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Audiência pública debate a fuga de capital humano da ciência

Os motivos para a fuga de capital humano do Brasil, ação conhecida como "fuga de cérebros", foram tema de audiência pública da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) no dia 25/10/2017. Participantes do debate apontaram que a falta de investimentos e a burocracia na aprovação de projetos científicos resultam na fuga de cérebros para outros países e impedem o desenvolvimento do Brasil. 

Presidida pelo Senador Cristovam Buarque (PPS-DF), a audiência teve como convidados presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Mario Neto Borges; Denise Neddermeyer, assessora da presidência da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMPRAPII), Roberto Nicolsky, diretor-presidente da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (PROTEC); e Tadao Takahashi, Diretor-Geral do Projeto I-2030.

A expressão "fuga de cérebros" refere-se à emigração de profissionais qualificados em busca de melhores condições em outros países. O corte drástico no orçamento da ciência, tecnologia e inovação, a partir de 2016, contribuiu para essa evasão, segundo o presidente do CNPq. 

Quando há recursos, de acordo com Mário, o brasileiro se destaca no campo científico. Ele citou como exemplo o reconhecimento da professora Celina Turchi, da Fiocruz de Pernambuco, como uma das dez personalidades da ciência mundial listadas pela revista britânica Nature, pelo seu trabalho sobre o vírus zika e a microcefalia.

"O Brasil foi capaz de equacionar o problema do vírus da zika com apenas dois anos de pesquisa e investimento em cima disso. Nós somos bons, no Brasil, em futebol e ciência. Só que futebol não precisa de dinheiro, agora, ciência precisa", disse o presidente da CNPq.

O senador Cristovam, que pediu a realização da audiência, lamentou que o governo não priorize a Ciência para manter profissionais no país.

"A Alfândega não deixa sair pedras preciosas, mas deixa sair cérebros de cientistas e, é óbvio, que a gente não vai impedir com força. A gente tem que pensar o que está acontecendo para que eles estejam indo embora e fazer com que eles queiram ficar aqui", afirmou.

Para Mario Neto Borges, é importante reforçar que há uma diferença entre mobilidade do pesquisador e internacionalização da ciência brasileira e a fuga de cérebros. "A mobilidade é importante. Mas precisamos prevenir a fuga de cérebros", afirmou. 

Além disso, o presidente do CNPq apontou outra questão importante: "Não é só em quantidade que estamos perdendo, mas a qualidade. É o nosso ouro que está indo", lamentou.

Segundo Tadao Takahashi, a injustiça social é a segunda causa de emigração de cientistas. "Na verdade, o problema do cientista, ou do engenheiro, ou do médico que quer sair, não é só de carreira. É o entorno social no qual ele vive e que vai ficando intolerável e vai fazendo com que ele comece a pensar que exista algum lugar melhor onde ele pode conciliar a vida pessoal com a vida profissional", disse.

Takahashi apresentou, ainda, dados que mostram como os países mais desenvolvidos estão quanto à perda de capital humano. Segundo ele, a perda do Brasil é moderada, em comparação a outros países, mas a diferença é que o país não ganha. Ele citou países como Alemanha e Grã-Bretanha, que também tem alguma saída de pessoas altamente capacitadas, mas, em compensação, recebe muitos profissionais de alto nível para atuar em suas instituições.

No entanto, apesar de um cenário negativo de saída de nomes de ponta, Takahashi alerta que o ideal não é tomar iniciativas de intervenção, mas de prevenção. "A intervenção é ineficaz", pondera. "O importante é que, ficando no Brasil ou indo para o exterior, o profissional se mantenha integrado ao Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia", completou.

A descontinuidade das pesquisas por conta de troca de governo foi criticada pelo senador Omar Aziz (PSD-AM), presente na audiência. ¿Nós não podemos mudar uma meta estabelecida para 20-30 anos. O problema é que muda governo, muda política. Não dá para se mudar de política conforme a cabeça do governante de plantão¿, disse.

Aziz ainda apresentou uma proposta que seria destinar 1% dos 4% que as indústrias precisam destinar a programas de pesquisa e desenvolvimento, para ser direcionado diretamente nas universidades. "Sem conhecimento não há desenvolvimento", sentenciou. 

Cristovam Buarque afirmou ainda que vai requerer uma discussão aprofundada do tema no Plenário do Senado.

Ciência sem Fronteiras

Questionados sobre o programa Ciência sem Fronteiras, os senadores e convidados apresentaram os pontos positivos e negativos. 

Omar Aziz usou o programa para exemplificar a necessidade de reflexão na reivindicação por um orçamento maior. "Porque não adianta discutirmos a falta de recursos, se, quando tem, é mal investido", apontou, afirmando que os investimentos no Ciência sem Fronteiras teve pouco resultado diante do montante investido.

Em relação a essa crítica, Denise Neddermeyer, na época do programa, diretora da CAPES, uma das executoras da ação, ponderou que a ação teve, também, muitos pontos positivos. "Foi uma oportunidade única para muitos estudantes", afirmou. "Conseguimos expor no exterior muito do que temos de bom no campo da ciência, os estudantes não deixaram a desejar. Temos muito que aprender com essa experiência", disse.

Para ela, é o caso de pensar como melhorar, conscientes de que investimento em educação não é imediato. "Veremos o resultado daqui uns anos", concluiu. 

Já Cristovam Buarque admitiu que foi muito entusiasta do programa, mas mudou de opinião ao perceber que o programa trabalhou mais como escada social do que alavanca para o desenvolvimento científico, que é o papel da ciência. 

Mario Neto Borges ponderou que o programa foi criado com tempo de duração e teve méritos, mas, também, teve equívocos fundamentais que precisam ser corrigidos. Segundo o presidente do CNPq, um dos erros foi estabelecer uma meta numérica. Para ele, ciência e tecnologia precisa ser pelo mérito e não pela quantidade. "Das qualidades do programa, estamos restabelecendo dois programas, o Bolsa Jovem Talentos (BJT), junto com a Embrapii, e o programa pesquisador visitante especial, que trouxe grandes nomes da ciência mundial", informou. 

Fonte: Coordenação de Comunicação do CNPq, com informações da Agência Senado 

Fotos: Geraldo Magela/Agência Senado