Menu principal

Prof. Luiz Carlos Dias irá fazer a Conferência de Abertura na 38ª RA

"Estou muito feliz e agradecido por ter sido agraciado com este convite. A Reunião Anual é extremamente importante para o desenvolvimento da Química no Brasil. Participo sempre, desde minha época de graduação na UFSC, quando o evento era realizado em conjunto com a SBPC, e sempre fico tocado com a grande participação de estudantes, professores e pesquisadores."

Contra a vontade do pai, e apesar do professor de química, tornou-se referência em química orgânica sintética, incluindo recentes contribuições na síntese de compostos para tratamento de doenças como Mal de Chagas, Malária e doenças negligenciadas.

Há quem acredite no destino, e quem creia no acaso. De uma forma ou de outra o Prof. Dr. Luiz Carlos Dias trilhou seu caminho para ser um dos mais importantes químicos brasileiros, com importantes contribuições na síntese total de moléculas com atividade biológica, que o credenciaram a colaborar no tema de doenças negligenciadas.

Não era bem o sonho de seu pai, que preferia ver o filho – talentoso com a bola nos pés – brilhar nos gramados brasileiros, de preferência no Clube de Regatas Vasco da Gama, time de coração dos Dias há pelo menos três gerações. Também não foi graças ao professor do ensino médio – um curso noturno com ênfase em administração – que não era exatamente conhecido pela sua empolgação em sala de aula. Na sua família não havia cientistas, mas havia professores. E na sua cidade, na época, não havia escola com segundo grau.

Luiz Dias morava em Balneário Camboriú, uma cidade turística do litoral catarinense, trabalhava de dia como desenhista de projetos arquitetônicos, elétricos e hidráulicos em uma empresa de construção civil e cuidava de completar o segundo grau na vizinha Itajaí, quando veio o vestibular e ele optou por... Química.

Se a torcida do Vasco lamentou a improvável decisão, muitos outros a comemoram até hoje. Talvez as 350 milhões de pessoas atualmente sob risco da Leishmaniose, e as populações de países em desenvolvimento que sofrem com as chamadas doenças negligenciadas, como Malária, Mal de Chagas e outras Tripanossomíases, vivam dias melhores graças à persistência e ao trabalho do dedicado pai de Luana, Luiza e Luma.

Hoje, boa parte de suas horas são dedicadas a investigar possíveis novos tratamentos para estas doenças que não são atendidas pelas grandes indústrias farmacêuticas. Seu Laboratório de Química Orgânica Sintética (LQOS) no IQ-Unicamp, firmou, em março do ano passado, um acordo de cooperação inédito na América Latina, com dois braços da Organização Mundial da Saúde, com foco nessas doenças: a Drugs for Neglected Diseases initiative (DNDi, http://www.dndi.org/) e Medicines for Malaria Venture (MMV, http://www.mmv.org/). O LQOS já havia sido reconhecido pela Organização Mundial da Saúde, em 2008, como Centro de Referência Mundial de Química Medicinal e Síntese Orgânica para a preparação de compostos a serem utilizados no tratamento da Doença de Chagas.

"Grandes farmacêuticas preparam compostos e testam para doenças que eles têm interesse. Se não encontram utilidade repassam esses compostos – alguns com patente, outros, não – para que as entidades como a DNDi e a MMV possam testá-los para doenças negligenciadas. Quando elas encontram utilidade, entram em contato conosco para melhorarmos as propriedades destes compostos e produzi-los em larga escala", explica o professor. Sua equipe trabalha então para melhorar parâmetros como potência, solubilidade, toxicidade, parâmetros físico-químicos e outros, a chamada "otimização de líderes". "Quando chegamos a um composto 'ótimo', este está pronto para testes in vivo." A ideia é buscar novas entidades químicas que possam vir a se tornar medicamentos inéditos na luta contra estas doenças.

