra questão é que os cinco países têm aceleradores de partículas, mas cada um tem a sua característica. E nós não temos, por exemplo, telescópios de longo alcance como o Salt [Grande Telescópio Sul-Africano], tampouco instalações nucleares do nível das russas." 

O grupo de trabalho responsável pela plataforma de compartilhamento dos laboratórios se reuniu em março no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP), depois de um primeiro encontro multilateral em Dubna, cidade russa a 125 quilômetros de Moscou, em maio de 2017.

No CNPEM, a Rússia sugeriu franquear acesso a oito infraestruturas: o colisor de hádrons Nica (Nuclotron-based Ion Collider Facility); o complexo Nevod (Neutrino Water Detector on the Earth's Surface); a fábrica de física nuclear Super Charm-Tau, o Instituto Kurchatov, especializado em energia nuclear; o Síncrotron Siberiano e Centro de Radiação Terahertz; a Rede de Física de Neutrino; e dois consórcios científicos, de big data e ciências da vida. 

Já a África do Sul se propôs a disponibilizar o Centro de Computação de Alto Desempenho (CHPC), o Centro de Microscopia Eletrônica de Transmissão de Alta Resolução (CHRTEM), o Grande Telescópio Sul-Africano (Salt), o Laboratório iThemba para Ciências Baseadas em Aceleradores, o radiotelescópio MeerKAT e a Rede Nacional de Pesquisa Sul-Africana (Sanren). 

A Índia não especificou que laboratórios planeja compartilhar, mas apresentou as áreas de suas principais infraestruturas: aceleradores de partículas, agricultura e pecuária de precisão, astronomia e astrofísica, bioinformática, desenvolvimento de software, nanociência e sequenciamento de genomas. 

O Brasil ofereceu acesso à fonte de luz síncroton Sirius, que, quando estiver pronta, em Campinas, será a maior e mais complexa infraestrutura científica já erguida no país; o Navio de Pesquisa Hidroceanográfico Vital de Oliveira; o Laboratório de Integração e Testes do Inpe (LIT), em São José dos Campos (SP); o Observatório de Torre Alta da Amazônia (Atto), em São Sebastião do Uatumã (AM); e o supercomputador Santos Dumont, em Petrópolis (RJ). 

Segundo Prata, mesmo quando a plataforma de compartilhamento estiver concluída, haverá flexibilidade para incluir ou suprimir laboratórios. "Não é uma lista definitiva", adianta. "O que é definitivo é essa intenção dos cinco países de compartilhar grandes infraestruturas. E grandes infraestruturas são certamente de tamanho e recursos elevados, sempre complexas e singulares, para não dizer únicas."

O encontro multilateral abriu a possibilidade de beneficiar com recursos do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), popularmente conhecido como banco dos Brics, os países que compartilharem suas infraestruturas, a fim de aperfeiçoar as instalações de pesquisa. 

As decisões do grupo de trabalho devem ser referendadas no 6º Encontro Ministerial de Ciência, Tecnologia e Inovação do Fórum de Diálogo dos Brics, em julho, na África do Sul. Sedes das duas primeiras reuniões, Brasil e Rússia lideram o subgrupo responsável pela construção da plataforma online. De acordo com Prata, o portal vai facilitar o acesso da academia e da indústria dos cinco países às infraestruturas, além de dar visibilidade à iniciativa. A África do Sul assumiu a responsabilidade de formular um plano estratégico até 28 de março, com detalhes em torno dos métodos de compartilhamento.

Fonte: ASCOM/MCTIC