Menu principal

Falabella Sousa-Aguiar, um 'embaixador' da catálise brasileira confirma conferência na 39ª. RASBQ

Engenheiro químico detém 13 patentes e migrou da catálise do petróleo para os biocombustíveis

 

Ele foi criado na Ilha do Governador quando era saudável ir à praia na Baía de Guanabara e possível ver cavalos marinhos nos rochedos. Nem faz tanto tempo, e as lembranças marcaram a fase de sua vida em que soube que queria compreender os mistérios da natureza. O professor Eduardo Falabella de Sousa-Aguiar (UFRJ), um 'embaixador' da catálise no Brasil é um dos conferencistas confirmados para a 39ª. Reunião Anual da SBQ, que será realizada de 30 de maio a 2 de junho de 2016, em Goiânia. Seu tema é "Biorrefinarias", e seu objetivo é "a busca da pedra filosofal da Ciência, que é a melhoria do ser humano como tal."

Falabella Sousa-Aguiar é engenheiro químico e trabalhou por mais de 30 anos no Cenpes (Centro de Pesquisas da Petrobras) como pesquisador e consultor sênior. Atualmente é professor titular da Escola de Química da UFRJ. Da catálise do petróleo migrou para a catálise de química verde e hoje se interessa pela produção de biocombustíveis a partir de diversas fontes, como palha, bagaço e rejeitos orgânicos. "Quando digo que sou engenheiro químico especializado em catálise, as pessoas fogem de mim", conta. 

Ele venceu sete vezes o Prêmio Inventor da Petrobras, e tem uma série de distinções, como os prêmios internacionais James Y. Oldshue, do American Institute of Chemical Engineers, e o FISOCAT, da Sociedad Iberoamericana de Sociedades de Catálisis. Além disso, detém 13 patentes. 

Conhecido pelos alunos pela simpatia e carisma em classe, por declamar poemas e ir sempre além da matéria do livro, Souza-Aguiar conta que foi uma criança instigada a conhecer. "Fui uma criança que buscava o saber, mas de uma forma lúdica. Hoje me considero totalmente bem-sucedido porque faço o que eu sempre quis", diz o professor. 

Seu pai e sua mãe eram professores universitários, ele arquiteto, ela filósofa, professora de Letras. Quando criança conviveu com os intelectuais amigos de seus pais e chegou a conhecer Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir, de quem sua mãe foi intérprete durante visita ao Rio de Janeiro. Fora dos laboratórios, sua paixão pela Ciência também se manifesta: Falabella Sousa-Aguiar já organizou peças de teatro para popularizar a Química, e escreve poemas e contos, tendo recebido o primeiro lugar no Concurso Nacional de Contos por seu conto "O Festim". Dedica-se, atualmente, a finalizar seu primeiro romance, intitulado "A casa da rua Esperança". 

O professor Eduardo Falabella de Sousa-Aguiar concedeu esta entrevista ao Boletim da SBQ: 

Você trabalhou por muito tempo na catálise do petróleo e hoje pesquisa biocombustíveis. Por favor fale sobre este caminho, as transformações que você viveu na química, e a importância da catálise fora do petróleo. 
Creio que minha trajetória profissional acompanhou mudanças observadas no mundo científico e da indústria química em geral. Quando comecei minha carreira, no início dos anos 70, a petroquímica brasileira estava no seu auge, com a inauguração do pólo de Camaçari, na Bahia. Os alunos de graduação em Engenharia Química, por exemplo, já saíam da universidade contratados por empresas tradicionais e emergentes. 

Seguindo essa tendência, fiz um mestrado e um doutorado em Catálise para a Petroquímica, entrando, a seguir, no CENPES/Petrobras. Entrei através de um concurso para contratar especialistas em Catálise para o novo empreendimento da Petrobras, a Fábrica Carioca de Catalisadores (FCCSA). Costumo dizer que a FCCSA foi um divisor de águas na minha carreira. Era um pesquisador de laboratório e, com a FCCSA, aprendi a importância da pesquisa direcionada para o Mercado. Entenda-se bem, uma pesquisa direcionada para o Mercado não quer obrigatoriamente dizer uma pesquisa direcionada pelo Mercado. Através da FCCSA tive a oportunidade (e a alegria) de ver uma rota sair do laboratório e alcançar a produção industrial. Tal fato representa uma realização que dificilmente pode ser descrita com palavras e que poucos profissionais têm a oportunidade de ter em sua vida. 

No entanto, há que se dizer uma verdade. Embora a área de catalisadores de craqueamento enfrente desafios quase diários, demandando muita pesquisa, tal não ocorre com todas as áreas da Petroquímica. A Petroquímica é, sem dúvida, uma indústria madura, havendo nela menos desafios em termos de P&D. 

Por outro lado, a partir dos anos 90, começa a aparecer uma vertente de enorme importância no mundo, a Química Verde. Essa Química, também denominada Química Sustentável, baseia-se em 12 Princípios. Entre eles, destacam-se o 7 (Uso de matérias primas renováveis) e o 9 (Catálise), havendo, também, uma enorme necessidade de P&D para que rotas alternativas pudessem ser desenvolvidas. Por essa razão, muitos catalíticos que possuíam uma visão mais sustentável da Química migraram para a área de conversão catalítica de biomassa. Eu segui essa tendência, muito auxiliado pela Petrobras, que também comprou tal ideia e fundou a Petrobras Biocombustíveis. Trabalhar com Biorrefino foi uma consequência feliz de minha decisão e do apoio do CENPES, onde trabalhava. 