Nos últimos anos, com o auxílio de laboratórios como o de Luiz Dias, a DNDi e MMV levaram alguns novos tratamentos para populações extremamente carentes (Veja no quadro empresas e entidades envolvidas na parceria do LQOS com a MMV e DNDi).

Para embarcar nestes ousados projetos sobre doenças negligenciadas, o grupo do Prof. Dias percorreu um árduo caminho na área de Química Orgânica Sintética. A pesquisa nesta área pode ser dividida em dois grandes blocos: síntese total e metodologia. O grupo do Prof. Luiz Carlos Dias é um dos poucos que atua em ambas as frentes com grande qualidade, sendo que em muitos casos há sinergia entre a metodologia e a aplicação em um produto natural.

Cabe destacar que a síntese total de produtos naturais com atividade biológica é uma das mais importantes e competitivas áreas em química (veja por exemplo, http://pubs.acs.org/doi/abs/10.1021/ja8028813). Devido às dificuldades, poucos grupos – no Brasil, conta-se nos dedos de uma mão – se aventuram no desenvolvimento de rotas para moléculas complexas, como as realizadas no grupo do Prof. Dias (veja imagem com estruturas). Na área de metodologia, destaca-se as contribuições em reações aldólicas assimétricas, que são sem dúvida um dos mais importantes métodos para a formação de ligações carbono-carbono.

Professor Livre-Docente da Unicamp desde 1999 e Professor Titular desde 2009, ele é formado pela UFSC, doutor pela Unicamp e pós-doutor por Harvard em Síntese Orgânica. Participa de conselhos editoriais de periódicos como o "Organic & Biomolecular Chemistry" e "Chemical Society Reviews". Tem dezenas de prêmios e distinções, como um artigo recentemente publicado como matéria de capa do Journal of Medicinal Chemistry, da American Chemical Society. É autor/co-autor de 92 publicações, com 1750 citações e fator H 21, 2 patentes e mais de 120 trabalhos em congressos – vários deles premiados. Ministrou 133 conferências em congressos nacionais e internacionais e em universidades no Brasil e em países como Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Bélgica, Espanha, Portugal, África do Sul, Argentina, Uruguai, Porto Rico e México. Orientou 35 alunos de pós-graduação (22 de mestrado e 13 de doutorado), 28 alunos de IC e 13 pós-docs. Com este histórico, tornou-se pesquisador 1A do CNPq.

O Prof. Dr. Luiz Carlos Dias fará a conferência de abertura da 38ª. RASBQ, em maio de 2015, em Águas de Lindóia-SP. Ele conversou esta semana com o Boletim da SBQ.

SBQ: Como se sente escalado para a conferência de abertura da 38ª. RASBQ?
LCD: Estou muito feliz e agradecido por ter sido agraciado com este convite. A Reunião Anual é extremamente importante para o desenvolvimento da Química no Brasil. Participo sempre, desde minha época de graduação na UFSC, quando o evento era realizado em conjunto com a SBPC, e sempre fico tocado com a grande participação de estudantes, professores e pesquisadores. Os encontros regionais também são muito importantes.

Quais os desafios e oportunidades da Química no Brasil?
A burocracia é algo que atrapalha a pesquisa no Brasil. Atrapalha muito! Um exemplo é na importação de reagentes. Quando eu trabalhei em Harvard e precisava de um reagente, bastava um telefonema e no dia seguinte estava lá. Aqui no Brasil ainda é um problema sério, apesar de alguns avanços. Às vezes demora um mês ou mais para conseguirmos um reagente.

Temos uma qualidade do trabalho muito boa, pessoas de alto nível, competitivas em âmbito internacional, cada vez mais e melhores publicações. A pós-graduação em Química é uma das mais consolidadas no Brasil, embora ainda tenhamos enormes desafios, principalmente no que diz respeito a diminuir as assimetrias com relação às regiões norte e centro-oeste . Creio que precisamos mesmo vencer a burocracia, entre outras ações importantes, para levar nossas universidades para um nível internacional de fato.

