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Cortes na CT&I aniquilam soluções para a crise, afirma presidente da ABIPTI

As nações que adotam políticas efetivas de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) costumam investir entre 2% e 4% do Produto Interno Bruto (PIB) nessas áreas. Não é o caso do Brasil, que jamais chegou perto de 2%, tendo ficado em torno de 1% ou um pouco mais. Contudo, a situação tem regredido nos últimos anos, especialmente depois dos cortes consecutivos no setor, que neste ano já representam mais de 44% do orçamento voltado para a CT&I.

Na análise do presidente da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica e Inovação (ABIPTI), Júlio C. Felix, o Brasil vive hoje um momento de muita preocupação em toda a comunidade científica e tecnológica. Exemplos citados por ele são o fechamento, por falta de recursos, da Fundação de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (Cientec) e da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec).

"Hoje, não são empenhados esforços para melhorar as boas práticas de gestão nas organizações de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Ao contrário, elas vêm sendo fortemente tolhidas, em todos os aspectos. O descaso do Estado tira o sangue que supre esse paciente em situação quase terminal. Em vez de equacionar serenamente o grave problema, está-se aniquilando as possíveis soluções", avaliou Felix. 

De acordo com o presidente da ABIPTI, o maior problema da CT&I atualmente não está só na falta de recursos, mas na falta de compreensão da importância do setor por parte dos órgãos que deveriam apoiá-lo. "Sem conhecimento, não há como desenvolver o país, em bases sustentáveis", advertiu. 

Soluções

Devido a situação do setor, Felix apontou a urgência em buscar soluções. Uma delas é utilizar o poder de compra do Estado para ajudar a alavancar a ciência e tecnologia no país, a exemplo do Ministério da Saúde (MS), que usou esse mecanismo para desenvolver medicamentos biológicos inovadores a um custo menor para a saúde pública. 

Os institutos e centros de pesquisa, na visão de Júlio Felix, também são importantes, especialmente no momento em que apresentam novas formas de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação - como a Internet das Coisas (IoT, da sigla em inglês), Indústria 4.0, Agricultura 4.0, Startups, Fab. Labs, Inovação Aberta, Pesquisa Cooperativa e outras. 

"Os institutos e centros de pesquisa nesse cenário desempenhariam um papel crucial entre as atividades de pesquisa científica nas universidades e as novas demandas do setor produtivo. No entanto, o estado falimentar em que se encontram não permite que esse papel seja exercido a contento, inclusive no que diz respeito à cooperação internacional, onde estamos perdendo boas chances de desenvolvimento de tecnologias que interessam estrategicamente ao país", comentou o presidente da ABIPTI. 

Outra saída para a área da ciência, tecnologia e inovação é utilizar recursos que não sejam do orçamento, mas que está sempre suscetível a cortes. Um exemplo são os fundos setoriais de CT&I, como o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). "Diante de um cenário instável, o único caminho para amenizar a situação é o uso dos fundos. Entretanto, eles também viraram uma peça orçamentária. Ou seja, uma peça de ficção. Assim, o problema está na falta de previsibilidade, não somente de indisponibilidade de recursos."

O sistema bancário, por sua vez não têm uma estratégia de atuar no contexto da pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação. Segundo Felix, os que o fazem atuam como agentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mas não com o dinamismo que a economia do país poderia esperar. "É imprescindível no financiamento à PD&I que aos recursos públicos se somem os instrumentos privados de crédito, incluindo os fundos de riscos", aconselhou.

Fonte: Agência ABIPTI