Você recebeu diversos prêmios ligados à catálise. Como avalia as oportunidades e desafios da catálise para os próximos anos?
Tenho encarado minha vida profissional como a de um embaixador da Catálise Brasileira. De fato, fui pioneiro em muitos eventos internacionais, e nos prêmios que você acaba de mencionar. Sou um apaixonado pela Catálise e por meu país. Prevejo um futuro cada vez mais brilhante para aqueles que se dedicam à Catálise e aos processos catalíticos. Afinal, os catalisadores são a base da maioria dos processos industriais. Ademais, com o advento da Química Verde e, sobretudo, da conversão de biomassa, abrem-se novas perspectivas para os profissionais da área. 

Quais as características de um pesquisador de sucesso? 
Essa é, sem dúvida, uma pergunta difícil. Eu diria que um pesquisador deve estudar sempre, não lhe é permitido ter preguiça. Também deve ter curiosidade e estar atento aos sinais da modernidade. O bom pesquisador é um ouvidor, que colhe informações de todas as partes. O bom pesquisador deve ser generoso, acatar a opinião do próximo e "trocar". A visão equivocada de que um pesquisador é um ser solitário, trancado em seu laboratório, deve ser abandonada. Finalmente, o grande pesquisador deve ser ético. Uso aqui essa palavra (ética) com a visão nietscheana que ela traz. A Ética é a ciência do "assim é porque assim o quero", ao contrário da moral, que é transcendental. O pesquisador não pode ser refém de interesses escusos, sejam eles por parte do Governo ou das empresas. 

Como estimular os jovens para o estudo das ciências, e da Química? 
Infelizmente, a difícil situação do país nos últimos anos afasta os jovens da pesquisa. Pesquisa é paixão (e dedicação). Pesquisadores dificilmente serão ricos. Mas nada paga a lágrima fortuita, o orgulho que estufa o peito, a alegria indescritível do resultado inesperado. Pesquisa é paixão, repito, e ponto. 

O que espera da 39ª. RASBQ? 
A verdade tem que ser dita: a indústria química do Brasil passa por uma crise nunca dantes vista. Embora o país esteja muito mal em vários aspectos, a indústria química está ainda pior. O futuro é sombrio, se as coisas continuarem como estão. A 39ª. RASBQ é um excelente fórum para discutir o futuro da Química do Brasil nesse momento trágico que vivemos, representando uma oportunidade rara de apresentarem-se potenciais soluções para a Química nacional. Esse não é o momento de se "tampar o sol com a peneira". Precisamos nos reunir e defender, da melhor maneira possível, a Química no Brasil. A 39a. RASBQ é o momento e o lugar certo para isso. 

Artigos Recomendados

“Some important catalytic challenges in the bioethanol integrated biorefinery”, E. F. Sousa-Aguiar, L. G. Appel, P. C. Zonetti, A. C. Fraga, A. A. Bicudo, I. Fonseca,  Catalysis Today20141, 1. 

“The role of rare earth elements in zeolites and cracking catalysts”, E. F. Sousa-Aguiar, F. E. Trigueiro, F. M. Z. Zotin, Catalysis Today2013218, 115-122. 

“Methane steam reforming in a microchannel reactor for GTL intensification: A computational fluid dynamics simulation study”, G. Arzamendi, P. M. Diéguez, M. Montes, J. A. Odriozola, E. F. Sousa-Aguiar, L. M. Gandía, Chemical Engineering,2009154, 168-173. 

“Catalytic Gas-to-Liquid Processing Using Cobalt Nanoparticles Dispersed in Imidazolium Ionic Liquids”, D. O. Silva, J. D. Scholten, M. A. Gelesky, S. R. Teixeira, A. C. B. Dos Santos, E. F. Sousa-Aguiar, J. Dupont, ChemSusChem20081, 291-294.

“A detailed study of the activity and deactivation of zeolites in hybrid Co/SiO2-zeolite Fischer-Tropsch catalysts”, M. Agustín , J. Rollan, M. A. Arribas, A. F. Costa, H. S. Cerqueira, E. F. Sousa-Aguiar, Journal of Catalysis2007249, 162-173. 

“Role of Acid Properties on One-Step DME Synthesis Over Catalysts Physical Mixtures”, E. F.Sousa-Aguiar, F. S. Ramos, A. M. D. Farias, L. E. P. Borges, M. A. Fraga, J. L. F. Monteiro, L. G. Appel, Catalysis Today2005101, 39-44.

 

A 39ª Reunião Anual da SBQ será no Centro de Convenções de Goiânia, de 30 de maio a 2 de junho de 2016. 

Curta a página da RASBQ e acompanhe as novidades do evento! Convide também seus amigos. Juntos, faremos uma grande reunião anual!

 

Texto: Mario Henrique Viana, assessor de imprensa da SBQ

Link da notícia