Outro desafio é a formação de químicos. Precisamos formar mais – e com qualidade – químicos para todas as esferas. Para dar aula no ensino médio e nas universidades, para a pesquisa acadêmica e para a indústria.

Uma oportunidade muito grande é a nossa biodiversidade. A maior parte dos fármacos tem influência da química dos produtos naturais, e temos ainda uma diversidade muito grande a ser explorada. Avançamos em marcos regulatórios e temos grupos de pesquisa atuantes.

Qual o papel do Químico da solução das grandes questões globais?
Penso que quem vai solucionar as questões globais serão pessoas em trabalho colaborativo. Os químicos podem continuar a dar grandes contribuições para melhorar a qualidade de vida, mas é preciso união, esforço entre várias especialidades da Ciência.

Para saber mais sobre o Prof. Luiz Dias:
http://lattes.cnpq.br/2941335797138677

Artigos sugeridos para conhecer o trabalho do Prof. Luiz Carlos Dias:

"Synthesis, Biological Evaluation, and Structure-Activity Relationships of Potent Noncovalent and Nonpeptidic Cruzain Inhibitors as Anti- Trypanosoma cruzi Agents", R.S. Ferreira, M.A. Dessoy, I. Pauli, M.L. Souza, R. Krogh, A.I.L. Sales, G. Oliva, L.C. Dias, A.D. Andricopulo, Journal of Medicinal Chemistry 2014, 57, 2380-2392 (artigo capa da revista).

"The Role of beta-Bulky Substituents in Aldol Reactions of Boron Enolates of Methylketones with Aldehydes: Experimental and Theoretical Studies by DFT Analysis" , L.C. Dias, E.C. Lucca Jr., M.A.B. Ferreira, D.C. Garcia, C.F. Tormena, Journal of Organic Chemistry 2012, 77, 1765-1788.

"1,5-Asymmetric induction in boron-mediated aldol reactions of oxygenated methyl ketones", L.C. Dias, A.M. Aguilar, Chemical Society Reviews 2008, 37, 451-469 (artigo capa interna da revista).

"Total synthesis of (-)-goniotrionin", L.C. Dias, M.A.B. Ferreira, Journal of Organic Chemistry 2012, 77, 4046-4062.

"Total Synthesis of Pteridic Acids A and B", L.C. Dias, A.G. Salles Jr., Journal of Organic Chemistry 2009, 74, 5584-5589.

A 38ª Reunião Anual da SBQ será no Hotel Monte Real, Águas de Lindóia, SP de segunda, 25/maio/2015 a quinta, 28/maio/2015.

Curta a página da 38ª RA e acompanhe as novidades do evento! Convide também seus amigos. Juntos faremos uma grande reunião anual!

Texto: Mario Henrique Viana (Assessoria de Imprensa da SBQ)

A parceria LQOS do IQ-Unicamp com MMV e DNDi

A parceria envolve colaborações fantásticas em nível internacional com: Grandes indústrias farmacêuticas: Pfizer, Novartis, AstraZeneca, Abbvie, Glaxo Smith Kline.

CROs: Wuxi Apptec (China), Syngene (India).

Institutos de pesquisas: Laboratory of Microbiology, Parasitology and Hygiene, da Universidade de Antuérpia, na Bélgica), Swiss Tropical and Public Healthy Institute, na Suíça, Sandexis Molecular Design e Biomedical Primate Research Centre, ambos no Reino Unido.

Instituições acadêmicas e de pesquisas: Drug Discovery Unit da Universidade de Dundee, na Austrália, o Imperial College de Londres, o Laboratory of Medicinal Chemistry and Drug Design (IF UUP São Carlos, coordenado pelo Prof. Adriano D. Andricopulo), a Monash University (Austrália) e a University of California at San Diego, nos Estados Unidos.